O ex-padre Bernardino Batista dos Santos, hoje com 77 anos, é acusado de cometer violência sexual por décadas - entre 1975 e 2016 - contra crianças e adolescentes durante seu tempo como pároco em Tiros, aqui no Alto Paranaíba, na região, e na capital, Belo Horizonte. 

Fotos: Guilherme Bergamini

Abusos do ex-padre contra crianças e adolescentes teriam começado a partir de 1975 e o último que se tem notícia foi em 2016

Da redação da Rede Hoje

Mulheres que afirmam ter sido vítimas do ex-padre Bernardino Batista dos Santos participaram de uma audiência pública na sexta-feira (6/12), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), para exigir justiça pelos abusos que marcaram suas vidas. A audiência foi organizada pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher e reuniu relatos emocionantes de vítimas e especialistas que acompanham o caso.

O ex-padre, hoje com 77 anos, foi preso preventivamente em outubro, mas foi solto em novembro e cumpre prisão domiciliar com monitoramento eletrônico. Ele é acusado de cometer violência sexual contra crianças e adolescentes durante seu tempo como pároco em Belo Horizonte e em Tiros, no Alto Paranaíba. Os crimes denunciados teriam ocorrido entre 1975 e 2016.

A investigação ganhou força em 2023, após a denúncia de um abuso cometido contra uma menina de quatro anos em 2016. Desde então, mais de 60 mulheres apresentaram relatos de abusos sofridos por Bernardino. A advogada Ana Carolina Campos, que representa as vítimas, afirma que muitas dessas denúncias já haviam sido feitas à Arquidiocese de Belo Horizonte no passado, mas sem nenhuma ação efetiva.

Durante os 30 anos em que liderou a Paróquia Nossa Senhora Medianeira e Santa Luzia, no bairro Paraíso, em Belo Horizonte, Bernardino teria se aproveitado de sua posição religiosa para conquistar a confiança das famílias. Aline Moreira, uma das vítimas, descreveu como o ex-padre se inseria nas rotinas das famílias. “Ele era visto como um santo. Almoçava com as famílias e se tornava uma figura de confiança, o que tornava os abusos ainda mais traumáticos”, disse.

Outro relato marcante foi o de Marcia Gonçalves, que revelou ter sido abusada quando tinha apenas nove anos. Segundo ela, Bernardino criava um ambiente de total controle e medo, aproveitando-se do respeito e da autoridade que sua posição de sacerdote lhe conferia. “Ele manipulava as pessoas ao seu redor e usava a fé como escudo para seus atos”, afirmou.

Fernanda Azevedo, hoje engenheira ambiental, contou como os abusos destruíram sua infância. “Eu tinha nove anos e não conseguia entender por que ele, que era meu padrinho de batismo, fazia aquilo comigo. Foi uma dor que me acompanhou por muito tempo”, relatou, emocionada.

As vítimas também denunciaram a falta de ação da Igreja Católica. Ana Carolina Campos criticou a arquidiocese, que foi convidada para a audiência, mas não enviou representantes. Segundo ela, a instituição falhou em proteger as crianças e não tomou medidas diante das denúncias recebidas ao longo dos anos.

Vítimas do ex-padre Bernardino Batista dos Santos participaram de uma audiência pública na sexta-feira (6/12), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG)

Outro ponto debatido na audiência foi a prescrição de crimes sexuais contra menores, que impede a responsabilização de Bernardino em muitos casos. A delegada Danúbia Soares, responsável pela investigação, defendeu mudanças na legislação. “Crimes dessa natureza deixam marcas que duram uma vida inteira. É inadmissível que a lei permita a impunidade devido ao tempo transcorrido”, afirmou.

Apesar das dificuldades, as vítimas destacaram a importância de se unirem em busca de justiça. Carolina Rocha de Freitas, advogada e uma das sobreviventes, afirmou que o apoio mútuo tem sido fundamental. “É uma forma de enfrentarmos o trauma e mostrarmos que ele não terá mais poder sobre nós”, disse.

Aline Moreira compartilhou como os abusos impactaram sua vida adulta. “Demorei anos para confiar nas pessoas. Mesmo hoje, as memórias ainda são dolorosas. Mas estou aqui para garantir que ele não machuque mais ninguém”, declarou.

A deputada Bella Gonçalves (Psol), que liderou a audiência, elogiou a coragem das mulheres em denunciar. “Cada relato aqui representa uma vitória contra o silêncio que protege agressores. Nós vamos acompanhar de perto para garantir que a justiça seja feita”, afirmou.

Especialistas presentes na audiência destacaram a importância de oferecer suporte psicológico às vítimas. Segundo a psicóloga Juliana Ramos, o trauma causado por abusos na infância pode levar a sérios transtornos emocionais e de saúde mental.

Ao final da audiência, as vítimas fizeram um apelo para que outras mulheres também denunciem. “O silêncio não é mais uma opção. Estamos juntas para apoiar quem ainda tem medo de falar”, afirmou Ana Carolina Campos.

O caso do ex-padre Bernardino Batista dos Santos é mais um exemplo de como a impunidade pode perpetuar décadas de violência. As vítimas agora aguardam por justiça, na esperança de que sua luta inspire outras pessoas a romperem o silêncio e buscarem seus direitos.


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