
A Rota do Café do Cerrado tem Patrocínio como referência. Na foto, lavoura da marca Nunes Coffee,
Reportagem da Revista Sagarana | Por Cacaio Six/Fotos Cezar Félix
A revista Sagarana traz esta semana um reportagem sobre o turismo rural, que ganha uma nova e importante vertente em Minas Gerais a partir da efetivação da Rota do Café do Cerrado e que foi lançada oficialmente no dia 31 de outubro de 2023 em Patrocínio, no Alto Paranaíba, município que lidera a produção de café no Brasil. A Rede Hoje, com autorização do editor, patrocinense Cézar Felix, republica esta matéria nesta semana em que Patrocínio comemora seu 183º aniversário. Todo o texto abaixo é da reportagem original.
Já em pleno desenvolvimento, inclusive atraindo turistas de diferentes regiões brasileiras e até do exterior, a rota tem o apoio da Secretaria de Estado de Turismo e Cultura de Minas Gerais (Secult-MG), do Sebrae Minas e conta com a parceria entre os cafeicultores locais e as cooperativas da região — como a Expocacer (Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado), de Patrocínio (MG). A rota ainda conta com o apoio da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, da Associação Comercial e Industrial de Patrocínio (Acip), da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Patrocínio e da Secretaria de Cultura e Turismo do município.

Pôr do sol desde a Fazenda Bela Vista, produtora do Alado Coffee.
A Rota do Café do Cerrado apresenta um planejamento estratégico que visa unir os atrativos naturais, culturais e gastronômicos da região com as experiências da produção de café de alta qualidade.
Novas oportunidades de negócios
A proposta, na avaliação do Sebrae Minas, é criar novas oportunidades de negócios ligadas à cadeia produtiva associada ao turismo rural e à culinária regional. “A Rota do Café do Cerrado Mineiro é uma grande oportunidade para trazer consumidores do Brasil e do mundo para conhecerem um produto diferenciado, e todo o potencial do bioma Cerrado. A iniciativa será muito importante para o desenvolvimento dos pequenos, médios e grandes negócios, em especial para o trade turístico local, tornando o destino mais conhecido pela experiência, história e origem dos cafés produzidos na região”, argumenta Marcelo de Souza e Silva”, presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas,

A rota quer apresentar aos turistas as delícias regionais da gastronomia, que inclui o tradicional pão de queijo como o que é oferecido na cafeteria Café Conosco. além do delicioso queijo canastra.
Em razão da reconhecida potencialidade para atrair novos visitantes, além de já ser um significativo polo de turismo de negócios — graças ao intenso movimento de profissionais que integram este grande mercado da cafeicultura —, o Café do Cerrado Mineiro está entre as rotas prioritárias de Minas Gerais que receberão incentivos da Secult,MG. “Promover a Rota Café do Cerrado Mineiro significa mostrar o agronegócio de ponta no estado e, ao mesmo tempo, estimular o turismo e abrir novas possibilidades de investimentos na região. O café é um dos símbolos da cultura mineira e gera emprego, renda e impulsiona a economia do estado”, afirma Leônidas de Oliveira, secretário de Estado de Cultura e Turismo.

Mostrar ao turista as belezas naturais do bioma Cerrado é um item importante da proposta da rota.
50 anos de cafeicultura
No ano de 2013, a região cafeicultora do Alto Paranaíba e do Triângulo Mineiro foi a primeira a ganhar o selo de Denominação de Origem (DO) no Brasil, homologado junto ao INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial). Mas a história do Café do Cerrado Mineiro começou na década de 1970 a partir do trabalho de produtores pioneiros locais e também com a chegada na região de agricultores de outras regiões, sobretudo do Paraná e de São Paulo. No ano de 2022, a Região do Cerrado Mineiro comemorou 50 anos de cafeicultura, inclusive com o lançamento de um livro, intitulado “50 Anos da Cafeicultura na Região do Cerrado Mineiro”. A obra, uma inciativa da Federação dos Cafeicultores do Cerrado Mineiro e do Sebrae Minas, foi produzida e editada pela Veredas Editora, Fotografia e Jornalismo Especializado — empresa também responsável por este portal.

A cafeicultura do Cerrado Mineiro 53 anos de existência.
Atualmente, o café do Cerrado Mineiro se espalha por 55 municípios das regiões do Alto Paranaíba, Triângulo e Noroeste de Minas e reúne 4,5 mil cafeicultores em uma área de produção de 255 mil hectares, sendo responsável por 12,7% da produção brasileira de café, e 25,4% da produção mineira, com média de seis milhões de sacas produzidas anualmente.
Conforme informa a Federação dos Cafeicultores do Cerrado Mineiro, o café do Cerrado Mineiro se caracteriza por ser cultivado em áreas com altitude que variam entre 800 e 1,3 mil metros — com estações climáticas bem definidas, verão quente e úmido e inverno ameno e seco —, o que resulta em uma bebida de sabor único e de alta qualidade.

O café do Cerrado Mineiro está em 55 municípios das regiões do Alto Paranaíba, Triângulo e Noroeste de Minas.
Experiências únicas
As primeiras experiências no Cerrado Mineiro incluíram um roteiro em que o turista teve a oportunidade de visitar fazendas, ver de perto as lavouras, conhecer os processos de cultivo de grãos, provar as delícias da cozinha regional e, é claro, degustar o impecável café do Cerrado Mineiro. O visitante também conheceu a produção de cafés especiais e os processos de inovação e tecnologia utilizados pelos produtores locais.

Turismo de experiência de alta qualidade: degustação do café. Alado Coffee, Fazenda Bela Vista.
A experiência pioneira aconteceu em Patrocínio no final de 2024 com os seguintes participantes: Agro Nunes (Nunes Coffe); Bela Vista (Alado Coffee); Rainha da Paz (Famíglia Montanari); Santa Cruz da Vargem Grande (AgroBeloni); Cafeteria Dulcerrado by Expocacer e Coffee Roaster Porto Feliz. Foram três dias intensos com uma programação assim definida: Tour na Porto Feliz; Visita Guiada às Fazendas Tramonto e Rainha da Paz; Tour Café & Natureza AgroBeloni; Almoço com Menu Rota do Café – Recanto; Degustação de Café Dulcerrado; Jantar na Adega Traíras; Tour e Cupping Café na Nunes Coffee; Tour Café Alado Coffee.
Com o objetivo de garantir tanto a excelência no atendimento ao turista quanto uma experiência de alta qualidade, o projeto Rota Café do Cerrado prevê ações direcionadas à capacitação de donos de pequenos negócios que fazem parte da cadeia produtiva associada ao turismo da região como hotéis, pousadas, bares e restaurantes.

Cafeicultura da AgroBeloni, fazenda que integra a rota. Primeira propriedade no mundo a conseguir a certificação internacional de agricultura renegerativa do Regenagri® — o programa internacional visa garantir a saúde da terra e o cuidado com quem nela vive. Foto Divulgação.
Conexão entre produtor e consumidor
Para Juliano Tarabal, diretor-executivo da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, “a rota é uma estratégia de promoção, está conectada à marca Cerrado Mineiro e vem para conectar o café com o consumidor, promover experiências e gerar o desenvolvimento da região, criando nova fonte de negócios que é o turismo”.
Para Camila Nayara, Gerente de Cafés Industrializados da Dulcerrado by Expocacer, “a Rota do Café no Cerrado Mineiro é um projeto de imenso valor para o setor cafeeiro e para toda a região. Com a nossa primeira Denominação de Origem, estamos não apenas celebrando a qualidade excepcional do nosso café, mas também conectando de forma direta o produtor ao consumidor final”.

Nunes Coffee: infraestrutura para receber os turistas.
Camila avalia que o “turismo que promovemos é uma oportunidade única para os visitantes conhecerem de perto o processo de produção, a história das fazendas e o trabalho dos nossos cafeicultores, tudo isso imerso na rica cultura mineira. Ela garante que trata-se de “um passo importante para levar o melhor do nosso café para o mundo, promovendo novas experiências e gerando impacto positivo em nossa comunidade.”

Mattheus Narcizo – Mestre de Torra e Q-Grader da Expocacer preparando um cupping.
Modelo de negócio e crescimento sustentável
Na avaliação da Coffee Roaster Porto Feliz “é o início de um projeto e a ideia é construir um modelo de negócio que possa ter um crescimento sustentável”. Ao promover o receptivo especializado — há uma visita à torrefação e degustação sensorial e harmonizada de cafés especiais, e a oferta de roteiros e passeios — a Porto Feliz argumenta que “as fazendas têm como principal expectativa de resultado, incluindo a venda do café, receber os visitantes e abrir suas porteiras para os turistas vivenciarem a experiência do dia a dia da produção do café na região do Cerrado Mineiro”.

Cafeteria Dulcerrado, da Expocacer: mais um atrativo turístico.
Na Fazenda Santa Cruz da Vargem Grande-AgroBeloni, em Patrocínio, primeira propriedade no mundo a conseguir a certificação internacional de agricultura renegerativa do Regenagri® — o programa internacional visa garantir a saúde da terra e o cuidado com quem nela vive — os turistas são recepcionados com uma extensa e muito interessante programação. Eles conhecem toda a produção do café e também têm uma imersão na natureza do bioma Cerrado. Dentro desta proposta, os visitantes conhecem diversas outras culturas, como batata, cebola, trigo, soja e milho, dentre outras.
“Nossa fazenda tem uma particularidade, pois temos multiculturas. Mostramos como é nossa produção de café, a tecnologia e os cuidados aplicados. Mas, também, apresentamos a bataticultura, a produção de cebola e trigo”, ratifica Elesandra Aparecida Machado Beloni, gestora de qualidade de cafés especiais da Fazenda Santa Cruz.

Mesa dessimétrica da Expocacer para separação do café.
Maior visibilidade ao café
Na avaliação de Elesandra, a Rota do Café do Cerrado é importante para que os turistas conheçam como é a produção, mas também é esperado “o aumento na movimentação da economia da região, gerando, assim, maior visibilidade ao Café da Região do Cerrado”. A gestora lembra que “junto às fazendas, há uma estrutura para atender os turistas, como hotéis e restaurantes”. Ela prossegue explicando que “na nossa fazenda mostramos a agroindústria do Cerrado, a importância da produção, como ela acontece dentro da propriedade e como fazemos dentro da porteira. Assim, revelamos as tecnologias e a produção sustentável, o que é importante para levar mais conhecimento para o pessoal da cidade”.

Trabalhador no terreiro de café.
Já na Fazenda Bela Vista (Alado Coffee), além da visita guiada, há degustação e um café com quitandas mineiras. Na Fazenda Rainha da Paz, os turistas farão uma visita guiada, seguida do Tramonto e Drink Café com degustação harmonizada de cafés especiais ao pôr-do-sol.
O roteiro conta ainda com a Cafeteria Dulcerrado by Expocacer. No local, é oferecida uma visita guiada e acontece um workshop de métodos de preparo de cafés, assim como degustação harmonizada com produtos regionais.

Compradores de café do exterior provam café em uma das fazendas da região.
Trabalho de divulgação e mercados globais
Atualmente, com a Rota do Café do Cerrado sendo reconhecida e aprovada, as expectativas são positivas e está em andamento um amplo trabalho de divulgação da rota. Houve, inclusive, um lançamento nacional, que aconteceu na nona edição do Festuris Gramado (RS) — um dos maiores eventos turísticos da América Latina —, que foi realizado entre os dias 9 e 12 de novembro de 2024. Já o lançamento internacional, ocorreu durante a Specialty Coffe Expo, em abril de 2024, na cidade de Chicago, nos Estados Unidos. A Specialty Coffe Expo é reconhecida como uma das mais importantes feiras de cafés especiais do mundo e a maior das Américas.

Área da Nunes Coffee que também funcionava como receptivo aos turistas.
Marcos Geraldo Alves, gerente regional Noroeste e Alto Paranaíba do Sebrae Minas, explica que a região do Cerrado Mineiro é uma área de produção de café relativamente jovem. “Em 2022, a região completou 50 anos e mesmo com a pouca idade — frente às outras áreas do Brasil —, se tornou uma referência em qualidade e produtividade. Isso aconteceu por meio da inovação, tecnologia e sustentabilidade”, garante ele.
Marcos Geraldo salienta que “o café do Cerrado conseguiu, assim, atrair os olhos dos principais mercados globais do grão, fazendo com que, naturalmente, existisse um fluxo turístico de negócios na região em busca dos melhores cafés. Toda essa construção fez com que algumas cidades assumissem destaques importantes, como Patrocínio, que é o principal produtor do país”.

Mudas de café na Alado Coffee.
O gerente regional argumenta que é oportuno para o turismo ter o Brasil, Minas Gerais e Patrocínio como os maiores produtores de cafés do mundo. Isso porque devido à produção e excelência dos cafés já há um fluxo gerado pela demanda.
“Por isso, é natural a estruturação de uma rota turística para profissionalizar o fluxo de quem já vem em busca dos produtos, mas que queira se apropriar e aproveitar das demais experiências, além da aquisição do café. Podemos transbordar toda essa experiência – gastronomia atrelada ao jeito de ser do mineiro e da forma de se produzir na região do Cerrado Mineiro — para que seja acessível a mais pessoas que também são apaixonadas pelo café e gostariam de conhecer a região”, finaliza Marcos Geraldo Alves.

O município de Patrocínio é hoje o maior produtor de café do Brasil.