Aporte de R$ 1,6 milhão será destinado a produtores do Consócio Cerrado das Águas, de Minas Gerais, e terá a Cofco como parceiro estratégico

 A operação de crédito, inédita por seu viés hídrico, terá como foco propriedades cafeeiras da região do Cerrado Mineiro. Foto: Comunicação CCA

Da redação da Rede Hoje


A Rabo Foundation, braço de investimento de impacto do banco holandês Rabobank, o Consórcio Cerrado das Águas (CCA) e a Cofco Internacional acabam de firmar o primeiro financiamento de impacto voltado à resiliência hídrica da cafeicultura brasileira. A operação de crédito, inédita por seu viés hídrico, terá como foco propriedades cafeeiras da região do Cerrado Mineiro. A Cofco International, uma das maiores tradings do mundo e membro-associado do CCA e uma das idealizadoras do projeto, será a garantidora da operação e da compra do café. O valor total do financiamento será de R$ 1,6 milhão.

Para que projetos como esse sejam permanentes e gerem resultados duradouros e replicáveis, é necessário a participação de diversos stakeholders da cadeia de valor, este foi o fator que fez a COFCO International integrar o arranjo e engajar a participação de outros players de diferentes segmentos da cadeia de valor no projeto.

Desta maneira, a empresa, juntamente com os demais parceiros, busca garantir uma maior resiliência da cultura cafeeira e que os benefícios e conhecimentos gerados no campo sejam carreados até o consumidor final”, afirma Julia Moretti, Global Head de Sustentabilidade da COFCO International.


O projeto terá duração de uma safra e envolverá, neste primeiro ano, 10 fazendas de médio porte participantes do Programa de Investimento no Produtor Consciente do CCA e localizadas no entorno de Patrocínio, região de Minas Gerais com forte vocação para a cafeicultura e, como em outras áreas do país, com grandes desafios de sustentabilidade hídrica. Cada propriedade receberá entre R$ 130 mil e R$ 150 mil ao longo deste período. Além disso, receberão orientação técnica do Consórcio - contemplada na mesma linha de crédito - para a implementação das intervenções de campo necessárias para a chamada “Agricultura Climaticamente Inteligente”, com foco em resiliência hídrica.  

Este financiamento é um piloto que fornece os meios para começar a valorizar a relevância de uma melhor gestão da água na agricultura”, diz Lygia Freire Cesar, gerente de programa na Rabo Foundation para a América Latina. “No Brasil, nosso foco de atuação está no Cerrado por ser um bioma ainda pouco atendido pelo investimento de impacto e por ser crucial sob o ponto de vista de abastecimento de lençóis freáticos e suprimento de água”.

O financiamento, costurado pela consultoria brasileira Alimi Impact Ventures e demais parceiros, segue uma estrutura de investimento de impacto na qual o produtor acessa o recurso a taxas de juros abaixo do mercado e, em contrapartida, entrega indicadores pré-estabelecidos para a resiliência hídrica na propriedade e na bacia hidrográfica em que estão inseridos. O Consórcio Cerrado das Águas provê o recurso financeiro ao produtor via a emissão de Cédulas do Produtor Rural (CPR) e é responsável pela orientação técnica, desde o diagnóstico até o monitoramento das áreas com estratégias implementadas. 

O foco dessa linha de financiamento é no produtor médio, com áreas consolidadas de café de até 160 hectares, considerado o ‘missing middle'. Ou seja, não é pequeno o suficiente para acessar linhas de financiamento subsidiadas, nem grande o suficiente para negociar condições favoráveis de financiamento. Outro ponto relevante é o potencial do médio em engajar os pequenos produtores na implementação de estratégias benéficas para o solo e água”, afirma Angélica Rotondaro, sócia-fundadora da Alimi.

Segundo ela, a taxa de juros menor que a do mercado só foi possível no projeto-piloto pelo envolvimento da Rabo Foundation com o capital concessionário e da Cofco, tanto como comprador da matéria-prima como garantidor da operação, sem intermediários financeiros. 

No caso específico deste projeto, essa maior resiliência ocorrerá no manejo de recursos hídricos e na adaptação da cultura em um cenário de mudanças climáticas. A água é um recurso extremamente relevante para a COFCO International, não somente para o café, mas para uma série de culturas agrícolas. A empresa acredita que desafios complexos necessitam de abordagens inovativas, acreditamos nesse piloto por ser uma ferramenta efetiva para a mudança e adoção de práticas conservativas, com a disponibilização do financiamento e a negociação da produção ao final do ciclo”, diz Moretti.

A parceria conta com o apoio do Rabobank Brasil, por meio de sua expertise e conexão com sua rede de clientes e parceiros, para colaborar com a estrutura de de-risking. 

A linha pró-resiliência hídrica da Rabo Foundation será implementada inicialmente na bacia hidrográfica do Rio Grande, município de Serra do Salitre, de quase 25 mil hectares e com 171 fazendas de café e 5.500 hectares plantados. Segundo um diagnóstico realizado pelo Sebrae em 2020, 40% das APPs (Área de Preservação Permanente) da bacia necessitam de recuperação.

A região do Cerrado Mineiro é a primeira a conquistar a denominação de origem para cafés no Brasil. “Hoje a irrigação na região do Cerrado Mineiro é um gargalo. Nossos estudos identificaram que a água será um fator limitante para a permanência da cultura do café nessa região. Para que o café e outras culturas agrícolas permaneçam aqui precisamos cuidar de nossos recursos hídricos: da economia em seu uso, de como ela chega ao solo, como ela se infiltra e como ela fica retida para ser liberada em períodos de escassez”, diz Fabiane Sebaio, secretária-executiva do Consórcio Cerrado das Águas. 

Estamos vivenciando, com este projeto, algo inovador, pois não temos ainda algo parecido na cafeicultura. A linha de financiamento se estabelece como uma sinergia entre todos os envolvidos em prol de uma causa: a mitigação dos efeitos climáticos; algo que expressa o propósito do CCA de que juntos somos maiores e podemos vencer os desafios”, diz Marcelo Urtado, presidente do CCA. “O projeto entra em execução em uma fase muito positiva do CCA, em um momento em que os produtores estão muito engajados com as estratégias de Agricultura Inteligente para o Clima. Assim, o momento do amadurecimento da nossa metodologia e as parcerias firmadas nos deixam muito otimistas sobre os resultados que colheremos desta ação conjunta”.


Fonte: Polliana Dimas | Comunicação da  CCA


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