Jornalista disse que represas construídas pelo "governo do PT" tiveram suas "comportas abertas", sugerindo que o partido estaria por trás da tragédia no estado
O jornalista Alexandre Garcia, que sugeriu que o PT é culpado pela tragédia no RS. Reprodução/YouTube
Por Ivan Longo | Revista Forum
O governo do Rio Grande do Sul e a Companhia Energética Rio das Antas (Ceran) divulgaram notas oficiais, nesta segunda-feira (11), em que desmentem a fake news disseminada pelo jornalista Alexandre Garcia sobre as enchentes que atingem o estado e que já vitimaram mais de 40 pessoas.
Em comentário ao vivo no programa "Oeste Sem Filtro", do site de extrema direita Revista Oeste, na última sexta-feira (8), Garcia fez uma acusação gravíssima contra o PT: sugeriu que barragens de represas construídas por "governo petista "no Rio Grande do Sul foram "abertas" de forma deliberada, e que isso seria um dos fatores que culminou na tragédia no estado.
"Recebo notícias hoje de manhã, de que é preciso investigar que não foi só a chuva. A chuva foi a causa original, mas em governos petista foram construídas, ao contrário do que recomendavam as medições ambientais, três represas pequenas que aparentemente abriram as comportas ao mesmo tempo. Isso causou uma enxurrada parecida com aquelas que acontecem perto da Chapada dos Veadeiros, que mata as pessoas. Então, é preciso investigar isso também (...) Há uma causa além das chuvas", disparou o jornalista.
As represas citadas por Alexandre Garcia são parte das hidrelétricas Castro Alves, Monte Claro e 14 de Julho, na região do Vale do Taquari. Todas elas são administradas pela Companhia Energética Rio das Antas (Ceran). A empresa informou, em nota, que nenhuma das represas em questão possuem comportas de regulação do fluxo da água.
"As barragens não conseguem reduzir altas afluências e mitigar os impactos no entorno do rio, pois as barragens da Ceran possuem vertedouro do tipo soleira livre e tem a característica 'a fio d’água', ou seja, não tem capacidade de armazenamento e nem de regular o fluxo do rio, pois todo o excedente de água passa por cima da barragem", diz o comunicado.
Também através de nota oficial, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura do Rio Grande do Sul (Sema) vai na mesma linha, desmentindo a fake news de Alexandre Garcia.
"A fiscalização e relatório de barragens para geração de energia são exclusivos da Aneel. Todavia, em caso de emergência de rompimento ou avarias, a Fepam e a Defesa Civil são acionadas, conforme previsto no Plano de Ação de Emergência, sendo esses atos exclusivo para riscos apresentados na estrutura da barragem, não tendo relação direta com a vazão", pontua a secretaria.
"No caso das barragens da Ceran, em especial na atingida pelo evento climático (UHE Castro Alves), não existem comportas e a estrutura do vertedouro é do tipo soleira livre, ou seja, a água excedente passa por cima do barramento, não tendo ocorrido, durante o temporal, nenhuma abertura mecânica", prossegue o órgão estadual.
AGU pede investigação contra Alexandre Garcia por fake news
O ministro-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, anunciou na noite de domingo (10) que determinou a abertura de um procedimento contra Alexandre Garcia na Procuradoria Nacional de Defesa da Democracia.
"Determinei à Procuradoria Nacional de Defesa da Democracia a imediata instauração de procedimento contra a campanha de desinformação promovida pelo jornalista. É inaceitável que, nesse momento de profunda dor, tenhamos que lidar com informações falsas", escreveu Messias sobre o caso.
"Vamos buscar a responsabilização", emendou o AGU.
Publicada originalmente na Revista Forum