Método inovador reduz em até 98% o uso de reagentes químicos, tornando a análise mais sustentável, acessível e precisa.

Foto: divulgação UFLA

Azeite produzido em Minas

Por Pedro Henrique Cardoso*

Uma pesquisa de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Agroquímica da Universidade Federal de Lavras (UFLA) propõe um método inovador para avaliar a qualidade de azeites de oliva. A abordagem utiliza câmeras de smartphones para medir parâmetros como acidez livre (AL), que indica a presença de ácidos graxos livres, e o índice de peróxido (IP), usado para avaliar a oxidação do azeite.

No estudo, foram capturadas imagens de soluções químicas que variavam de cor conforme os valores de AL e IP. Essas imagens foram analisadas por aplicativos gratuitos que convertem as cores em dados numéricos, possibilitando a criação de modelos matemáticos para determinar a qualidade do produto. A nova técnica reduz em até 98% o uso de reagentes químicos, tornando a análise mais sustentável, econômica e rápida em comparação aos métodos tradicionais.

Os modelos matemáticos desenvolvidos correlacionaram os parâmetros de cor obtidos pelas imagens com os índices de acidez e peróxidos das amostras. Esses índices são fundamentais para classificar os azeites como extravirgem, virgem ou lampante. A degradação do produto, causada por processos hidrolíticos e oxidativos durante a produção ou armazenamento inadequado, pode afetar diretamente esses parâmetros, influenciando seu valor comercial e suas características sensoriais, como sabor, cor e aroma.

Para validar a eficiência do método, a pesquisa analisou 43 amostras de azeite, comparando os resultados com os valores obtidos pelos métodos convencionais. Segundo a autora do estudo, Amanda Souza Anconi, os modelos apresentaram alto desempenho preditivo. "Bons métodos analíticos costumam apresentar valores de coeficiente de determinação (R²) próximos de 1. Obtivemos 0,97 para IP e 0,99 para AL, demonstrando alta precisão. Além disso, os baixos erros de predição confirmaram a eficiência da técnica", afirmou.


A adoção desse método pela indústria pode revolucionar a análise de qualidade do azeite de oliva, tornando-a mais acessível e sustentável. "Esse avanço representa um passo importante para o desenvolvimento de métodos mais limpos e ágeis, beneficiando tanto produtores, que precisam garantir a conformidade do produto com os padrões de qualidade, quanto consumidores", destacou Anconi.

Atualmente, o Brasil produz menos de 1% da demanda nacional de azeite, sendo um dos maiores importadores mundiais. No entanto, os azeites brasileiros vêm se destacando pela qualidade. Para Anconi, investir em tecnologias que simplifiquem as análises é essencial para fortalecer a olivicultura no país. "Nosso estudo contribui para a sustentabilidade do setor ao reduzir significativamente o uso de reagentes químicos e minimizar impactos ambientais", concluiu.

A pesquisa, desenvolvida no PPAGQ pela doutora Amanda Souza Anconi sob orientação do professor Cleiton Antônio Nunes, da Escola de Ciências Agrárias de Lavras (Esal), foi publicada nos periódicos Journal of Food Composition and Analysis e Food Chemistry, bem como no jornal Olive Oil Times. O professor Cleiton Nunes atua há sete anos na pesquisa de tecnologias inovadoras para a análise de alimentos.  Confira uma reportagem de 2021 que aborda essa temática.

Este conteúdo de popularização da ciência foi produzido com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig).


*Publicado no Portal da Ciência a Universidade Federal de Lavras - MG


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