Foram debatidos, na ALEMG, os desafios enfrentados pelos grupos de reinado e congado, incluindo preconceito e a falta de recursos e política pública voltada à preservação cultural
Crédito Foto: Iepha
Da redação da Rede Hoje
A Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizou nesta quarta-feira (6/11), a audiência pública para discutir os desafios enfrentados pelos grupos de reinado e congado, incluindo preconceito e a falta de recursos, além da necessidade de políticas públicas voltadas à preservação cultural.
Durante o encontro, foram debatidos os desafios enfrentados pelos grupos de reinado e congado, incluindo preconceito e a falta de recursos, além da necessidade de políticas públicas voltadas à preservação cultural. “É fundamental preservar a memória para que a gente tenha justiça”, afirmou a deputada Andréia de Jesus (PT) ao abrir a audiência pública.
A deputada, que preside a Comissão de Direitos Humanos, convidou representantes de grupos culturais para debater a criação de políticas voltadas à proteção dessas manifestações. Na primeira parte do evento, representantes de várias comunidades relataram as dificuldades enfrentadas na preservação de tradições religiosas e culturais que remontam aos tempos de resistência contra a escravidão.
Jorge Antônio dos Santos, capitão da Guarda de Moçambique da Comunidade Quilombola dos Arturos, lamentou os casos recorrentes de intolerância e discriminação que atingem o congado. “Temos que voltar ao passado e resgatar aquilo que se perdeu por causa da opressão”, afirmou, reforçando a importância de se manter viva a memória dos ancestrais escravizados.
Elizabeth Pinheiro, presidente e rainha do Congo da Associação Cultural do Congado de Timóteo, reforçou a necessidade de respeito e reconhecimento, salientando a falta de apoio para grupos que preservam essas tradições há mais de um século. Rubens Júlio Soares dos Santos, gestor de patrimônio cultural em Rio Piracicaba, destacou ainda a dificuldade em obter conhecimento sobre a legislação e acessar recursos para manter ritos culturais.
Representantes do Iepha explicaram procedimentos que contribuem para preservar a cultura. Foto: Henrique Chendes
A deputada Andréia de Jesus ressaltou a urgência de integrar a polícia na proteção dos acervos culturais desses grupos. Segundo ela, enquanto furtos de peças em museus recebem atenção imediata, crimes contra os congadeiros muitas vezes são ignorados, o que revela uma disparidade preocupante no tratamento dessas questões.
Representantes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) também participaram da audiência, destacando o papel das ações de salvaguarda cultural. Nicole Faria Batista, gerente de patrimônio cultural imaterial do Iepha, explicou que a salvaguarda envolve pesquisas detalhadas, registro e divulgação de informações para promover a conscientização. “A gente não protege o que a gente não conhece”, afirmou.
A deputada Andréia anunciou a criação da Rota do Rosário, projeto que visa estimular o turismo nas cidades onde o reinado e o congado são manifestações tradicionais. Ela defendeu a ideia como uma medida não apenas de resistência ao racismo, mas também de fortalecimento econômico. Para Andréia, o projeto é um passo em direção à criação de políticas de Estado que assegurem o futuro dessas manifestações, independente das mudanças políticas.