Plataforma colaborativa que leva conhecimento e informação ao cafeicultorquanto quanto às melhores práticas para conservação dos recursos naturais e resiliência aos efeitos climáticos na Região do Cerrado Mineiro chega a Serra do Salitre.

O projeto-piloto, iniciado em 2019, na bacia do córrego Feio, em Patrocínio-MG, está com data marcada para transferir sua metodologia para demais municípios da Região do Cerrado Mineiro. Foto: Divulgação|CCA

Por Polliana Dias
O Consórcio Cerrado das Águas (CCA), fundado em 2015, é uma plataforma colaborativa que agrega esforços entre empresas, governo e sociedade civil para a preservação e conservação ambiental para combater as mudanças climáticas. A iniciativa reúne vários integrantes da cadeia produtiva para que, juntos, atuem com este objetivo em uma bacia hidrográfica.
O projeto-piloto, iniciado em 2019, na bacia do córrego Feio, em Patrocínio-MG, está com data marcada para transferir sua metodologia para demais municípios da Região do Cerrado Mineiro, sendo Serra do Salitre o primeiro a receber, com a bacia do Ribeirão Grande, a partir de maio, a tecnologia com resultados comprovados pelo CCA que trabalha em três frentes: restauração, práticas agrícolas climaticamente inteligentes e gestão eficiente dos recursos hídricos.
A dinâmica da plataforma
Por meio do PIPC - Programa de Investimento no Produtor Consciente, o CCA oferece alternativas e soluções para a preservação dos recursos naturais e o combate às mudanças climáticas elaborando o PIP - Plano Individual de Propriedade, e alinhando com cada produtor, a melhor forma de implementar as estratégias propostas pela equipe de especialistas do CCA, de forma conjunta dentro da bacia hidrográfica.
O PIPC é um programa desenvolvido pelo CCA que tem como principal característica a rede de engajamento, desde o produtor que reside e trabalha na bacia, permeando toda a cadeia produtiva do café, até o comprador de café em qualquer parte do mundo, passando pelos atores locais, como promotoria, associações e poder público.
“Não fazemos nada sozinhos e o apoio e união de esforços e imprescindível para que os cafeicultores consigam se tornar resilientes aos indesejáveis efeitos das mudanças climáticas. Para que a tecnologia, já experimentada e validada, pelo CCA e seus integrantes gere resultados, o envolvimento de todos: poder público, sociedade, empresas e cafeicultores é fundamental”, informa Fabiane Sebaio, secretária executiva do CCA.
Dinâmica validada e experimentada pelos cafeicultores
A metodologia que tem alcançado resultados tem a validação dos cafeicultores que experimentam melhorias significativas na gestão hídrica da propriedade por meio de ações sustentáveis.
“Antes de entrar para o CCA eu plantava algumas árvores, mas sem muita programação. Com o tempo, a água que abastece minha propriedade rural, no córrego Feio, começou a secar e foi então que a equipe do CCA propôs de plantarmos muitas árvores na fazenda para fazer a água voltar, assim fizemos. Hoje tem muita água na propriedade, mesmo vindo de um tempo de estiagem, pois este ano a chuva foi pouca e, mesmo assim, produzi normalmente e continuo plantando as árvores junto com o pessoal do CCA para garantir a produção e a água dos próximos anos”, conta o cafeicultor Vando Lázaro Pires.  
De acordo com o relatório divulgado pelo CCA em sua plataforma, foram realizadas de 2019 a 2020, 319 visitas a produtores, produzidos 94 planos individuais de propriedade e implementados em 57 propriedades do plano-piloto na bacia do córrego Feio. Por meio de restauração 100% orgânica, foram plantados 17 hectares, 20 mil mudas e o alcance de 97 hectares de área conservada.
O relatório está disponível para consulta e download em sua plataforma.
Metodologia em Serra do Salitre
Fabiane esclarece que faz parte do plano estratégico do CCA transferir sua tecnologia para os municípios produtores de café da Região do Cerrado Mineiro. “A implementação do projeto-piloto na bacia do córrego Feio foi concluída em janeiro deste ano (2021), com sucesso de adesão de 70% das propriedades aptas a receber o PIPC. A estratégia de expansão, que visa formar corredores ecológicos e alavancar os ganhos de biodiversidade da região como um todo, será iniciada em maio, em Serra do Salitre”, declara Fabiane.
Apoiado pelos resultados do PIPC, o CCA se prepara para avançar também para outros municípios produtores de café da Região. “Juntos, esses municípios são responsáveis por grande parte da produção de café no bioma e têm pontos críticos no que se refere à grande perda da vegetação nativa e numerosas espécies ameaçadas. Neste ano de 2021, pretendemos expandir para Serra do Salitre e Coromandel. Os diagnósticos das respectivas áreas e as parcerias estabelecidadas com o poder público de cada município nortearão as tomadas de decisão. O cadastro dos produtores e a análise das propriedades das áreas prioritárias a serem restauradas serão fundamentais para definir as estratégias que devem ser adotadas em cada propriedade”, informa a secretária executiva.
O monitoramento das propriedades apresentou bons resultados e 82% dos produtores declararam que irão continuar executando as estratégias em sua lavoura. O produtor Vando confirma. “O PIPC, e todo o apoio do CCA é maravilhoso, temos orientação e auxílio para pensar e agir de forma inteligente nas práticas da nossa lavoura e cuidar da natureza, porque a gente sabe que se não for assim nossa produção não vai para frente. Eu sempre comento com outros produtores o quanto o CCA mudou minha forma de me preocupar e cuidar do meio ambiente e, se eu puder aconselhar, sempre digo que se tiver oportunidade de participar da iniciativa, que participe, pois faz uma grande diferença na propriedade e ainda ajuda todo mundo. É uma iniciativa muito boa”, conclui.
Sobre o Consórcio Cerrado das Águas
Criado em 2015, em Patrocínio - MG, o Consórcio Cerrado das Águas tem como objetivo conscientizar produtores da região sobre a importância de seus ativos ambientais por meio do diagnóstico e investimento nos mesmos, garantindo sua preservação a longo prazo.
A iniciativa possui como membros associados as seguintes empresas: Nescafé, Expocaccer, Nespresso, Lavazza, Cooxupé, CofCo, Volcafé, além das instituições apoiadoras como Federação dos Cafeicultores do Cerrado, CerVivo, Imaflora e IEB - Instituto Internacional de Educação do Brasil.
Em 2019, o projeto piloto recebeu do Fundo de Parcerias para Ecossistemas Críticos (CEPF) o valor de US$400 mil para implementar o programa que irá promover, inicialmente, o investimento e a proteção dos ecossistemas naturais encontrados em mais de 100 propriedades ao longo da bacia do Córrego Feio. A quantia é o maior subsídio já concedido pelo CEPF, que conta com exigentes doadores como a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), União Europeia, Fundo Mundial para o Ambiente (GEF), Governo do Japão e Banco Mundial

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