Lance de Patrociense 2 a 1 Atlético, gol de falta de Mauricio Lemos (Galo), Everton e Hudson (CAP), de 2024, ano do rebaixamento do clube. Foto: Atlétcio |Divulgação
Da Redação da Rede Hoje
O Clube Atlético Patrocinense vive um momento de transição em sua estrutura administrativa. A reunião realizada nesta segunda-feira, 22 de setembro, oficializou a saída de dois dirigentes de destaque: José Félix deixou a presidência do Conselho Deliberativo e Fúlvio Barbosa encerrou sua gestão interina como presidente executivo. Os dois com os mandatos vencidos. Com isso, o clube segue agora sob responsabilidade administrativa do novo presidente do Conselho, Nivaldo Leal, até que uma nova eleição para a diretoria executiva seja convocada.
José Félix afirmou que deixa o cargo de presidente do Conselho Deliberativo com sensação de alívio. Ele destacou que foram anos marcados por dificuldades inesperadas, mas que, apesar dos obstáculos, a diretoria conseguiu concluir o trabalho com dignidade. Para ele, os últimos tempos mostraram a força da torcida e da paixão pelo clube, que se manteve ativo mesmo em condições financeiras adversas.
Em sua avaliação, o período em que esteve à frente do Conselho foi de muita luta, mas também de aprendizado. Félix explicou que houve situações que a diretoria não imaginava enfrentar, porém o apoio de conselheiros e da diretoria executiva ajudou a atravessar as dificuldades. Ele disse ainda que, mesmo com todos os problemas, a gestão conseguiu concluir a temporada de forma positiva, com chances de acesso e uma redução gradual nas dívidas do clube.
José Félix ressaltou que o próximo ano pode ser mais promissor para o CAP. Segundo ele, com as pendências atuais mais controladas, será possível estruturar um elenco competitivo para brigar novamente pelo acesso à elite do futebol mineiro. O dirigente acredita que a base deixada por sua gestão permitirá avanços, especialmente no aspecto financeiro, já que a maior parte das dívidas trabalhistas e de folha de pagamento foi organizada.
Ao fazer um balanço de sua gestão, Félix lembrou que a maior dificuldade foi formar uma diretoria coesa no início do trabalho. Segundo ele, havia desconfiança de muitos em relação ao futuro do clube, o que dificultava encontrar pessoas dispostas a assumir responsabilidades. Foram várias reuniões marcadas em busca de interessados, mas muitas delas terminaram sem solução. Ainda assim, ele destacou que, por amor ao CAP, aceitou a missão.
Confiança em Nivaldo
Com a eleição de Nivaldo Leal para a presidência do Conselho Deliberativo, José Félix afirmou confiar plenamente no futuro do clube. Ele lembrou que, desde sua chegada ao clube há sete anos, Nivaldo já se mostrava presente e dedicado. “Nunca vi um jogo do CAP sem o Nivaldo, ele sempre esteve ao lado da equipe, apoiando de forma incansável”, destacou. Para Félix, a escolha foi acertada e será benéfica para o clube.
Mesmo deixando a presidência, José Félix garantiu que seguirá próximo ao Patrocinense. Segundo ele, a ligação com o clube é algo que não pode ser rompido. “Não conseguimos abandonar nunca, o CAP faz parte da nossa vida”, afirmou. O dirigente também reforçou que estará disponível para apoiar a nova gestão sempre que necessário, participando como conselheiro e torcedor ativo.
Fúlvio Barbosa
Enquanto isso, Fúlvio Barbosa também oficializou sua saída da presidência executiva ao vencer o prazo do mandato tampão — que assumiu concluindo os mandatos de Ronaldo Correia, ex-presidente e Roberto Avatar, ex-vice. Ele ocupava o cargo interinamente desde o início de maio e destacou que foi um período de grande responsabilidade. “Foi com muita honra e alegria que representamos o clube nesses quatro meses”, disse. Fúlvio destacou ainda o apoio recebido da diretoria executiva, de empresários locais, produtores rurais, imprensa e da administração municipal, fatores que possibilitaram avanços mesmo diante das dificuldades.
Mais de um milhão e meio
O dirigente fez questão de apresentar números da gestão, em entrevista à Radio Módulo. Segundo ele, a diretoria conseguiu levantar R$ 1,645 milhão em apenas quatro meses. Esse montante foi suficiente para quitar obrigações trabalhistas, salários de atletas e impostos, além de arcar com parte de dívidas deixadas por gestões anteriores. Fúlvio explicou que só em acertos trabalhistas de jogadores foram pagos mais de meio milhão de reais.
Apesar dos esforços, a situação financeira do clube continua delicada. Fúlvio Barbosa afirmou que o CAP ainda possui um déficit de aproximadamente R$ 1,5 milhão. Ele disse que a diretoria conseguiu resolver o que estava ao alcance, mas não encontrou viabilidade para seguir à frente da gestão. Para ele, a experiência mostrou que o clube precisa de novas soluções administrativas para garantir sustentabilidade a longo prazo.
Alternativas
Entre as alternativas apontadas, Fúlvio citou a necessidade de buscar um parceiro financeiro sólido ou adotar o modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Na avaliação dele, apenas com uma mudança estrutural o CAP conseguirá competir em igualdade de condições com clubes que já se reorganizam nesse formato. Ele lembrou que equipes da região, como o Mamoré e a URT, já caminham nesse sentido.
O presidente interino explicou que a decisão de não dar continuidade ao trabalho não significa abandonar o clube. Pelo contrário, ele afirmou que tanto ele quanto os demais membros da diretoria permanecem à disposição para apoiar a nova gestão. “O CAP é a nossa paixão e, se surgir um projeto viável, estaremos juntos novamente”, garantiu. Fúlvio também ressaltou que, apesar das dificuldades, a diretoria entregou todas as contas em dia.
Fúlvio fez questão de esclarecer que a saída não deve ser interpretada como um abandono de responsabilidades. Ele lembrou que, ao assumir o clube, a diretoria sequer tinha acesso completo a documentos trabalhistas e que muitas ações já estavam em andamento. Ainda assim, todas as obrigações geradas no período foram quitadas, incluindo salários, impostos e contribuições.
Pagando jogadores lesionados
O dirigente também citou casos específicos de jogadores em tratamento médico, como Anderson Ferrugem e Luizão, que continuaram recebendo seus salários regularmente. Segundo ele, isso demonstra o compromisso da diretoria com os atletas e com a seriedade da gestão. “Não deixamos pendências trabalhistas da nossa gestão, tudo foi acertado”, afirmou.
Para Barbosa, a experiência mostrou que administrar um clube de futebol sem fontes de receita regulares é um desafio constante. Ele lembrou que, após o fim da temporada, o CAP ficou sem entradas financeiras, já que as bilheterias não geram mais recursos. Esse cenário, segundo ele, reforça a necessidade de um projeto estruturado para garantir o futuro do time.
A situação do Patrocinense agora depende de uma nova eleição para a diretoria executiva. Como presidente do Conselho Deliberativo, Nivaldo Leal passa a responder administrativamente pelo clube, mas sem poder de execução. De acordo com o estatuto, ele terá que convocar uma assembleia para tentar formar a nova diretoria. Até lá, ficará responsável por decisões emergenciais.
Desafio
O desafio, no entanto, será encontrar pessoas dispostas a assumir a gestão executiva diante da crise financeira. Tanto José Félix quanto Fúlvio Barbosa apontaram que essa resistência já foi um problema no passado recente. A dívida acumulada e a dificuldade de manter o clube com receitas próprias afastam possíveis candidatos.
Contas
A prestação de contas apresentada por Fúlvio Barbosa mostrou de forma clara o tamanho do esforço feito nos últimos meses. Levantar mais de R$ 1,6 milhão em apenas quatro meses foi considerado um feito relevante, mas insuficiente diante do passivo herdado. Ele frisou que, mesmo com toda mobilização, ainda restam dívidas de aproximadamente R$ 1,5 milhão, sem receita futura para quitá-las.
Segundo o dirigente, insistir em continuar seria irresponsabilidade. “Foi uma missão árdua, mas não podemos enganar a torcida. A realidade é que, sem uma mudança estrutural, o clube continuará enfrentando as mesmas dificuldades”, explicou. Ele reforçou que a transparência foi prioridade em sua gestão e que todos os números estão documentados.
Na despedida do cargo, Fúlvio também destacou o papel da comunidade de Patrocínio no apoio ao clube. Empresários, produtores rurais e torcedores contribuíram financeiramente, ajudando a manter o time em campo. Fúlvio agradeceu a cada um desses grupos e afirmou que o apoio popular é fundamental, mas não suficiente para garantir a sobrevivência do clube a longo prazo.
Encerra ciclo em dia
Entre os pontos positivos, Fúlvio lembrou que o CAP encerra o ciclo com todas as obrigações trabalhistas regularizadas. Isso inclui salários, recolhimento de impostos e contribuições previdenciárias. O dirigente destacou que essa organização dá maior segurança para o futuro, já que evita novos bloqueios judiciais relacionados a débitos da gestão atual.
Ainda assim, ele revelou que o clube já enfrenta novamente bloqueios em contas bancárias devido a ações trabalhistas antigas. Esses bloqueios, somados à falta de receitas, comprometem totalmente a capacidade de investimento do Patrocinense. Por isso, segundo Fúlvio, a busca por soluções alternativas é inevitável e urgente.
José Félix, em sua fala final, reforçou que o amor ao CAP é o que mantém dirigentes e torcedores unidos, mesmo em momentos difíceis. Para ele, a paixão é o combustível que motiva todos a seguir lutando. “É coisa que a gente faz porque gosta. O CAP é parte da nossa história”, resumiu.
Futuro
O ex-presidente do Conselho lembrou ainda que o clube já superou momentos complicados anteriormente e que acredita em um futuro melhor. Ele destacou a importância de manter a esperança e a dedicação para que o time possa voltar a conquistar espaço no futebol mineiro.
A transição de comando, portanto, deixa o Patrocinense em situação indefinida. A diretoria executiva está vaga e dependerá de novas eleições, enquanto o Conselho Deliberativo, agora sob comando de Nivaldo Leal, terá a missão de conduzir o clube até a definição de uma nova liderança.
Para os torcedores, resta a expectativa de que o próximo ano traga soluções estruturais. Tanto os ex-dirigentes quanto os atuais conselheiros reconhecem que o modelo de gestão precisa ser revisto. A busca por parceiros financeiros ou pela implantação de uma SAF aparece como alternativa viável para garantir o futuro do clube.
Cautela
O cenário, no entanto, exige cautela. Como destacou Fúlvio Barbosa, a escolha de qualquer modelo deve ser feita com responsabilidade e transparência. Ele defende que apenas um projeto sólido poderá devolver ao Patrocinense a estabilidade necessária para crescer e voltar à elite do futebol estadual.
Enquanto novas decisões não são tomadas, o CAP segue em compasso de espera. A torcida aguarda novidades sobre a convocação de eleições e sobre possíveis soluções para a crise financeira. Mesmo em meio às incertezas, o sentimento demonstrado por José Félix e Fúlvio Barbosa é unânime: o amor pelo clube permanece inabalável.