Profissionais que usam a voz diariamente — como locutores, atores, professores, cantores, vendedores e palestrantes — devem redobrar a atenção com a saúde vocal para garantir desempenho e longevidade na carreira
Manter a hidratação constante, fazer pausas vocais regulares e evitar falar em ambientes ruidosos são práticas essenciais para manter a voz saudável |Crédito: Freepik
Da redação da Rede Hoje
Celebrado em 16 de abril, o Dia Mundial da Voz é um convite à conscientização sobre a importância de cuidar desse instrumento da comunicação. Para profissionais como professores, cantores, jornalistas, palestrantes e atores — que utilizam a voz de forma intensa e constante —, manter a saúde vocal não é apenas uma questão de bem-estar, mas uma necessidade para o desempenho e a longevidade na carreira.
Jother Soares Machado, otorrinolaringologista do Hospital Madrecor, da Hapvida, fala sobre os principais cuidados para manter a saúde vocal em dia e traz dicas práticas e alertas importantes. Segundo o especialista, manter hidratação constante, fazer pausas vocais regulares e evitar falar em ambientes ruidosos são práticas essenciais. “Quem depende da voz para trabalhar precisa encarar o cuidado com ela como um compromisso diário. Evitar abusos, não gritar e buscar orientação de um fonoaudiólogo são atitudes fundamentais”, explica.
Além disso, o médico ressalta a importância de dormir bem e evitar o consumo de bebidas alcoólicas em excesso, cigarro e alimentos irritativos.
Assim como outras partes do nosso corpo, que envelhecem à medida que os anos passam, a voz também sofre mudanças e perde volume e potência conforme a pessoa vai ficando mais velha. O envelhecimento da função vocal é chamado de presbifonia, que é específica da velhice. A presbifonia causa alterações porque a laringe, onde é produzido o som por meio da vibração das pregas vocais e do ar que vem dos pulmões, é a principal estrutura afetada. Com isso, a voz perde flexibilidade, resistência e força, e fica mais fraca e rouca.
Léslie Piccolotto Ferreira, professora do Departamento de Teoria e Métodos em Fonoaudiologia e Fisioterapia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e doutora em distúrbios da comunicação humana, explica que o fenômeno resulta do enrijecimento da musculatura laríngea. “As cartilagens se tornam mais rígidas e os ligamentos, que promovem a articulação entre as diversas membranas e músculos da laringe, ficam endurecidos e desidratados”, diz. Segundo Ferreira, as modificações vocais e laríngeas decorrentes do processo de envelhecimento apresentam graus variados em cada indivíduo e dependem de condições genéticas, de saúde geral e de uso vocal ao longo da vida.
Rouquidão frequente, dor ou desconforto ao falar, sensação de cansaço vocal e mudanças no timbre são sinais de que algo pode estar errado. “Esses sintomas, se persistirem por mais de 15 dias, merecem atenção médica. Muitas vezes, as pessoas ignoram os sinais do corpo e continuam forçando a voz, o que pode agravar quadros simples”, pontua Jother Soares.
Entre os erros mais comuns, de acordo com o especialista, estão o uso excessivo da voz sem pausas, o mau uso da projeção e o abuso vocal, comum em crianças. “Tais erros podem ser corrigidos com repouso vocal e uso de microfones, como no caso de profissionais da voz”, orienta. Ele ainda cita como equívoco falar por cima do barulho, chamado também de competição sonora.
Hidratação e alimentação: aliados da voz
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A hidratação adequada é um dos pilares da saúde vocal. O especialista destaca que beber água ao longo do dia ajuda a manter as pregas vocais lubrificadas e menos suscetíveis a lesões. “Evite bebidas geladas, alcoólicas ou com cafeína em excesso antes de usar muito a voz. Prefira água em temperatura ambiente e, se possível, faça inalações com soro fisiológico em casos de ressecamento”, aconselha.
Alimentação saudável e medidas simples para evitar o refluxo, como não ingerir líquidos durante as refeições, também ajudam.
Estresse e emoções: a voz também sente
Estresse e ansiedade podem causar tensão muscular, inclusive na laringe, o que afeta diretamente a voz. “Técnicas de respiração, relaxamento e alongamento ajudam bastante. Em alguns casos, o acompanhamento fonoaudiológico com técnicas específicas é recomendado”, explica.
Outra dica é evitar falar alto. “Gritar constantemente pode causar lesões nas cordas vocais, como nódulos ou pólipos e, em casos graves, levar a cirurgias. O ideal é sempre buscar alternativas como microfones, quando possível, e treinar a projeção vocal de forma adequada”, alerta.
Prevenção
Antes de atividades intensas, como aulas, palestras ou gravações, o aquecimento vocal deve ser feito com orientação profissional. “Exercícios simples de vibração de língua ou lábios, além de emissão de sons em tons confortáveis, ajudam a preparar a musculatura. Mas é importante aprender com um profissional para não cometer erros”, ressalta. Evitar o uso excessivo da voz, quando estiver resfriado, também é muito importante, diz o médico.
Quando buscar ajuda médica?
Se a rouquidão persistir por mais de duas semanas, se houver qualquer mudança significativa na voz, ou se a pessoa tem histórico de tabagismo de longa data e começa a apresentar uma rouquidão que não melhora, é hora de procurar um otorrinolaringologista ou fonoaudiólogo. “O diagnóstico precoce de distúrbios vocais evita complicações e tratamentos mais complexos”, alerta o médico.
Outros fatores que afetam a voz
Doenças como sinusite, refluxo gastroesofágico e rinite podem impactar a qualidade vocal. O médico volta a reforçar que o tabagismo é um dos maiores vilões. “O cigarro agride diretamente a mucosa das cordas vocais, sendo fator de risco para lesões e até câncer de laringe. Parar de fumar é essencial para quem deseja manter a voz saudável”, completa Jother Soares.
O etilismo também agride as pregas vocais, alerta o médico. “Principalmente se associado ao tabagismo”, acrescenta. Para finalizar, ele sugere que, depois de um evento longo, no qual a voz foi usada de forma intensa, o ideal é fazer repouso vocal, manter boa hidratação, evitar ambientes com ar-condicionado muito frio e, se necessário, fazer nebulização com soro fisiológico. “Essas atitudes ajudam a recuperar a mucosa e reduzir a fadiga vocal”, conclui.