Ex-presidente critica STF, insinua candidatura em 2026 e pressiona por perdão a acusados de 8 de janeiro, mas manifestação em Copacabana não atinge expectativas de público.

Da Redação da Rede Hoje
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reuniu apoiadores no Rio de Janeiro neste domingo (16) e fez declarações contundentes sobre seu futuro político e a atual conjuntura do país. Durante o ato, que teve como foco pressionar o Congresso a votar um projeto de anistia para os envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023, Bolsonaro afirmou que não deixará o Brasil e que será um problema para o governo Lula (PT) “preso ou morto”.
“Não vou sair do Brasil. Minha vida estaria muito mais tranquila se eu estivesse do lado deles, mas escolhi o lado do meu povo brasileiro. Tenho paixão pelo Brasil”, declarou o ex-presidente, que também criticou o governo atual e afirmou que “não derrotaram e nem derrotarão o bolsonarismo”.
Bolsonaro ainda sugeriu que sua campanha em 2022 foi prejudicada por ações do então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes. “Não podia colocar imagem do Lula com ditadores do mundo todo”, disse, referindo-se a restrições impostas durante a disputa eleitoral. O ex-presidente também mencionou as eleições de 2026, afirmando que o pleito “será conduzido com isenção” e que “eleições sem Bolsonaro é negar a democracia no Brasil”.
Apesar de inelegível até 2030 por decisão do TSE, Bolsonaro insinuou que pode concorrer no futuro. “Se eu sou tão ruim assim, me derrote”, desafiou. Ele também afirmou ter nomes do seu grupo político para a presidência, mas não descartou sua própria candidatura.
O ato no Rio ocorre em um momento delicado para Bolsonaro, que enfrenta uma denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) por suposta liderança de uma trama golpista para impedir a posse de Lula após as eleições de 2022. A denúncia, que inclui outras 33 pessoas, será analisada pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) a partir de 25 de março. Caso vire réu e seja condenado, Bolsonaro pode enfrentar mais de 40 anos de prisão e ter sua inelegibilidade estendida.
O ex-presidente também usou o ato para fortalecer sua defesa no STF e manter capital político. O evento foi convocado em apoio a uma anistia para os acusados dos ataques de 8 de janeiro, quando apoiadores de Bolsonaro invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes em Brasília. Até o início deste ano, 375 pessoas já haviam sido condenadas, com penas que variam de um ano de detenção a 17 anos de prisão.
A denúncia da PGR acusa Bolsonaro de crimes como tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado e participação em organização criminosa. O ex-presidente nega as acusações e mantém-se ativo na cena política, buscando mobilizar sua base de apoio enquanto enfrenta os processos judiciais.
Não atingiu expectativas
reproduções das redes sociaisO ato em Copacabana, no entanto, não atingiu as expectativas de público. Bolsonaro chegou a falar em 1 milhão de pessoas, mas imagens aéreas mostraram uma manifestação esvaziada, com poucos quarteirões ocupados. Segundo o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP), apenas 16,2 mil pessoas compareceram.
Lideranças bolsonaristas, como o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, estiveram presentes e reforçaram o discurso de anistia. “Anistia já!”, gritou Castro, enquanto Costa Neto afirmou ter “fé” que Bolsonaro será candidato em 2026, apesar da inelegibilidade.
Pedido de Urgência
O deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) anunciou que entrará com um pedido de urgência para votação do projeto de anistia na Câmara. “Nesta semana, vamos pedir a urgência do PL da Anistia para entrar na pauta”, afirmou.
Críticas ao ministro Alexandre de Moraes foram frequentes durante o ato. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) chamou o ministro de “destruidor da democracia” e citou o caso de Cleriston Pereira da Cunha, o “Clezão”, que morreu na prisão após ser acusado de participar dos ataques de 8 de janeiro.
O pastor Silas Malafaia, um dos organizadores do evento, também atacou Moraes, chamando-o de “criminoso e ditador”. Temas como inflação, defesa da família tradicional e críticas à “ideologia de gênero” também foram abordados pelos manifestantes, que carregavam bandeiras do Brasil e faixas com frases como “liberdade já para os presos políticos”.O deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) anunciou que entrará com um pedido de urgência para votação do projeto de anistia na Câmara
Apesar do esforço para mobilizar apoiadores, a baixa adesão ao ato reflete uma possível perda de apoio popular. A deputada Jandira Feghali (PC do B-RJ) classificou o movimento como “pequeno” e destacou a “perda clara de apoio na sociedade”.
Condenados 476 até agora
Enquanto isso, o STF já condenou 476 pessoas pelos atos de 8 de janeiro, e a Advocacia-Geral da União (AGU) estima que os ataques causaram um prejuízo de R$ 26,2 milhões ao patrimônio público. O julgamento da denúncia contra Bolsonaro e aliados no STF, marcado para o dia 25 de março, pode definir o futuro político do ex-presidente.
Com o ato, Bolsonaro tenta manter-se relevante na cena política, mas o esvaziamento do evento sugere que o desafio de mobilizar sua base pode ser maior do que o esperado. Enquanto isso, a Justiça segue investigando e julgando os envolvidos nos ataques golpistas, em um cenário que ainda divide o país.