O “Monstro de Capinópolis” é um caso envolto em mistério e controvérsia, continua a fascinar e intrigar até hoje, especialmente quando se considera o contexto político da época, marcado pela repressão da Ditadura Militar.

Foto: arquivo


Da redação da Rede Hoje

Nesta terça-feira, o canal Rede Hoje apresenta uma edição especial do programa Memória Documento, com uma entrevista exclusiva do jornalista Pedro Divino Rosa, mais conhecido como Pedro Popó, que entrevistou Orlando Sabino, o homem apelidado de “Monstro de Capinópolis”. O caso, envolto em mistério e controvérsia, continua a fascinar e intrigar até hoje, especialmente quando se considera o contexto político da época, marcado pela repressão da Ditadura Militar.

Orlando Sabino Camargo, nascido em 4 de setembro de 1946, em Arapongas, Paraná, tornou-se um nome associado a crimes brutais e a um dos maiores mistérios do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Descrito como uma figura cruel e sociopata, foi acusado de matar 25 pessoas entre Minas Gerais e Goiás, além de inúmeros animais. Sua primeira vítima teria sido um assassinato em Patrocínio, MG, o que fez sua fama de assassino espalhar-se rapidamente pela região.

A história de Sabino, no entanto, não é tão simples quanto a mídia e a versão oficial pintam. Nascido em uma família pobre e órfão de pai, ele tornou-se andarilho, chegando ao Triângulo Mineiro no início dos anos 1970. A versão de um “monstro” insensível se consolidou, mas as lacunas na apuração dos fatos e a imprecisão sobre suas vítimas levantam sérias dúvidas sobre a real culpabilidade de Sabino. Será que ele era realmente o serial killer que todos acreditavam? Ou ele foi manipulado por forças maiores, incluindo a Ditadura Militar?

Durante a década de 1970, a caçada a Orlando Sabino mobilizou centenas de homens da polícia, além de cães farejadores e até apoio do Exército e da Aeronáutica, conforme relatado pela revista Veja na época. Mas a captura de Sabino, em 1972, não corresponde à imagem de um monstruoso assassino. Trata-se de um jovem negro, de estatura baixa e porte franzino, cuja aparência contrastava fortemente com a figura aterrorizante criada pela mídia.

Sabino foi, então, internado em um hospital psiquiátrico, com a alegação de ser inimputável, sendo posteriormente transferido para o manicômio judiciário de Barbacena, onde permaneceu por 38 anos. Foi apenas em 2009 que, após a intervenção da Defensoria Pública, ele foi libertado e transferido para um lar de idosos, onde veio a falecer em 2013. A trajetória de Sabino levanta questionamentos sobre o papel do Estado e suas reais intenções durante a Ditadura Militar.

Pedro Popó, jornalista e autor do livro O Monstro de Capinópolis, se aprofundou na história de Sabino e teve a oportunidade de entrevistá-lo enquanto ele estava internado. Segundo Popó, Sabino se mostrou uma pessoa pacata e até afetuosa, comportando-se de maneira infantil, o que contradiz a imagem de um assassino frio e calculista. A maioria das confissões atribuídas a Sabino, conforme Popó, pode ter sido resultado de seu desejo de agradar seus interrogadores, uma característica observada por profissionais de saúde que cuidaram dele ao longo dos anos.

A versão de que Orlando Sabino foi vítima de uma manipulação por parte da Ditadura Militar ganha força quando se considera o papel do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) e a mobilização em torno de sua captura. A verdadeira intenção das autoridades parece ter sido a de encontrar e neutralizar possíveis focos de resistência política na região, e não apenas prender um homicida comum.

Há ainda a dúvida sobre a veracidade de algumas acusações que pesaram sobre Sabino. Um dos homicídios atribuídos a ele, o de Oprínio Ismael do Nascimento, foi cometido com uma arma de calibre 44, um tipo de armamento exclusivo do Exército, o que levanta sérias suspeitas sobre a capacidade de Sabino de ter tido acesso a tal armamento.

No entanto, a verdade sobre o caso de Sabino pode nunca ser totalmente esclarecida. A investigação de Popó revela um homem que, se de fato cometeu crimes, pode ter sido vítima de um sistema que o utilizou como peão em um jogo muito maior. As lacunas na apuração dos assassinatos e as manobras políticas da época deixam o caso envolto em um véu de mistério.

Em entrevista ao Memória Documento, Pedro Popó analisa como a história de Sabino foi distorcida e utilizada como ferramenta de controle social e político durante a Ditadura Militar. Ele destaca as contradições das acusações e sugere que o caso, além de trágico, foi também uma oportunidade para os militares encobrirem suas próprias ações repressivas.

Na reportagem, Popó explica que, apesar de sua internação e do tempo que passou recluso, a história de Orlando Sabino é um lembrete doloroso de como as vítimas da Ditadura Militar, sejam elas militantes ou até mesmo pessoas com transtornos mentais, foram usadas como bodes expiatórios para justificar a violência do regime. A verdadeira natureza dos crimes atribuídos a Sabino, e se ele era ou não realmente o "monstro" que o nome sugere, continua a ser um enigma não resolvido.

A matéria está disponível no canal da Rede Hoje no YouTube, no programa Memória Documento. Não perca a oportunidade de entender mais sobre essa história conturbada e cheia de reviravoltas, que ainda desperta debates sobre justiça, verdade e memória.


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