O registro tardio será exibido ao público junto a documentos históricos sobre a trajetória da personagem.
O documento foi solicitado pela direção da Casa da Cultura à Promotoria local (Foto: Prefeitura de Estrela do Sul/divulgação)
Da redação da Rede Hoje
A Casa da Cultura de Estrela do Sul recebeu dia 13 de fevereiro, uma cópia da certidão de óbito de Anna Jacinta de São José, a Dona Beija, falecida na cidade em 1873. O registro, realizado por meio de uma ação tardia, foi emitido pelo Cartório de Registro Civil, após uma determinação do juiz Cássio Macedo dos Santos, que atendeu a um pedido do Ministério Público. O documento foi solicitado pela direção da Casa da Cultura à Promotoria local.
A certidão ficará disponível ao público aos finais de semana, acompanhada de uma cópia da ação do Ministério Público de 2023 e outros documentos sobre a passagem de Dona Beija por Estrela do Sul. Entre os itens estão um requerimento de Dona Beija à Câmara Municipal e uma rara fotografia de 1873.
A sentença para a expedição do registro tardio foi assinada pelo juiz em 6 de março de 2024, e o documento foi formalmente emitido em 10 de dezembro de 2024. A solicitação foi fundamentada em documentos como o inventário e o testamento de Dona Beija.
De menina raptada a mulher famosa
Foto: reprodução do site Conheça MineiraDona Beja, apelido de Ana Jacinta de São José
Ana Jacinta de São José, conhecida como Dona Beja, nasceu em 2 de janeiro de 1800, no povoado de Grotas de Pains, em Formiga, Minas Gerais. Criada em Araxá, destacou-se pela beleza e influência na sociedade da época. Ainda adolescente, foi raptada pelo ouvidor-geral Joaquim Inácio Silveira da Motta e levada à força para Paracatu, onde foi obrigada a viver como sua amante. Após a saída do ouvidor para Portugal, Beja retornou a Araxá, mas enfrentou preconceito e hostilidade da sociedade conservadora da cidade.
Determinada a desafiar os padrões morais da época, Dona Beja se tornou uma cortesã influente, recebendo admiradores de várias regiões do Brasil. Sua casa, a Chácara do Jatobá, era frequentada por figuras ricas e poderosas, que a presenteavam com dinheiro e joias. Com personalidade forte, Beja ditava suas próprias regras e consolidou sua posição como uma das mulheres mais marcantes do século XIX em Minas Gerais. Além da vida social intensa, teve duas filhas e acumulou fortuna, o que lhe garantiu independência em uma sociedade dominada por homens.
Em 1853, deixou Araxá e mudou-se para Bagagem, atual Estrela do Sul, onde se dedicou ao garimpo de diamantes e à vida religiosa. Faleceu em 20 de dezembro de 1873, possivelmente devido à tuberculose e intoxicação por metais pesados. Mesmo após sua morte, Dona Beja tornou-se um ícone da história brasileira, lembrada por sua força, ousadia e influência. Seu nome permanece vivo, enquanto aqueles que a julgaram caíram no esquecimento.