Homenageado no Prêmio Jabuti, pesquisador destaca histórico de repressão e necessidade de mobilização social
José de Souza Martins, Personalidade Acadêmica do Prêmio Jabuti 2025, é referência na sociologia brasileira (Foto: Jornal da USP)
Camila Boehm - Repórter da Agência Brasil
O sociólogo José de Souza Martins, anunciado como Personalidade Acadêmica da 2ª edição do Prêmio Jabuti Acadêmico, afirmou que o Brasil é um país que criminaliza trabalhadores e movimentos sociais, mantendo uma classe trabalhadora fragilizada e silenciada. “Desde a ditadura militar, o que se faz no Brasil é no sentido de calar a boca da população. Aqui ainda se quer uma classe trabalhadora que seja dócil, que não reclame”, afirmou em entrevista.
Reconhecido nacional e internacionalmente, Martins é professor titular aposentado da Universidade de São Paulo (USP) e autor de 41 livros, além de diversos capítulos publicados no Brasil, Europa e Américas. Sua obra aborda questões sociais contemporâneas, incluindo o legado da escravidão e o funcionamento da sociedade capitalista brasileira.
Ele ressalta que os protestos sociais são essenciais para a viabilização da sociedade e que a esquerda, apesar de criminalizada, é fundamental por representar aqueles que não detêm poder. “Crime não é ser capitalista, crime é explorar indevidamente o trabalhador e não repartir com ele os resultados do trabalho”, destacou.
Martins também denunciou a persistência da escravidão no país, classificando-a como um fenômeno “anormal, absurdo e descabido”. Entre 1996 e 2007, atuou como representante das Américas na Junta de Curadores do Fundo Voluntário da ONU contra as Formas Contemporâneas de Escravidão. Coordenou, ainda, uma comissão do Ministério da Justiça para o Plano Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil e Escravo.
O sociólogo aponta que a violência social brasileira tem raízes históricas na formação escravagista do país, que tratou partes da população como propriedade e não como seres humanos. Segundo ele, a sociedade brasileira é violenta tanto pelos “maus” quanto pelos “bons”, que carregam uma “disponibilidade espantosa para a violência”.
Para superar esses desafios, Martins defende a mobilização popular e a atuação ativa dos movimentos sociais. Critica a passividade da população e a manipulação religiosa, afirmando que “vendem como heróis pessoas que deveriam estar na cadeia”. Ele também lamenta a falta de responsabilização pelos erros cometidos durante a pandemia de covid-19, que resultou em milhares de mortes evitáveis.
O sociólogo começou sua carreira questionando a pobreza em um país rico e permanece dedicado a entender as contradições brasileiras. “Nos orgulhamos de ser o país do futuro, mas o futuro não chega”, disse, destacando a desigualdade no acesso às oportunidades e recursos produzidos pelo Brasil.
José de Souza Martins é considerado um dos maiores nomes da sociologia brasileira, tendo sido aluno e assistente do patrono da área, Florestan Fernandes. Sua trajetória é marcada por prêmios e reconhecimento, incluindo três Jabutis na categoria Ciências Humanas.