Foto da Praça Matriz, descendo para o Córrego Rangel e ao fundo o local onde estão hoje os bairros Dona Diva, Morada Nova e o Unicerp. Nota-se grande movimento de pessoas e carros de bois. Crédito: Acervo Municipal Patrocíno, MG
Viagem. A pelo tempo propicia o conhecimento da origem de uma localidade e de sua gente. Enfim, facilita desvendar a interessante e rica história. E se é do Município, do chão patrocinense, que é o 32º emancipado de Minas, a riqueza e o interesse são maiores. Com ajuda da escritora Lindalva Machado Fonseca, autora do livro “Fios Emaranhados”, pode-se abduzir fatos do cotidiano de Patrocínio na sua época de vila, nova cidade e chegada da proclamação da República.
PTC, ATRAÇÃO ECONÔMICA – A vila era o estratégico ponto de todo o comércio naquele tempo (1860-1890). Tropeiros vindo da capital provincial (Ouro Preto) e da capital Imperial (Rio de Janeiro), utilizando a estrada da Picada de Goiás, iam e vinham para e da rica Província de Goiás. O descanso, o pernoite e os negócios tinham lugar certo, nessa maratona: Patrocínio.
POR ISSO, SURGEM OS MACHADOS... – Em 1869, João Machado de Miranda e família (esposa e seis filhos) deixaram o relativo pobre povoado do Espírito Santo de Itapecerica (Divinópolis) para fixar residência neste próspero Município. João Machado, bisavô de Lindalva e avô de Tobias Machado e Theodorico (pai da escritora). E daí, vieram o compositor Paulinho Machado, o poeta maior Massilon Machado, o primeiro pediatra de Patrocínio Dr. Gustavo Machado e mais...
Foto da Igreja Matriz em 1913, ainda com duas torres. Crédito: Acervo Municipal Patrocíno, MG
PRAÇA DE GENTE IMPORTANTE – O Largo da Matriz (Nossa Senhora do Patrocínio) era o centro socioeconômico de Patrocínio. Na esquina, a casa do líder político Honorato Borges, vereador na monarquia. Do outro lado da Igreja Matriz, o sobrado do Major Marciano Pires. Praticamente com a mesma idade de Honorato Borges, comerciante e prefeito (agente executivo). Esse sobrado era uma magistral residência com rouparia e itens trazidos pelo próprio Marciano, quando de sua viagem à Europa (± 1880). Ainda próximo à igreja Matriz com duas torres, o sobradão do Coronel Rabelo. Até a Proclamação, a melhor casa de Patrocínio, que era uma nova cidade (desde 1874). Esse casarão ficava onde é hoje o Colégio Belaar, conforme a mais antiga foto de PTC., guardada na Biblioteca Nacional (divulgada nesse espaço, em 2020).
CAPELA DE SANTA LUZIA, COMEÇO DE UMA ESTRADA! – Até a chegada da República, a igrejinha era num campo cheio de gabirobas. E um Largo caminho de boiadeiro ligava a capela à região da Serra do Cruzeiro (hoje, Av. Rui Barbosa). Por lá, passavam as boiadas vindas de Goiás, rumo ao norte e sul do Império, além de Ouro Preto e Rio de Janeiro. As tropas descansavam à beira do Córrego (ou corgo) Rangel, pouco abaixo da capela (onde é hoje a região da Morada Nova).
DUAS IGREJAS PRÓXIMAS: QUAL A RAZÃO? – Na região onde é hoje o Instituto Bíblico situava a igreja do Rosário, dedicada à Nossa Senhora do Rosário, padroeira dos escravos no Brasil. Nessa época, ainda não tinha sido abolida a escravatura. Patrocínio, por ser um dos maiores e mais antigos municípios, e, por dedicar-se à agricultura, era um dos expressivos redutos de escravos, em Minas. Não distante, estava a igreja de Santa Rita (Largo do Rosário, hoje Praça Honorato Borges). Essa frequentada mais pelas pessoas livres. Próximo à igreja do Rosário, no grande largo (não existia o Grupo Escolar), encontravam-se a Câmara Municipal, a cadeia pública e o fórum. Esse era o local de despachos do famoso juiz Eloy Ottoni.
PADRE, HOTEL, FARMÁCIA... – O vigário paroquial era o padre Modesto Marques Ferreira (1868-1900). Teve filhos, residia numa chácara onde é hoje a Av. João Alves do Nascimento, no bairro São Vicente. Foi sepultado no segundo cemitério da história patrocinense, no bairro São Vicente, área do Asilo, inaugurado em 1862. Lá estavam sepultados também os arqui-inimigos juiz Ottoni e o Cel. Rabelo. No Largo da Matriz, também se destacava o Hotel Globo, do italiano Adolfo Pieruccetti (situava-se na pista da hoje Rua Presidente Vargas). Adolfo Pieruccetti é o pai das celebridades patrocinenses Oswaldo Pieruccetti e Carlos Pieruccetti. Ainda nessa decantada região da igreja N. S. do Patrocínio havia a farmácia de Casimiro Santos (cinco portas), um pioneiro farmacêutico patrocinense (1855-1940). Foi fazendeiro inovador também.
CONFUSÃO POLÍTICA TEVE ORIGEM NO ADVENTO REPUBLICANO – No Império quem era do Partido Conservador, sempre fora. Tal como o intelectual patrocinense Francisco Alves de Souza (1853). Quem era do Partido Liberal, idem. Mas... a família Ottoni era Liberal Republicana. Como o juiz Ottoni, em Patrocínio. O líder político Cel. Rabelo era um liberal monarquista. Nesse clima, ocorreu o embate Rabelo versus Ottoni. Que culminou com o assassinato do juiz, pelo filho do lendário Índio Afonso, em 1889, véspera da Proclamação.
HAVIA “SERENATA” E SERESTA – Grandes músicos da vida patrocinense participaram de movimentos musicais, nessa época. Mestre Olímpio ou Prof. Olímpio Carlos dos Santos, músico, ator, carnavalesco e professor. Quintiliano Alves fundou uma das históricas bandas de música (a segunda de PTC). Zequinha Silvestre, músico, amante de bandas de música. Esses três e mais gente importante da cidade, como o folclórico Patico Machado, formavam os seresteiros de Patrocínio.
PROFESSORES DE ENTÃO... – Francisco de Paula Arantes, ou só Paula Arantes, ex-seminarista, foi professor nomeado pelo governo imperial. Ensinou diversas gerações de patrocinenses, a partir de 1850. Os seus pais eram de Portugal. Foi também Procurador de Menores (tipo defensor). Mademoiselle Haydée, francesa, bonita, moderna, solteira, veio para Patrocínio, devido ser “bons ares” para a sua saúde. No começo, as mães resistiram para tê-la como professora de seus filhos. Porém, Dr. Ottoni (juiz) mandou os seus dois filhos, para aprenderem francês com Mademoiselle. Isso “quebrou” a resistência à educada e educadora francesa.
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