Gravações inéditas mostram militares e civis discutindo estratégias para anular eleições de 2022 e pressionar Bolsonaro a agir

Foto: Pixabay


A resistência dentro das Forças Armadas inviabilizou a tentativa golpista. 

Da Redação da Rede Hoje

Áudios inéditos revelados pelo "Fantástico", da TV Globo, neste domingo (23), expõem o envolvimento de militares e civis em um plano para tentar um golpe de Estado após a derrota eleitoral de Jair Bolsonaro (PL) em 2022. O conteúdo foi extraído de celulares e computadores apreendidos pela Polícia Federal durante investigações sobre articulações para abolir o Estado democrático de direito no Brasil.

Na última semana, Bolsonaro e outras 33 pessoas foram denunciadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF). As gravações mostram que militares em postos de comando incentivavam a adesão popular ao movimento golpista. Em uma das conversas, um interlocutor questiona um oficial: “Só quem tem quatro estrelas no ombro não tá vendo isso?”, referindo-se à insatisfação com o resultado das eleições.

Os diálogos também revelam como os conspiradores buscavam apoio dentro das Forças Armadas. O tenente-coronel Guilherme Marques de Almeida, então no comando das Operações Terrestres do Exército, afirmou em um dos áudios: "Vai ter uma hora que a gente vai ter que sair das quatro linhas". Em outro momento, ele recebe uma mensagem pressionando-o a agir: “Tá com medo de ficar pra história, de dizer que fomentou um golpe?”.

Quando encontravam barreiras para executar o plano, os militares tentavam levar seus apelos diretamente a Bolsonaro. Em um áudio, o general Mario Fernandes, preso desde novembro, pede ao tenente-coronel Mauro Cid que o então presidente intervenha para impedir ações da Polícia Federal contra manifestantes golpistas: "Se o presidente pudesse dar um input ali pro Ministério da Justiça, pra segurar a PF".

Os conspiradores apostavam no respaldo das Forças Armadas para legitimar o golpe. Em uma das gravações, Fernandes menciona que o comandante de uma das Forças teria sinalizado apoio a Bolsonaro. No entanto, a falta de consenso dentro do Exército e da Aeronáutica frustrou os planos. O coronel George Hobert Oliveira Lisboa lamenta em um áudio: "O Alto Comando do Exército tá se fechando em copas. Deveria estar pensando no Brasil".

A resistência dentro das Forças Armadas inviabilizou a tentativa golpista. O tenente-coronel Sérgio Cavaliere informa ao coronel Gustavo Gomes que o plano fracassou: “Tá pronto, só que ele não vai assinar porque o Alto Comando está rachado”. Outro oficial reforça que Bolsonaro temia ser preso e, por isso, só assinaria um decreto golpista com apoio militar garantido. À TV Globo, a defesa do general Mario Fernandes alegou que ainda não teve acesso completo às provas, enquanto os advogados de Mauro Cid não quiseram se manifestar.


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