Tal qual as pessoas, as cidades não são perfeitas. Não são destinos acabados. Estão em dinâmica re/construção. Quem se lembra de Guimarães Rosa, dizendo: “Mire, veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam, verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra montão.”
Na busca de melhoria contínua, pessoas e cidades, precisam de uma valor imprescindível: A humildade. Humildade para aprender. Humildade leva ao autoconhecimento e o reconhecimento do sucesso do outro. Humildade faz evoluir, buscando novas experiência, inspiração, contexto e originalidade. Humildade faz gente ( e cidade) sair da bolha do óbvio.
Na senda da humildade, pessoas encontram seu próprio destino no mundo; cidades encontram sua vocação determinante.
Em papo reto, nossa Patrocínio de Minas, precisa de humildade para entender que, há séculos desperdiça potencial que poderia colocá-la no ranking nacional; e que, portanto, tem algum progresso, sim, mas está longe de ser uma cidade ideal.
Tenho absoluta certeza, se nossa cidade tivesse, trilhado no passado o entendimento político, alinhamento de forças, pacificação, trabalho inteligente e árduo, nossa realidade seria outra. Se agentes políticos e sociedade civil, tivessem a humildade de fazer um projeto sócio-político-econômico-cultural-educativo-turístico e ambiental. Pra ontem? Não. Para o século passado. Em minha geração, sem perspectivas de mudanças de paradigmas, me resta o lamento. A cultura por aqui é a do estrelato político, revezamento de ‘panelinhas’ no poder.
Em suma. As cidades espelham a mentalidade das pessoas que nela vivem. O escritor e urbanista, Ed Glaeser, matou a pau: “A força que advém da colaboração humana é a verdade central por trás do sucesso da civilização e o principal motivo da existência de cidades”.
Saindo das elocubrações e dos puxões de orelhas, vamos pisar o território de outra cidade.
Por breves três dias, levei meu olhar para percorrer a cidade de Ribeirão Preto.
Costumo dizer que para se começar a conhecer uma cidade, há que visitar a Biblioteca Municipal, o Mercado Municipal, casa de cultura e o jornal impresso local. No caso de Ribeirão Preto, não precisa todo esse trabalho. A cidade se mostra, se dá a conhecer generosamente.
Por exemplo, começo a rascunhar essa crônica em frente ao Theatro Dom Pedro II. A estética arquitetônica é de cair o queixo. No majestoso “Quarteirão Paulista”, Além do Theatro, inspirado em “L’ Ópera de Paris “, capacidade para 1588 espectadores, o Hotel Central, o Palace Hotel e o edifício Meira Júnior, onde funciona a Choperia Pinguim, que dispensa qualquer comentário. Há, um desconhecido, chamado Erasmo Carlos, se apresentaria no “Theatro Pedrão”.
Caminho um pouco e me dou de cara com novo espanto. Palácio Rio Branco. Colossal!.
Segundo me informa um senhor por ali, o estilo de fachada do monumento é uma transição do barroco para o moderno e foi inspirado nas fachadas arquitetônicas do início do século da França. A Belle Époque, floresceu em Ribeirão Preto e mais importante foi preservada. Pois a perplexidade veio ao saber que esta obra de 105 anos, ainda é o centro de poder na cidade. É onde, ainda hoje, funciona a Prefeitura e diversas secretarias de governo.
Bem em frente Palácio, a praça, fica a herma do Barão do Rio Branco, o primeiro monumento instalado em uma praça da cidade. Isso em 1913, antes, portanto, da inauguração do palácio, ocorrida em 1917 ( 109 anos, em Patrocínio, teria virado pó há muito)
Aos pés do Barão, me dou com uma “cápsula do tempo” contendo, Fotos, mensagens, cartas, jornais e revistas foram colocados dentro da cápsula. A urna futurista será aberta no dia 19 de junho de 2056, data em que Ribeirão Preto completará 200 anos de fundação. Daqui há 34 anos. Negócio a longo prazo. Ruim pra mim.
Pausa para um cafezinho, hora de aproveitar e ler “ A Tribuna- O jornal com a cara de Ribeirão" . A matéria de capa é “Explosão de criminalidade em RP” De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, no primeiro trimestre deste ano 38 pessoas por dia foram vítimas de algum furto ou roubo. Dois manos, falava um dialeto paulistês, fui tirar uma foto me deram uma olhadela. Bastou, se me fui dali. Já tinha observado, muita gente em situação de rua, dormindo nos bancos da Praça Carlos Gomes. Um misto de desigualdade social, desemprego, vadiagem flutuante, questão nacional, séria também nas ruas de RP...
Uai, isto aqui é o quê? O Calçadão, maior shopping á céu aberto do interior, compra serviços, gastronomia em pleno coração ribero-pretense.
Na terra do Dr Sócrates, Rai, William Bonner, Camila Queiroz, Carla Zambelli, e da Secretária de Cultura de Patrocínio, Cidinha Palucci, tem como característica pensar grande. Pensou-se grande no passado, presente e futuro.
Marketing pesado, efetivo. Muito conhecida pelo turismo de negócios e eventos. Conhecida pelos títulos de Capital do Chopp, Capital do Agronegócio, (A Agrishow 2022 fechou um total de R$ 11,2 bilhões em negócios e superou em 286,2% o volume registrado em 2019), Capital do café, do Açúcar e Álcool. “Cidade Patrona da Aviação” ( Patrocinaram o sonhos de voar de Santos Dumont, lá na europa) Em 2021, Ribeirão também recebeu o título de Capital da Cultura, (Feira Internacional do livro, considerada a segunda maior feira do livro a céu aberto do Brasil, e uma das maiores da América Latina)
Em várias partes da cidade mapas que orientam os turistas. Através dele fiquei sabendo de diversas atrações, que na ocasião, não seria possível conhecer. 37 atrativos. “Mamãe mandou bater neste aqui...” Museu de Artes, Catedral Metropolitana, Museu do Café, Casa Italiana... e chama a atenção a quantidade de parques. O verde impera. Aliás, pega bem saber. A cidade de Ribeirão Preto possui 93 áreas verdes que foram "adotadas" por instituições privadas e pela sociedade civil organizada. Fazem parte do Programa Cidade Verde, áreas verdes, praças, canteiros e parques que recebem os cuidados dessas empresas em troca de espaços publicitários. São três parques, sete áreas verdes, 15 praças e 68 canteiros centrais cedidos às empresas... “Mas eu sô muito teimoso bato neste aqui”. Fui ao Parque Tom Jobim. Bautiful de lindo.
As instituições privadas e sociedade civil organizada, são atores do progresso. A propósito, leio a Tribuna de cabo a rabo e custo muito a encontrar o nome do prefeito e de vereadores Ribeirão-Pretano. Claro que estão trabalhando e muito e muito, mas não “lacram”, não são protagonistas de tudo.
Como grande exemplo. Foi difícil deixar a Biblioteca Sinhá Junqueira. Ali eu, deveras me ranchei. Um palacete clássico. Que lugar aconchegante, fofo, tradicional-moderno, espaço vivo. “O objetivo da Biblioteca Sinhá Junqueira é o de promover o acesso ao livro e à leitura em múltiplas plataformas, possibilidades e sentidos”. E quando você pensa que é um espaço fundado e mantido pelo poder público, a grata surpresa. A dona do palacete Sinhá Junqueira, que fora esposa do maior empresário do setor sucroalcooleiro das Américas, não tinha filhos, deixou sua vontade impressa em um testamento: “Deixo a importância de seis milhões de cruzeiros, para o fim especial de ser fundada e instalada, na cidade de Ribeirão Preto, uma biblioteca pública, com acesso livre a todo cidadão, a qual será instalada no prédio da rua Duque de Caxias”. Tudo mantido pela Fundação Educandário “Cel. Quito Junqueira”, entidade com fins sociais e filantrópicos. A bibliotecária me conta isto de boca cheia...
O suprassumo do supradito é: Ribeirão Preto conversa bem com o passado, presente e futuro... e... e Patrocínio?