Cientistas, representantes de entidades ambientais e parlamentares reuniram-se na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para debater alternativas de conservação do Cerrado
Fotos: Willian Dias
Presença das comunidades tradicionais e fortalecimento dos órgãos ambientais foram caminhos apontados pelos cientistas
Da redação da Rede Hoje
Cientistas, representantes de entidades ambientais e parlamentares reuniram-se na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para debater alternativas de conservação do Cerrado. O encontro foi promovido nesta segunda-feira (2/12/24) pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e contou com a apresentação de dados e propostas para proteger o bioma exclusivo do Brasil.
O presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Mauro Pires, destacou uma redução expressiva no desmatamento do Cerrado, atribuída à implementação do Código Florestal, ações de preservação e engajamento social. Ele ressaltou ainda a relevância dos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, mas reconheceu a necessidade de ampliação das áreas de conservação, especialmente em Minas Gerais.
Pires enfatizou a importância da colaboração entre União e estados para a preservação e sugeriu o uso de áreas degradadas para expandir a agricultura sem novos desmatamentos. Segundo ele, essa estratégia permitiria equilíbrio entre desenvolvimento econômico e proteção ambiental.
“Não precisa mais destruir para continuar fazendo o que a gente está fazendo”, declarou a coordenadora da Rede Cerrado, Maria de Lourdes Nascimento
A coordenadora da Rede Cerrado, Maria de Lourdes Nascimento, reforçou que é possível aliar tecnologia e sustentabilidade. “Não precisa mais destruir para continuar fazendo o que a gente está fazendo. A tecnologia está aí para nos ajudar”, disse. Entre as alternativas apresentadas, ela citou o uso de gás carbônico como energia e o incentivo à agroecologia.
Rômulo Barbosa, professor da Universidade Estadual de Montes Claros, trouxe a experiência do assentamento Tapera, onde cerca de 40 famílias geraizeiras preservam o Cerrado há quase 40 anos. Ele destacou que a regulamentação fundiária é essencial para fortalecer o papel das comunidades tradicionais na conservação ambiental.
Simone Oliveira, da Comissão Pastoral da Terra, lamentou os conflitos enfrentados pelos povos tradicionais em relação à posse da terra e da água. Ela pediu políticas públicas inclusivas para promover o protagonismo dessas comunidades na preservação do Cerrado.
O diretor-geral do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Breno Esteves Lasmar, apresentou iniciativas como o programa “Minas contra o Desmatamento” e orientações para que municípios desenvolvam planos de conservação. Ele explicou que o IEF também promove práticas de desenvolvimento econômico sustentável aliadas à proteção ambiental.
“Estamos na luta. O Cerrado não vai virar pó”, disse o sindicalista Francisco Silva Júnior
Apesar dos avanços, Francisco de Assis da Silva Júnior, do Sindicato dos Servidores Públicos do Meio Ambiente em Minas Gerais (Sindsema), alertou para a gravidade da devastação no bioma, com um hectare de Cerrado sendo desmatado a cada dez minutos. Ele criticou a falta de concursos públicos e a transferência da gestão de combate a queimadas do IEF para os militares.
A deputada Beatriz Cerqueira (PT) apresentou o Projeto de Lei 4.004/22, que propõe a criação de uma Política Estadual de Proteção e Desenvolvimento Sustentável do Cerrado. Ela sugeriu a formação de um grupo de trabalho para aprofundar o estudo sobre a preservação do bioma.
Para a deputada Leninha (PT), 1ª vice-presidente da ALMG, o debate foi um momento crucial para ouvir as comunidades tradicionais e fiscalizar as ações do governo. “Nós temos o papel de fiscalizar e dialogar”, afirmou, destacando a importância de continuar lutando pela preservação do Cerrado.