Data reforça a importância dos povos originários para a identidade nacional e a luta por direitos

Indígenas de diferentes etnias durante assembleia em defesa de seus direitos e da demarcação de terras. ( Foto: Daniela Huberty/COMIN
No dia 19 de abril, o Brasil celebra o Dia dos Povos Indígenas, uma data que vai além do simbolismo e se transforma em um momento de reflexão sobre a diversidade cultural, a resistência e os desafios enfrentados pelos primeiros habitantes do território brasileiro. A data, originalmente instituída como "Dia do Índio" em 1943, foi renomeada em 2022 para valorizar a pluralidade desses povos e combater estereótipos prejudiciais.
Os povos indígenas são fundamentais para a história e a formação do Brasil. Suas culturas, línguas e conhecimentos tradicionais contribuíram para a construção da identidade nacional. Apesar disso, enfrentam séculos de violência, discriminação e desrespeito aos seus direitos. O 19 de abril serve para lembrar que a luta por demarcação de terras, acesso à saúde e educação diferenciada, e contra o preconceito, ainda é urgente.
A mudança no nome da data, de "Dia do Índio" para "Dia dos Povos Indígenas", foi proposta pela deputada Joenia Wapichana, primeira mulher indígena eleita para o Congresso Nacional. O termo "índio" carrega uma carga colonial e pejorativa, enquanto "povos indígenas" reconhece a diversidade e a autonomia dessas comunidades. A alteração foi um passo importante no combate ao racismo e na valorização das culturas originárias.
Segundo o último Censo (2022), o Brasil possui cerca de 1,7 milhão de indígenas, sendo mais de 780 mil vivendo em áreas rurais. Esses números, porém, não captam toda a riqueza das mais de 300 etnias e 270 línguas faladas no país. Cada povo tem suas tradições, cosmovisões e modos de vida, que precisam ser respeitados e preservados.
A data foi inspirada no Congresso Indigenista Interamericano, realizado no México em 1940, que recomendou a criação de um dia dedicado aos povos originários. No Brasil, o decreto de 1943 foi um avanço, mas, por décadas, a data foi marcada por representações estereotipadas e folclóricas. Hoje, movimentos indígenas reivindicam que o 19 de abril seja um dia de luta, não apenas de celebração.
Entre as principais demandas está a demarcação de terras, essencial para a sobrevivência física e cultural desses povos. A invasão de garimpeiros, madeireiros e grileiros em territórios indígenas, especialmente na Amazônia, tem causado destruição ambiental e violência. Casos como o do povo Yanomami, que enfrentou uma grave crise humanitária em 2023, mostram a necessidade de políticas públicas eficazes.
Além da terra, os indígenas lutam por educação escolar diferenciada, que respeite seus saberes, e por acesso à saúde de qualidade. Muitas comunidades sofrem com a falta de médicos, medicamentos e a disseminação de doenças trazidas por invasores. A pandemia de Covid-19 evidenciou essas vulnerabilidades, com altas taxas de mortalidade em várias aldeias.
O Dia dos Povos Indígenas também é uma oportunidade para combater preconceitos. Muitas vezes, a imagem do indígena é reduzida a figuras do passado ou a representações caricatas. Na realidade, esses povos estão presentes em todas as esferas da sociedade, desde a política até as universidades, mantendo viva sua cultura enquanto se adaptam aos novos tempos.
A contribuição indígena para o meio ambiente é outro aspecto crucial. Seus conhecimentos sobre agricultura, manejo florestal e biodiversidade são essenciais para o combate às mudanças climáticas. Estudos comprovam que terras indígenas são as mais preservadas do país, mostrando que sua proteção é vital para o futuro do planeta.
Apesar dos avanços, como a criação do Ministério dos Povos Indígenas em 2023, os desafios persistem. O racismo, a criminalização de lideranças e os retrocessos em políticas públicas são obstáculos constantes. A data deve servir para pressionar o governo e a sociedade a cumprirem seus deveres para com esses povos.
Para celebrar o 19 de abril de forma consciente, é importante buscar informações corretas, apoiar organizações indígenas e repudiar violações de direitos. Escolas, universidades e instituições podem promover debates que mostrem a realidade indígena além dos estereótipos.
O Brasil só será verdadeiramente democrático quando os povos originários tiverem seus direitos plenamente garantidos. O Dia dos Povos Indígenas é um convite para reconhecer suas contribuições, honrar suas lutas e construir um futuro mais justo.