Foto feita na Câmara Municipal (da esquerda para a direita) : Hugo Machado da Silveira (ex-diretor do Museu de Patrocínio que hoje leva seu nome), Sebastião Eloi do Santos (jornalista criador da Gazeta de Patrocínio) e Gerson de Oliveira (intelectual que foi diretor da Bolsa de Valores de São Paulo). Foto: acervo público
Comemoração. No começo de cada ano, o dia 12 é muito importante para a história de Patrocínio. Em janeiro, a data refere-se tão somente ao aniversário da cidade de Patrocínio. Por exemplo, no 12 de janeiro passado o Município completou 150 anos como cidade. Sem menção sequer pelas autoridades de plantão. Agora, 12 de fevereiro comemora-se a partida para a vida espiritual de duas lendas patrocinenses. Um, mestre com as letras, o outro mestre do saber e da fé. Um, 27 anos sem ele. O outro, 20 anos. Viveram em Patrocínio numa mesma época. São contemporâneos. Tinham praticamente a mesma idade. Amaram esta terra como ninguém. Um nativo, o outro patrocinense adotivo. Faleceram numa mesma data (12 de fevereiro) em anos diferentes. A saudade e o legado de cada um os eternizaram. Sebastião Elói e Padre Caprázio são mitos patrocinenses. Esse o europeu mais patrocinense de todos.
JORNALISTA DO SÉCULO XX – As gerações atuais, talvez, não saibam tanto. Sebastião Elói dos Santos, o Tião Elói ou Briola, não foi apenas o maior jornalista no século passado e o criador da sua axiomática Gazeta de Patrocínio, em 1938. Alguns de seus passos brilharam, e ainda brilham, pelos caminhos da cidade. Cofundador da Rádio Difusora (1949), cofundador do Aéreo Clube (anos 40), poeta, escritor, maçom, profundo conhecedor da história de Patrocínio, diretor do primeiro grande clube esportivo da cidade (Ipiranga E.C., anos 40) e fundador, juntamente com onze confrades, da Academia Patrocinense de Letras (1982). Também foi vereador, em dois mandatos, nos anos 50/60. Antes de fundar a Gazeta, trabalhou em algumas cidades da região.
VIDA – Sebastião Elói nasceu em 7 de agosto de 1906, na então Rua 15 de Novembro (hoje, Rua Gov. Valadares). Um dos filhos do também brilhante jornalista José Elói dos Santos (avô do José Elói do MaisUm). Autor de pérolas da literatura patrocinense, tais como os poemas Aquarela Rangeliana e Eu Morto! Criador das insuperáveis (até hoje) sátiras políticas envolvendo Patrocínio. Aos 90 anos, debilitado por doença, faleceu em 12 de fevereiro de 1997, às 10h30, em casa, precisamente em uma quarta-feira de Cinzas. Isso após um período internado na Santa Casa. No dia seguinte, sepultado no Cemitério Municipal, onde o seu corpo se uniu de vez à terra que amou. A terra mel-rangeliana que tanto falou e escreveu. União perfeita.
UM CRONISTA ADMIRADOR – No sábado imediato (15/2/1997), na Primeira Coluna, no Jornal de Patrocínio, está escrito: “Escrever o quê, se ele escreveu de tudo para nós. Falar o quê, diante daquilo que ele sempre nos falou. Despedir porquê, se ele continua vivo em nosso coração. Chorar não é preciso. Sua obra, sua simplicidade, sua inesquecível amizade, são maiores do que qualquer dor. Sua presença, material ou espiritual, é dádiva de imenso valor.”
SETE ANOS DEPOIS... – Quinta-feira, 12 de fevereiro de 2004, pouco antes do Carnaval. Dá-se a partida de outro mestre, outra lenda. Também juntou-se à terra que tanto amou, eternamente. Padre Caprázio, professor de Química (sobretudo), Física, Religião e Ciências.
ALUNO DE PRÊMIO NOBEL – No Ginásio Dom Lustosa tornou-se o melhor professor de Química de sua história. Há quem diga o melhor da história da Região. No seu curriculum, cursos na Holanda e estágio com o Professor Fritz Feigl (cientista austríaco que venceu o Nobel em 1923). O curso/aprendizagem do Padre Caprázio com esse professor da Universidade de Viena, ocorreu no Rio de Janeiro, em 1944.
BIOGRAFIA DO PADRE – Bernardes Jonhannes Marie Franken nasceu em Amsterdã, no dia 03 de março de 1907 (se vivo, estaria completando 117 anos). Curso Teologia e Filosofia. Aos 28 anos de idade, já como Padre Caprázio, da Congregação dos Sagrados Corações, chegou ao Brasil. Permaneceu no Rio de Janeiro por três anos, em atividades pastorais. Em 1938, veio para Patrocínio. Exatamente para o célebre Ginásio Dom Lustosa, onde morou (como todos os padres holandeses) e lecionou. Portanto, dez anos após a inauguração da escola. O mestre Caprázio foi educador também no Colégio N. S. do Patrocínio, Colégio Professor Olímpio dos Santos e Escola Agrícola.
AMADA TERRA BRASILEIRA – Viveu em Patrocínio por 65 anos. Com dois pequenos interregnos. Um na década de 40, quando esteve na então capital da República. E o outro, em Araguari. Neste município, a Congregação tentou convencê-lo a efetivar a sua transferência. Mas o seu amor incondicional à cidade de Patrocínio e a reciprocidade dos patrocinenses impediram a sua mudança de paróquia.
CENAS INESQUECÍVEIS – O laboratório do Padre Caprázio no Dom Lustosa era até atração com suas experiências químicas. O seu pequeno caminhão (importado). A bicicleta (com cano baixo, pois andava só de batina branca). Os sinais de direção com as mãos ao pedalar pelas ruas. As “provinhas” (teste surpresa para avaliar o estudo diário do aluno, que valia ponto). A interpretação do comportamento dos animais. Pequenas cobras (répteis) e pássaros, em suas mãos. A sua autoridade de mestre durante a aula.
FÉ – Da década de 50 à década de 90 foi o sacerdote da Igreja de São Francisco. Comunidade pela qual tinha adoração paternal.
MOMENTOS INESQUECÍVEIS – Este autor teve a divina felicidade ao despedir de Padre Caprázio na Casa Paroquial Padre Damião de Molokai. E de Sebastião Elói, na Santa Casa, poucos dias antes de seus respectivos falecimentos. Esses últimos encontros foram uma oferenda da vida. E de Deus!
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