Rio Dourados em Patrocínio, MG, região onde ficou o terceiro Quilombo e que foi morto Rei Ambrósio. Foto: Igam MG


Da redação da Rede Hoje

O historiador Eustáquio Amaral faz um resumo do que foi o “Quilombo do Ambrósio” e sua influência no Brasil colônia

Patrocínio tem grande importância na história dos quilombos do Brasil. O destemido líder de três quilombos, Ambrósio, foi atacado em 1746, no seu Quilombo, na região de Formiga/Cristais. Daí, pouco depois, construiu o seu segundo e maior quilombo, entre Ibiá e Campos Altos (mais de 1.000 pessoas), onde também foi combatido pelas forças da Capitania. O terceiro Quilombo de Ambrósio, subordinado ao maior, ocorreu na região de onde iria surgir Patrocínio e que Ambrósio foi morto.

O Quilombo da Pernaíba, ou Paranaíba, localizado a nordeste da atual cidade de Patrocínio – MG, tinha apenas 70 casas, mas foi onde teria se concentrado grande parte da população do evacuado Quilombo do Ambrósio II (de Ibiá-Campos Altos) e onde, ao final da batalha de sete de setembro de 1759, o Rei Ambrósio teria sido contado entre os mortos. Ainda hoje em Patrocínio, muitos pretos sabem falar e falam a Língua Calunga, dialeto composto por palavras em umbundo, quimbundo, tupi e português arcaico.

Imagem: Quilombo.com.br




Quilombo é uma área territorial ocupada por mestiços, negros forros (escravos libertos, em liberdade), brancos pobres, índios, caboclos e negros fugidos (escravos), comandados por forte liderança da raça negra. O quilombo foi abrigo e reduto de resistência à escravidão. Também tinha a característica de acampamento militarizado, sempre preparado para combates. Em Minas, existiu o Quilombo do Ambrósio, também chamado Quilombo do Campo Grande. Isso por reunir diversas pequenas e grandes comunidades em locais diferentes. Tal como o Quilombo Pernaíba, no Rio Dourados. Os quilombos dos Palmares e Ambrósio tinham autonomia administrativa, negócios e cultura próprios. Eram um “reino independente” dentro da Colônia (Brasil). Por isso, os ataques constantes dos portugueses.

O historiador Eustáquio Amaral, diz “Pérolas. Assim, podem ser intituladas diversas histórias sobre o nosso querido Município. Algumas ainda pouco conhecidas. Tais como as que antecedem a fundação de Patrocínio e narrativas da própria fundação ou criação (não confundir com emancipação)”.

A história pesquisada por Eustáquio Amaral

Em 1729, a Coroa Portuguesa criou a estrada real ligando Pitangui e o sul de Goiás, passando pela gleba de José Pires Monteiro, situada entre a Lagoa Seca e o Ribeirão Feio (provavelmente, é o hoje o Córrego Feio). A estrada passou a ser chamada de “Picada de Goiás”. As primeiras expedições utilizaram a estrada, mas a maioria foi dizimada pelos índios Caiapós. Portanto, há 300 anos. Mais tarde, o governador da Capitania, Conde de Valadares, foi incumbido de atacar os índios e os calhambolas (escravos fugitivos). Com destaque, para os componentes do Quilombo do Ambrósio, que dominavam a “Picada de Goiás”.

Depois de vários embates entre os índios e brancos na região, o governador da Capitania, cargo nominado capitão-geral de Minas, Conde de Valadares, determinou ao capitão Inácio de Oliveira Campos, explorar as regiões chamadas de Bromado e Esmeril. E destruir os Quilombos existentes. Isso em 1771. O capitão Inácio era casado com a lendária Joaquina de Pompéu, líder política e grande fazendeira na região que hoje é Pitangui, Abaeté e Pompéu.



Monumento ao Rei ambrósio em Cristais, MG, onde foi o primeiro quilombo. Foto: divulgação

A excelente pastagem, as fontes hidrominerais para o gado salitrar (alimentar), a uberdade (fartura) da terra, os riachos cristalinos e a posição estratégica na estrada Picada de Goiás, constituíram os fundamentos para a construção da Fazenda Brumado dos Pavões, pelo capitão Inácio de Oliveira Campos.

Assim, a partir 1772, a fazenda tornou-se o centro de abastecimento e repouso das tropas e bandeiras rumo a Goiás. Esse cenário atraiu gente, boa ou não, de outras regiões, que desejava começar ou recomeçar a sua vida.

O capitão Inácio não permaneceu muito tempo na região, chamada pelos escravos de Catiguá, pois adoeceu. E pouco depois, após o seu retorno, faleceu em Pitangui. Como herança, Joaquina de Pompéu, recebeu a próspera fazenda e mais de 4.000 cabeças de gado. A Fazenda Brumado dos Pavões produzia cereais e carne para abastecimento das tropas/viajantes e até para a Corte no Rio de Janeiro.

A importância dessa fazenda começou a ser conhecida. Com isso, precários casebres foram construídos nas proximidades dela. Principalmente, por gente pertencente à força de trabalho da fazenda. Mas... a pujança da Fazenda atraiu também bandoleiros, assassinos, assaltantes e negros (fugitivos da escravidão). Esses para sobreviverem, assaltavam. Mormente, oriundos do quilombo do Ambrósio e do Quilombo Pernaíba.

Rei Ambrósio

Segundo diversos historiadores, Rei Ambrósio foi o mais temido líder quilombola de Minas Gerais. E junto com Zumbi dos Palmares (Pernambuco), os maiores líderes negros da Colônia (Brasil), que ameaçaram a autoridade da Coroa Portuguesa. A população dos quilombos na região, sob o comando do Rei Ambrósio, chegava a 10 mil habitantes (multidão para a época). Ambrósio e sua esposa Cândida, escravos africanos, foram comprados por um jesuíta que sabia de sua liderança e nobreza na África. Além das lutas quilombolas, Ambrósio também era agricultor.

Destemido líder de três quilombos, o negro Ambrósio foi atacado, em 1746, no seu Quilombo, na região de Formiga/Cristais. Daí, pouco depois, construiu o seu segundo e maior quilombo, entre Ibiá e Campos Altos (mais de 1.000 pessoas), provavelmente de 1746 a 1759, quando foi destruído, onde também foi combatido pelas forças da Capitania. Como o Quilombo Campo Grande, em Ibiá, foi parcialmente destruído e despovoado, o rei Ambrósio fugiu, com a sua corte, para outro quilombo subordinado, pertencente à confederação liderada por ele: Quilombo da Pernaíba (Parnaíba ou Paranaíba). O Quilombo da Pernaíba e se localizava nas nascentes do Rio Dourados, numa região cercada por onde é hoje Monte Carmelo, Guimarânia e Cruzeiro da Fortaleza. No centro dessa região está Patrocínio.

Morto no Rio Dourados

A mando do governador, o bandeirante de Pitangui, Bartolomeu Bueno do Prado eliminou o Quilombo do Ambrósio em Ibiá (1759), que teria 400 casas. Na mesma época, Ambrósio fugiu, com a sua corte, para o Quilombo do Pernaíba (nascentes do Rio Dourados), com 70 casas (quase 500 pessoas), ligado à confederação do Quilombo do Ambrósio, que fora despovoado. Era 7 de setembro de 1759 (alguns autores citam 1769). Na Batalha de Pernaíba, 120 homens armados “até os dentes”, sob o comando de Inácio Correa Pamplona e Bartolomeu Bueno Prado, mataram 90% dos habitantes do Quilombo da Pernaíba. Isso, hoje, na região de Dourados.

O rei Ambrósio, um dos dois maiores líderes da raça negra do Brasil Colônia, foi morto e parte de seu séquito (turma) também morreu. E cinquenta foram enviados como prisioneiros para o Rio de Janeiro. Pouco depois, Inácio Pamplona teria se unido a Joaquim Silvério dos Reis para delatar a Inconfidência Mineira, quando Tiradentes foi enforcado (1792). Alguns inconfidentes sabiam sobre o Rei Ambrósio. Alguns autores até acham que o Rei Ambrósio foi mais importante do que o líder Zumbi dos Palmares, o mais falado da história.

Importância

Por isso, Palmares e Ambrósio são considerados os principais líderes quilombolas que existiram no território brasileiro. E os principais quilombos.


FONTES: MGQuilombo (O Quilombo em Minas), Wikipédia, periodicos.ufmg.br, e livro do médico e escritor José Lagares Barbosa, natural de Cruzeiro da Fortaleza, e residente na Grande BH (Ibirité). Esse livro sobre a vida dele em Cruzeiro da Fortaleza.


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