Secretário-geral da aliança militar faz advertência em audiência nos EUA e amplia pressão sobre países do Brics


Mark Rutte, secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), com Lula.
Foto: Ricardo Stuckert / PR
Da Redação da Rede Hoje

O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Mark Rutte, alertou nesta terça-feira (15) que países como Brasil, China e Índia poderão sofrer sanções secundárias caso mantenham relações comerciais com a Rússia. A declaração foi feita durante audiência no Congresso dos Estados Unidos, em meio ao aumento da pressão diplomática coordenada entre Washington e a Otan contra Moscou.

O alerta de Rutte acompanha o anúncio feito na véspera pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que deu um prazo de 50 dias para a Rússia encerrar a guerra na Ucrânia. Caso contrário, novas sanções serão aplicadas, além do envio de armamento adicional à Ucrânia, incluindo sistemas antimísseis Patriot.

Durante sua fala, Rutte direcionou-se especificamente aos membros do Brics — bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul —, destacando que transações comerciais com Moscou poderão ser interpretadas como apoio econômico indireto à guerra. “Você pode querer dar uma olhada nisso, porque pode te atingir muito forte”, afirmou.

As chamadas sanções secundárias são punições aplicadas a países ou empresas que mantêm relações econômicas com Estados já sancionados, neste caso, a Rússia. A iniciativa busca aumentar o isolamento internacional de Moscou e elevar os custos da continuidade do conflito.

A medida ameaça diretamente o Brasil, que mantém relações comerciais com a Rússia, principalmente no setor de fertilizantes — insumo essencial para o agronegócio nacional. A nova postura da Otan pode forçar uma reavaliação da diplomacia comercial brasileira diante do risco de retaliação.

Pressão coordenada

A advertência do chefe da Otan ocorre um dia após Trump anunciar o endurecimento das políticas comerciais contra países considerados aliados da Rússia. O republicano declarou que poderá impor tarifas de até 100% sobre produtos exportados por nações que não colaborem com o esforço de pressionar o Kremlin.

Em declarações anteriores, Trump já havia acusado os países do Brics de tentar enfraquecer a hegemonia do dólar e ameaçou aplicar tarifas generalizadas a quem aderisse à criação de uma moeda alternativa. No início de julho, ele anunciou que qualquer membro do Brics poderá ser automaticamente taxado em 10%.

Cúpula do Brics

No mesmo mês, a cúpula do Brics no Rio de Janeiro reuniu os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Narendra Modi (Índia) e o primeiro-ministro chinês Li Qiang, com pautas centradas na integração econômica do bloco e na criação de mecanismos financeiros independentes do sistema ocidental.

O posicionamento da Otan amplia a tensão geopolítica em torno do bloco, que tenta se consolidar como alternativa à ordem liderada pelos Estados Unidos.

Impacto econômico

Segundo analistas, o objetivo da pressão é dificultar o fluxo de comércio internacional com a Rússia, ampliando o custo econômico da guerra. Apesar disso, dados de 2024 mostram que o comércio entre Rússia e EUA ainda movimentou US$ 3,5 bilhões, especialmente em áreas sensíveis como fertilizantes, metais e combustível nuclear.

Com o novo alerta da Otan, países como o Brasil devem enfrentar o dilema entre manter seus interesses comerciais ou atender à pressão diplomática e econômica do Ocidente.

A decisão deve considerar os impactos internos no abastecimento de insumos estratégicos e as consequências diplomáticas dentro do próprio Brics.


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