Foto: Agência Brasil Divulgação

Da Redação da Rede Hoje
Durante os encontros anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, realizados na última semana em Washington, o Banco Central do Brasil foi apontado como uma das autoridades monetárias mais conservadoras do mundo. O destaque veio pelo fato de o BC manter a taxa Selic em 15% ao ano, mesmo diante da desaceleração da inflação e do fortalecimento do real frente ao dólar.
A postura firme da instituição foi considerada uma das mais “hawkish” — termo usado no mercado financeiro para designar políticas monetárias rígidas — entre as principais economias globais. Enquanto outros países iniciam ciclos de corte de juros, o Brasil segue na contramão, defendendo que é preciso garantir o cumprimento da meta de inflação antes de flexibilizar.
De acordo com participantes dos encontros, o Banco Central brasileiro apresentou um discurso alinhado à manutenção de juros altos por um período mais prolongado. A justificativa é evitar qualquer risco de desancoragem das expectativas inflacionárias e proteger a credibilidade conquistada após anos de instabilidade econômica.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reconheceu a rigidez da política monetária brasileira. Segundo ele, a taxa atual está “mais alta do que o necessário” diante do cenário de preços e crescimento. Em entrevista, Haddad afirmou que, se integrasse a diretoria do Banco Central, defenderia uma política de juros menos restritiva.
Avaliações e projeções
Haddad ressaltou que a inflação tem mostrado comportamento favorável, com projeções indicando taxas abaixo de 4% até 2027. Ele destacou que há espaço para uma redução gradual dos juros sem comprometer o controle de preços, especialmente com o arrefecimento dos alimentos e da demanda interna.
O ministro concordou com a avaliação do FMI de que o Banco Central do Brasil é hoje um dos mais “duros” do mundo. A instituição, liderada por Gabriel Galípolo, reforçou em Washington que pretende manter a Selic elevada até ter segurança de que a inflação convergirá de forma sustentada para a meta.
As falas dos diretores Nilton David e Paulo Picchetti, membros do Comitê de Política Monetária (Copom), também indicaram alinhamento interno em favor da manutenção da taxa. O resultado foi o adiamento das expectativas de corte: antes previsto para dezembro, o início do ciclo de redução dos juros agora é projetado entre abril e junho de 2026.
De acordo com o Boletim Focus, divulgado no dia 20, o mercado precifica 85% de chance de a Selic permanecer em 15% até dezembro e 58% de probabilidade de que o índice se mantenha até janeiro de 2026. A percepção é de que o BC só recuará diante de uma inflação persistentemente baixa.
Inflação e política monetária
O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, reafirmou que o foco da instituição é atingir o centro da meta de 3%, e não o teto de 4,5%, definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Essa diretriz reforça o compromisso com a estabilidade e explica a resistência em antecipar cortes nos juros.
O posicionamento conservador, embora criticado por setores produtivos e parte do governo, tem agradado investidores estrangeiros. A combinação de real valorizado, risco controlado e inflação em queda é vista como sinal de confiança e previsibilidade, atributos valorizados em economias emergentes.
Um fator que pode alterar o cenário é a recente decisão da Petrobras de reduzir o preço da gasolina. Analistas avaliam que a medida pode acelerar o processo de desinflação e abrir espaço para uma política monetária menos rígida nos próximos meses.
Segundo o BC, em carta publicada em junho, a expectativa era de que o IPCA retornasse à faixa de tolerância da meta apenas no primeiro trimestre de 2026. No entanto, com o corte no combustível, a inflação pode atingir o limite já no fim de 2025.
Perspectivas econômicas
As projeções mais recentes do Boletim Focus indicam inflação de 4,70% para 2025, ligeiramente abaixo da semana anterior. Se confirmada, essa taxa será a mais baixa desde 2019. Em abril, o mercado previa 5,7%, mostrando que a tendência é de queda sustentada.
Entre os fatores que sustentam esse movimento estão a valorização do real, a redução dos preços de alimentos e combustíveis, e a política monetária firme do Banco Central. O resultado é um ambiente de maior estabilidade, embora com reflexos negativos sobre o crescimento.
O custo dessa estratégia aparece no ritmo lento da economia. A combinação de crédito caro, consumo em queda e investimentos reduzidos tem levado a revisões para baixo nas projeções do PIB para 2026. Setores da indústria e do comércio pedem uma sinalização mais clara de flexibilização monetária.
Mesmo assim, o Banco Central mantém a posição de que a prudência é essencial para garantir a convergência da inflação à meta de forma estrutural. O desafio, segundo analistas, é equilibrar estabilidade de preços e estímulo à atividade econômica sem comprometer a credibilidade conquistada nos últimos anos.