Foto: ilustração
Agosto. O oitavo mês do ano traz tristes recordações para os patrocinenses. Além do falecimento do mais abençoado ser humano que pisou o chão de Patrocínio, Padre Eustáquio (em Belo Horizonte, dia 30/8/1943), outros fatos marcaram a cidade. A histórica tragédia que Patrocínio viu no século XX, e, o falecimento de uma celebridade cristã, que uma das principais praças leva o seu nome.
UM PADRE INESQUECÍVEL – Joaquim Thiago Antônio dos Santos, Monsenhor Thiago (nome da Praça da Matriz), nasceu em Avaré/SP, em 06/8/1881. Tornou-se vigário da Paróquia Nossa Senhora do Patrocínio de 1916 a 1930. Residiu na Rua Furtado de Menezes, nº 614, próximo à antiga cadeia (será que houve preservação dessa casa??). Em 1920, editou o jornal “A Cruz”, de conteúdo católico. Em 1925, cumpriu diretriz da Diocese (Uberaba), e realizou o primeiro congresso católico do interior, que aconteceu na cidade. Nessa ocasião, surgiu o objetivo de criar um colégio católico em Patrocínio. Nisso colaborou com a criação do Ginásio Dom Lustosa (efetivada no início de 1927), sob a direção dos padres holandeses. Escola para meninos (público masculino). Nesse mesmo ano (1927), o vigário Monsenhor Thiago promoveu/pleiteou ao bispo Dom Antônio Lustosa a criação de uma escola para meninas (público feminino). Esse desejo foi concretizado no ano seguinte (1928), com a chegada das freiras (irmãs) da Congregação Sagrado Coração de Maria. Nome do educandário: Escola Normal N. S. do Patrocínio. Após 1930, Monsenhor Thiago participou de diversas missões na Diocese de Uberaba e em outras cidades mineiras, como Itapecerica. Ele era um padre intelectual. Pois, era músico, redator e editor de jornal, professor e inspetor federal de ensino em algumas cidades, tais como Uberaba, Araxá, Itaúna, Dores do Indaiá, Itapecerica e Patrocínio. Aos 69 anos de idade, faleceu em BH, em 22 de agosto de 1950 (exatamente 16 dias após o seu aniversário). Os seus restos mortais vieram para Patrocínio, onde estão sepultados.
DESASTRE DE CAMINHÃO MATA 16 ROMEIROS EM PATROCÍNIO – Essa é a principal manchete do antigo e bom “Diário de Minas”. “O Estado de São Paulo” e o “Estado de Minas”, também em suas edições de 16 de agosto de 1973, quinta-feira, realizaram ampla cobertura da tragédia. Entretanto, o registro da mais triste madrugada, ocorrida no dia 15 de agosto de 1973, será baseado no “Diário da Tarde”. Esse vespertino de BH, então muito lido diariamente, enviou os jornalistas Gabi Santos e Alexandre Alves a Patrocínio. Tudo isso há exatos 51 anos.
LISTA IN MEMORIAM DOS QUE PERDERAM A VIDA – Essa tragédia da madrugada de 15 de agosto de 1973, quarta-feira, envolvendo o caminhão FNM-1958, cor azul, placa 1.50.01.25, teve 16 mortos. São (e foram) eles: Ramiro Francisco de Brito (50 anos, casado), motorista e proprietário do FêNêMê; sua esposa Emília Maria de Brito (47 anos), a sua filha Dominga Rosa de Brito (20 anos), o seu genro Acrísio Fernandes de Souza (30 anos) e o seu neto Edmilson Alves de Brito (apenas 02 anos). Todos na cabine. Da carroceria, faleceram Conceição Pereira de Abreu (33 anos, casada), Márcia Matias (16 anos), Luiz Henrique (13 anos), José Antônio Dornelas (27 anos, casado) e sua esposa Irani da Silva Dornelas (24 anos), Leodegário Araújo (60 anos, casado) e sua esposa Julieta Araújo (58 anos), Jair José de Freitas (25 anos), Terezinha Nunes de Jesus (20 anos, solteira), João Batista da Costa (24 anos) e Geraldo Barbosa de Souza (44 anos, casado).
O HISTÓRICO PICUN PERDEU MULHER E FILHOS – Geraldo Matias de Abreu (Picun), ex-secretário doméstico do vice-presidente da República Alkmim, que estava a trabalho em Salvador/BA, teve a morte de sua esposa (Conceição P. de Abreu) e dos filhos Luiz Henrique (13 anos) e Márcia Matias (16 anos). Para aumentar a sua imensurável dor, mais três filhos foram hospitalizados na Santa Casa: Ana Fátima Matias (8 anos), Carlos Matias (12 anos) e Sérgio Matias Abreu (13 anos). O velório à Rua Coronel Rabelo, nº 1.748, residência do então funcionário da Fetaemg, Geraldo Matias, era cena dantesca. Inimaginável.
RAZÃO DA VIAGEM – O motorista Ramiro tinha conseguido uma graça. Daí, ele prometeu todos os anos (agosto) levar os romeiros à Água Suja de graça. Isso ele já fazia há dez anos. Segundo a Polícia da época, o eixo de transmissão do FNM soltou. Nesse momento, 50 romeiros na carroceria foram lançados na poeirenta BR-365, em construção. Os primeiros policiais que chegaram ao local, no alvorecer do dia, foram o escrivão e radialista Joaquim Assis Filho e os cabos Antônio Paulino e Benedito Vaz de Lima, que tiraram as vítimas do caminhão.
OS FERIDOS GRAVES – Bernadete de Brito (26 anos), Vanilda de Brito (17 anos), Marília de Fátima Brito (12 anos), Adolfo de Brito (13 anos), Rosemeire de Brito (7 anos), Ana Fátima Matias (8 anos), Carlos Matias (12 anos), Sérgio Matias Abreu (13 anos), Eurípedes Dornelas (19 anos), João Batista (23 anos), Ângela Araújo (10 anos), Maria Aparecida Silva (23 anos), Maria Tereza Souza (18 anos), Nívea Bougleux (20 anos), Heloisa Cândida Queiroz (20 anos), Idalice dos Anjos (22 anos), Tarcísio de Paula (18 anos), Baltazar de Paula (28 anos), Fátima Abadia Dornelas (17 anos), Sônia Maria de Oliveira (22 anos), Sebastião Ribeiro Queiroz (61 anos), Maria de Lourdes Freitas (19 anos), Cleuza Batista de Queiroz (18 anos), Geralda Rodrigues da Mota (37 anos), Carmita Gonçalves (19 anos), Célio Borges (13 anos), Vanilce Maria Borges, Neusa Martins Queiroz, Olga Maria de Souza (14 anos), Nilda do Nascimento (16 anos), Geni Ventura, Maria Cândida dos Reis (60 anos) e Nilze Maria Borges. Total 33 hospitalizados! Muito triste!
POR FIM – Essas 50 pessoas, mortas ou feridas, escreveram com o seu sangue a mais trágica página na história de Patrocínio. No caminhão algumas famílias, muitas crianças, maior parte dos romeiros, era gente jovem, todos amigos. Picun, ex-craque do Ipiranga Sport, ex-servidor do Fórum local, e, ex-assessor de José Maria Alkmim, viu e sentiu onde é o fundo do poço emocional. Resistiu à tristeza dois anos e pouco. Pois veio a falecer em Almenara (1976), onde estava também a trabalho.
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