Volume não embarcado em junho ultrapassa 450 mil sacas e prejuízos já passam de R$ 78 milhões desde 2024; gargalo logístico preocupa o setor cafeeiro


Café acumulado nos armazéns à espera de exportação: portos brasileiros operam no limite — Foto: Sindicafe/MG
Da Redação da Rede Hoje

A crise logística nos portos brasileiros impediu o embarque de 453.864 sacas de café em junho de 2025, o equivalente a 1.375 contêineres, segundo dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). A falha na infraestrutura portuária causou perdas de mais de R$ 3 milhões apenas com custos extras de armazenagem e logística, e o país deixou de arrecadar cerca de R$ 1 bilhão em receita cambial no mês.

Desde junho de 2024, quando a entidade passou a monitorar os gargalos nos terminais, as perdas acumuladas por exportadores já somam R$ 78,9 milhões. As dificuldades se concentram nos principais portos utilizados para o escoamento do café brasileiro, especialmente em Santos (SP) e no Rio de Janeiro (RJ), responsáveis juntos por cerca de 96% dos embarques.

De acordo com o diretor técnico do Cecafé, Eduardo Heron, o cenário tende a piorar com a chegada da nova safra, principalmente dos cafés arábica e canéfora (conilon + robusta). “Em junho já observamos um aumento de 100 mil sacas não embarcadas em relação a maio. E como a estrutura portuária permanece inalterada, os atrasos devem se intensificar ao longo do segundo semestre”, alerta.

Heron defende medidas emergenciais para aliviar o colapso logístico, como acelerar leilões de terminais, ampliar berços e pátios, diversificar modais de transporte com investimentos em ferrovias e hidrovias, e criar indicadores logísticos eficazes. Segundo ele, os investimentos prometidos pelo governo são positivos, mas não resolvem o problema a curto prazo. “As obras levarão, no mínimo, cinco anos. Precisamos de soluções imediatas para não comprometer mais uma safra”, afirma.

Outro ponto de preocupação levantado por Heron é a restrição à participação de interessados no leilão do terminal Tecon Santos 10. Para ele, a exclusão injustificada pode inviabilizar o processo e levar à judicialização, atrasando ainda mais as soluções necessárias.

Atrasos generalizados

Conforme o Boletim Detention Zero (DTZ), elaborado pela startup ElloX Digital em parceria com o Cecafé, 49% dos navios tiveram atrasos ou alterações de escala nos portos brasileiros em junho. O Porto de Santos, responsável por 80% das exportações de café no primeiro semestre, registrou índice de 59% de atrasos, com navios aguardando até 37 dias para embarcar carga.

No Rio de Janeiro, que responde por 15,7% das remessas, 57% das embarcações também enfrentaram mudanças no cronograma. Em alguns casos, os intervalos entre os prazos iniciais e finais chegaram a 20 dias.

A lentidão nos embarques gera impacto direto nos produtores, já que o Brasil costuma repassar mais de 90% do preço da exportação ao cafeicultor. A interrupção no fluxo de receita acaba pressionando os elos mais frágeis da cadeia produtiva.

Boletim de monitoramento

O Cecafé convida exportadores a se inscreverem no Boletim Detention Zero, ferramenta que oferece dados sobre os prazos e movimentações nos principais terminais. O cadastro pode ser feito em https://app.pipefy.com/public/form/-SYfpMNK.

A expectativa do setor é que, com maior transparência e participação dos agentes envolvidos, seja possível cobrar ações concretas e coordenadas para garantir que a produção nacional de café continue competitiva no mercado global.


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