A parceria tem méritos inegáveis — como a expertise de uma instituição centenária —; vamos acompanhar os ganhos reais para Patrocínio.
Foto: Dagoberto Nogueira | NTAI
Presidente do IPM, reverendo Cid Caldas, assina o acordo de parceria com o prefeito de Patrocínio, Gustavo Brasileiro.
Da redação da Rede Hoje
A assinatura do protocolo entre a Prefeitura de Patrocínio e o Instituto Presbiteriano Mackenzie (IPM) traz esperanças de desenvolvimento educacional e econômico para a cidade e, é claro, como todo empreendimento, exige uma análise cuidadosa para que os benefícios anunciados se concretizem de forma equitativa. Embora a parceria tenha méritos inegáveis — como a expertise de uma instituição centenária —, é preciso acompanhar de perto como as promessas se traduzirão em ações práticas para a população.
Potencial da Parceria
O Instituto Mackenzie possui reconhecida tradição em ensino e pesquisa, o que pode agregar valor a Patrocínio. Projetos como a fazenda modelo experimental e a realização de congressos acadêmicos têm o potencial de atrair investidores, estudantes e pesquisadores para a região, colocando a cidade no radar de inovação agropecuária e tecnológica. A capacitação profissional, se bem direcionada, pode preparar mão de obra local para setores estratégicos, como agronegócio e tecnologia, áreas em que o município já tem relevância.
Além disso, o apoio técnico do Mackenzie à prefeitura em áreas como abastecimento urbano (via MackGraphe) pode resultar em soluções eficientes para desafios locais, desde que haja diálogo constante entre a instituição e as demandas reais da população.
Mesmo com otimismo, a Rede Hoje levanta questões que considera importantes:
1. Investimento na educação pública: a parceria menciona capacitação de professores da rede municipal. Isso é muito positivo, ainda mais se houver recursos diretos para melhorar infraestrutura escolar ou ampliar vagas em escolas públicas.
2. Acesso democrático: cursos e eventos devem ser planejados para incluir a população de baixa renda, evitando que sejam restritos a alunos do Mackenzie ou a quem possa pagar.
3. Custos para o município: se a fazenda experimental exigir adaptações em infraestrutura (como estradas ou redes de energia), é preciso garantir que os gastos não recaiam exclusivamente sobre os cofres públicos.
Outro ponto crucial é a geração de empregos. Embora a instalação de projetos como a fazenda modelo possa criar vagas, é necessário que essas oportunidades sejam prioritariamente destinadas a moradores locais e que incluam cargos qualificados, não apenas temporários ou de baixa remuneração.
Mackenzie
Não há dúvida de que a instituição também ganha com a expansão para o interior mineiro: aumenta sua influência acadêmica, capta novos alunos e fortalece parcerias com o setor produtivo. No entanto, isso não é necessariamente negativo — desde que haja reciprocidade. Por exemplo, se a fazenda experimental servir tanto para pesquisas da instituição quanto para capacitar produtores rurais da região, o acordo poderá ser vantajoso para ambos os lados.
Perspectiva Equilibrada
A parceria é, de fato, uma oportunidade válida e seu sucesso dependerá de como será executada. Para que Patrocínio saia ganhando, é fundamental que:
- A prefeitura negocie cláusulas claras que garantam contrapartidas sociais e econômicas para a cidade;
- Haja transparência sobre os investimentos do Mackenzie e o uso de recursos públicos;
- A população seja consultada para direcionar projetos às suas necessidades reais (ex.: qualificação em áreas com déficit de mão de obra, como tecnologia e agroindústria).
A colaboração entre Patrocínio e o Mackenzie tem ingredientes para ser positiva, mas ainda está no campo das intenções. O caminho agora é transformar o protocolo em projetos concretos, com metas mensuráveis e benefícios compartilhados. Enquanto a iniciativa merece apoio por seu potencial inovador, a sociedade deve permanecer atenta — não por ceticismo, mas para garantir que o desenvolvimento prometido chegue a todos, e não apenas a alguns.
Otimismo com responsabilidade.
Se bem gerida, a parceria pode ser um exemplo de como instituições privadas e o poder público podem, juntos, impulsionar o progresso de uma cidade. Mas, para isso, é preciso ação, planejamento e, acima de tudo, compromisso com o interesse coletivo.