Eny em 4 de julho de 1936, dia do seu casamento

Há tempos comecei a trabalhar no meu novo livro, “A História do Café em Patrocínio no Cerrado Mineiro” (título provisório). Tenho um longo trabalho de pesquisa pela frente. Já estou na pesquisa há pelo menos 10 anos e talvez tenha ainda uns seis meses ou mais. Há uns oito anos, em uma crônica, falei da intenção de escrever tal livro. Com essa divulgação, recebi uma mensagem de Hilda Guimarães (filha de Eny), que registra uma história fascinante de uma pioneira que, para complementar a renda da família, vendia cafezinho, acompanhado de suas delícias, na estação ferroviária de Patrocínio. A história me interessou muito, tanto que encontrei uma forma de colocá-la na primeiro capítulo do livro. Mas, antecipo aqui a história fantástica de Eny Maciel Resende.

Antes, a mensagem de Hilda Guimarães que disse: “Estimado Jornalista, felicito pela iniciativa do livro sobre o Café do Cerrado que aguardava desde há muito, quando minha mãe, Eny Maciel Resende, teve o insigh para a venda do cafezinho na estação ferroviária, onde seu marido prestava serviço. Primeira comerciante do cafezinho no Oeste mineiro, cidadã patrocinense por opção, encaminhei sua biografia para vários políticos pensando no reconhecimento justo e no literário proposto. Espero que o pioneirismo do seu livro abra a oportunidade para prestigiar o comércio do cafezinho e a inventiva dessa patrocinense. Por essa razão, comprovo o meu desejo de sucesso no lançamento do seu livro. Os outros motivos, que passam pelo orgulho patrocinense, esses você já os conhece bem. Cordialmente, Hilda Guimarães”

A História

Eny Maciel Resende nasceu em 31 de julho de 1913, em Barra do Paraopeba, onde moravam seus pais, Theopisto Dias Maciel e Maria Bárbara Ferreira. Recebeu o nome Eny por conta de Saint-Denis, a basílica francesa em evidência nos noticiários mundiais, referida em repetidas mensagens dos telégrafos da Rede Mineira de Viação. Quando Barra do Paraopeba foi inundada para formar a represa de Três Marias, o registro de Eny foi transferido para Patrocínio, cidade que ela escolheu pelo coração.

Sua irmã mais velha, Philocelina, se casou aos 12 anos, deixando para Eny, com apenas seis anos, a responsabilidade de dar suporte à sua mãe cardíaca e aos irmãos: Ephigênia, Carlos, Hilda, Zita e Benedito Expedito. Com sua irmã Ephigênia, apelidada de Preta, tinha uma amizade intensa e um companheirismo incomum. Aos poucos, Eny tornou-se responsável pela cozinha, administração do lar e aprendeu a costurar, bordar e fazer crochê.

Theopisto Dias Maciel, viúvo, mudou-se com a família para Patrocínio, onde assumiu o cargo de chefe da estação. Eny, já adulta, conheceu João Resende, um jovem telegrafista aprovado pela Rede Mineira de Viação. Apaixonaram-se e, após um período de correspondências, casaram-se em 4 de julho de 1936, no pátio da estação de Patrocínio. O casamento foi celebrado pelo Padre Damião Kleverkamp, e o vestido de noiva foi confeccionado pela própria Eny.

Com o pequeno salário de João, o casal enfrentou dificuldades financeiras. Eny teve a ideia de vender café e quitandas na plataforma da estação durante a parada do trem de passageiros. Aprovada pela diretoria da RMV, Eny começou a vender café e quitandas, tornando-se a primeira comerciante de cafezinho da região. Sua iniciativa pioneira foi seguida por outras esposas e filhas de agentes de estação.

O casal teve quatro filhos: João Resende Filho, Paulo Resende, Hilda Maciel Rezende e Dulce Maciel Rezende. Eny administrava a casa e o comércio com dedicação, preparando biscoitos, pães de queijo, pasteis e sorvetes. Em 1961, abriu uma lojinha de aviamentos, bijuterias e miudezas ao lado do Bar Brasil, que administrava com orgulho.

Após 25 anos de casados, Eny e João se separaram. Eny enfrentou tempos difíceis, fechando o Bar Brasil e a lojinha. Passou a confeccionar peças de crochê, que vendia em butiques ou por encomenda. Tentou morar em Brasília com os filhos, mas não se adaptou à vida na capital. Retornou a Patrocínio, onde enfrentou solidão e dificuldades financeiras.

Na década de 70, Eny sofreu um AVC, mas se restabeleceu e preparou o casamento das filhas. A chegada dos netos trouxe alegria e revitalização para sua vida. No entanto, o Mal de Alzheimer começou a afetá-la, e sua família lutou para cuidar dela durante anos. Eny faleceu em 26 de outubro de 1998, no Hospital Prontonorte de Brasília, e foi sepultada no Campo da Esperança, ao lado de seu neto Thiers Henrique e sua nora Zilda.

Eny Maciel Resende deixou um legado de pioneirismo, trabalho, dedicação e amor. Sua história é um exemplo de superação e determinação, marcando todos que a conheceram e amaram.

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