Filme dirigido por Walter Salles vence prêmio inédito e destaca trajetória de Eunice Paiva durante a ditadura militar

"Ainda estou aqui" é o primeiro filme brasileiro a vencer um Oscar (Sony Pictures/Reprodução)

Da Redação da Rede Hoje

Na noite deste domingo (2), o Brasil celebrou uma vitória histórica no Oscar. "Ainda Estou Aqui", dirigido por Walter Salles, conquistou a estatueta de Melhor Filme Internacional na 97ª edição da premiação, realizada em Los Angeles. Esta é a primeira vez que uma produção brasileira vence nesta categoria, superando concorrentes de peso como "A Garota da Agulha" (Dinamarca), "Emilia Pérez" (França), "A Semente do Fruto Sagrado" (Alemanha) e a animação "Flow" (Letônia).

O longa narra a trajetória de Eunice Paiva, vivida por Fernanda Torres, que enfrentou o desaparecimento de seu marido, o deputado Rubens Paiva, durante a ditadura militar brasileira em 1971. Baseado no livro autobiográfico de Marcelo Rubens Paiva, o filme mostra a luta da protagonista para criar seus cinco filhos e sua transformação em uma ativista dos direitos humanos e dos povos indígenas.

Ao receber a estatueta, Walter Salles dedicou a conquista a Eunice Paiva e às atrizes Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, que também integra o elenco. Em seu discurso, o cineasta ressaltou a importância de lembrar a resistência feminina em tempos de opressão e destacou a relevância de histórias como essa para a memória do Brasil.
Fernanda Torres em cena do filme "Ainda Estou Aqui", que conta a história de Eunice Paiva, cujo marido desapareceu durante a ditadura militar (Divulgação)

Primeiro
Essa é a segunda vez que Salles chega à premiação máxima do cinema. Em 1999, "Central do Brasil" foi indicado na mesma categoria, mas perdeu para o italiano "A Vida é Bela". Já "Cidade de Deus" (2004), de Fernando Meirelles, foi indicado a quatro Oscars, mas não levou nenhuma estatueta.

Além do prêmio principal, "Ainda Estou Aqui" também foi destaque na categoria de Melhor Atriz, com Fernanda Torres entre as favoritas. No entanto, a estatueta ficou com Mikey Madison, por sua atuação em "Anora". Mesmo assim, Torres já havia sido reconhecida com um Globo de Ouro pelo papel.

Prestígio
O reconhecimento do longa no Oscar reforça o prestígio do cinema brasileiro no cenário internacional. A produção já havia sido premiada em festivais como Veneza e Toronto, consolidando sua importância e ampliando a visibilidade das narrativas nacionais.

A conquista de Walter Salles também marca um feito inédito para o Brasil. Ele se torna o primeiro diretor brasileiro a vencer um Oscar, após uma carreira repleta de sucessos, como "Diários de Motocicleta". Seu trabalho tem sido amplamente elogiado por sua sensibilidade ao retratar histórias humanas e socialmente relevantes.

Momento da História
O impacto de "Ainda Estou Aqui" vai além do cinema. O filme reacendeu debates sobre direitos humanos e a memória da ditadura militar no Brasil. A trajetória de Eunice Paiva simboliza a dor e a resiliência de inúmeras famílias que enfrentaram perdas durante esse período sombrio da história nacional.

Acedemia Esqueceu
No entanto, a cerimônia também teve um momento controverso. Durante a tradicional homenagem "In Memoriam", a ausência do cineasta Cacá Diegues foi o ponto fora da curva do evento. O diretor, falecido em 14 de fevereiro aos 84 anos, foi um dos fundadores do Cinema Novo e uma figura essencial do cinema brasileiro. Seu nome não apareceu na exibição dos artistas falecidos no último ano, o que gerou críticas à Academia.

Outro brasileiro ausente na homenagem foi Sérgio Mendes, que faleceu em setembro de 2024. O músico, indicado ao Oscar em 2012 pela canção "Real in Rio", também foi deixado de fora da lista, gerando protestos entre fãs e artistas. Apesar dessas omissões, a noite foi histórica para o Brasil, marcando um novo capítulo para o cinema nacional e abrindo portas para futuras produções no cenário internacional.

Filme é um relato biográfico de parte da vida de Eunice Paiva, viúva do ex-deputado Rubens Paiva, morto pela ditadura militar (Reprodução)