Vestiu como ninguém a camisa do Patrocínio Esporte Clube no final dos anos 1960 e 1970. Faleceu numa tarde quinta-feira de abril de 2015, aos 69 anos de idade. Seu nome Eustáquio Frazão Ramos, mais conhecido pela torcida do Patrocínio e também do CAP, como Perereca. Não sei ao certo, mas segundo se falava, o apelido de Perereca se deu pelo falto de não ter medo de saltar para fazer as defesas no gol. Foi um grande goleiro. Ele foi um dos nomes mais importantes da história do futebol de Patrocínio, mas não só: era um bom humor ambulante. Onde chegava, não havia tristeza.
Perereca era conhecido não só em Patrocínio. Frazão jogou também em Patos pelo Mamoré e URT, em Monte Carmelo pelo Clube dos Cem, em Juiz de Fora pelo Tupi. Ele também atuou fora de Minas: em Goiás, no Atlético Goianiense e Anapolina; no Rio de Janeiro no Olaria; em Mato Grosso no Misto de Cuiabá. Também nas bases do Atlético-MG, América-MG e Cruzeiro. Quando parou no profissional, manteve sua paixão pelo esporte jogando pelo União (União Recreativa Patrocinense), de Patrocínio.
Fez muitos jogos memoráveis. Um deles jogou ao lado de Garrincha, numa partida exibição do craque do Botafogo e Seleção Brasileira na cidade, na década de 1970.
O Frazão era amigo e muito engraçado. Uma peça. É bom lembrar dele com alegria. Onde estava era rodeado de pessoas, todos querendo ouvir suas histórias, do futebol e de pessoas comuns. Combinamos de fazer, em vídeo para o canal da Rede Hoje, um programa semanal de seus "causos" no futebol, mas infelizmente, não fizemos.
Foi servidor público municipal de Patrocínio durante os governos de Afrânio Amaral. Atuou também pelo Grupo Áurea – Expresso União, Gol – em Brasília e trabalhava no aeroporto. Quando chegava alguém de Patrocínio e gritava: “Perereca, ô Perereca...”, ele fingia que não era com ele. É que no aeroporto todo mundo o conhecia como “senhor Frazão”.
— Se eles descobrissem meu apelido não teria mais sossego com o pessoal da nossa companhia nem das outras, dizia.
Do futebol gostava de contar causos deliciosos de outro jogador que atuou com ele em muitos clubes, o “Pacuzinho”, de Monte Carmelo, que bebia muito. Lembro-me de duas.
Uma, na folga do time, o Pacuzinho encheu a cara e ficou até tarde no bar. Para ir pra concentração, tinha um atalho que passava dentro do cemitério da cidade onde jogavam. De madrugada, o Pacuzinho chamou um táxi para levá-lo à concentração. Só que o taxista não sabia do detalhe do atalho. Ela ia orientando o motorista sobre onde morava. Chegou em frente ao cemitério, o Pacuzinho disse:
— É aqui que eu moro. Espera ai que vou buscar o dinheiro para pagar a corrida.
Quando o taxista o viu entrando no quebrado do muro do cemitério, ligou o carro e não voltou mais, nem pra receber.
O Perereca contava também que foram a uma cidade inaugurar um estádio. Quando o prefeito foi dar o pontapé inicial, o Pacuzinho entrou de sola.
Ele falou com o atacante:
— Que é isso, rapaz, o homem é o prefeito da cidade!
E o Pacuzinho:
— Perereca, cê me conhece, sabe que aqui dentro de campo não respeito nem minha mãe.
Assim era o Perereca ou Frazão.
Torcedor do Clube Atlético Mineiro e do Patrocínio Esporte (extinto), Eustáquio Frazão deixou a esposa Rosa Maria Duarte Ramos, os filhos Marco Wendell, Heloísa Helena, Elisângela Cristina, genros, nora, netos, irmãos, sobrinhos e muito amigos, eu entre eles. Saiu do dia a dia dos patrocinenses e entrou para a história da cidade como um de seus protagonistas. Saudades.
Esta cronica integra o livro "O Som da Memória - O retorno" , que será lançado nos próximos dias.
Fotos: Gado - Silvia ; leite - Jörg; porco - Wolfgang Ehrecke. Todos do Pixabay
Líder. O Município continua sendo um na produção de leite. Na semana passada, o IBGE divulgou a pesquisa, referente à pecuária municipal de 2021. Município por município. Além do leite, Patrocínio se destaca quanto aos suínos. E um pouco também na aquicultura, especificamente na quantidade produzida de tilápia. Já na criação de outros animais é queda vertiginosa. Quase inacreditável.
QUARTO MAIOR DO BRASIL – Tanto na quantidade produzida de leite como no seu valor de produção, Patrocínio mantém o quarto lugar no Brasil. Em 2021, produziu 163.951.000 litros de leite de vaca. Essa espetacular produção também colocou Patrocínio no 2º lugar em Minas. Sim, vice-campeão mineiro do leite. Apenas superada pela produção de Patos de Minas, medida em 206 milhões de litros. Em termos nacionais, dois municípios do Paraná superam a dupla do Alto Paranaíba: Castro (381 milhões de litros) e Carambeí (228 milhões), respectivamente 1º e 2º lugar no País.
O DINHEIRO BRANCO – O leite patrocinense rendeu R$ 350 milhões, ou seja R$ 349.216.000,00. O campeão mineiro (Patos de Minas) arrecadou R$ 442 milhões. O 3º colocado no Estado, o vizinho Coromandel, teve a sua produção leiteira (128 milhões) gerando R$ 288 milhões. Assim, em ordem, Patos de Minas, Patrocínio, Pompéu, Lagoa Formosa e Coromandel dominam o leite mineiro. Com folga.
PRODUÇÃO PATROCINENSE – Nos últimos vinte anos, Patrocínio mais que dobrou a sua produção de leite. Em 2004, era quase 80 milhões de litros, teve o seu ápice em 2019 e 2020 (principalmente), chegando em 2021 com a produção de 164 milhões de litros de leite, com ligeira queda. Entretanto, o valor em reais subiu de R$ 90 milhões (2004) para R$ 350 milhões (2021). Mais de três vezes e meia maior. Registra-se que no ano passado o preço médio do leite teve aumento de 21%.
VACA ORDENHADA: DESTAQUE MENOR – Interessante. Em 2021, havia 26.752 cabeças de vaca ordenhada no Município. Com isso, nesse quesito, Patrocínio cai para o 7º lugar em Minas e 29º no Brasil. Mesmo nessa variável, Patos de Minas continua líder, mas Patrocínio é ultrapassado por Lagoa Formosa, João Pinheiro e cidades de outras regiões mineiras.
BOI E VACA: BOM E POUCO EXPRESSIVO – Em 31º lugar em Minas, o rebanho bovino patrocinense é composto de 109.985 cabeças. Isso corresponde a 25% do município de Prata, líder no número de bovinos em geral (400 mil cabeças).
REBANHO DE PORCOS – Com 165 mil cabeças, Patrocínio tem o 6º maior número de suínos de Minas Gerais. O que é expressivo. Uberlândia, com número quatro vezes mais, é o 1º lugar. Patos de Minas é o 2º lugar com 282 mil cabeças. As outras cidades do Estado que superam Patrocínio são Urucânia, Pará de Minas e Jequeri. Entretanto, o atual rebanho patrocinense é o maior na história municipal. Apenas o que se refere ao ano de 2013 ficou próximo.
MERECE ATENÇÃO – Já o rebanho de matriz suína caiu de 2013 (eram 14.000 cabeças) para 2021 (agora são quase 10.000 cabeças). Ainda assim, Patrocínio encontra-se no 7º lugar em Minas, com 9.900 cabeças de matrizes, segundo o IBGE. Patos de Minas tem o dobro (2º lugar) e o campeoníssimo Uberlândia, quatro vezes mais.
TEM PEIXE, SIM SENHOR! – A quantidade produzida de tilápia, em 2021, no Município atingiu 79 mil quilos. Isso proporcionou o 33º lugar no Estado, que é liderado por Morada Nova de Minas com quase 14 milhões de quilos de tilápia. Na região, apenas Araguari é importante (quase 2 milhões de quilos). A produção patrocinense em 2021 é modesta, porém é significativa em termos de consumo regional. A comercialização consequente correspondeu a R$ 632 mil. De 2017 a 2021, a produção de tilápia em Patrocínio permaneceu no mesmo patamar. Nem aumentou nem diminuiu.
CADÊ OS GALINÁCEOS? – O rebanho galináceo (galinha, galo, frango, peru, perdizes, etc.) patrocinense foi reduzido de 200 mil cabeças em 2012 para só 40 mil em 2021. Galinha, especificamente, caiu de 60 mil para o pífio 20 mil. Ou comeram ave demais ou deixaram a sua reprodução de lado. Algo aconteceu, ainda não explicado.
BURRO E CAVALO SEM PRESTÍGIO – Em 2010, também segundo o IBGE, Patrocínio tinha 5.000 cabeças de rebanho equino (cavalo, égua, jumento e outros similares). Onze anos depois (2021), passou apenas para a metade (2.500 cabeças).
CARNEIRO E BODE: RABEIRAS DA “SÉRIE B” – Patrocínio tem tão somente 132 caprinos (cabras e bode), o que posiciona o Município no distante 150º lugar em Minas. Em 2010, tinha 220 cabeças. Já o número de ovinos (ovelha e carneiro) é “menos pior”. Em 2021, havia 400 cabeças. Contudo, em 2010, existiam sobre o chão patrocinense 1.100 cabeças. Portanto, nem cabra nem ovelha estão bem, quanto à sua atual quantidade no Município.
MAIS “BAQUES” ENTRE OS ANIMAIS – O pequeno rebanho bubalino (búfalos) de Patrocínio caiu pela metade de 2010 para 2021 (de 85 para 40 cabeças). Até mel de abelha caiu pela metade. Ou seja, de 8.000 quilos em 2010 para 4.000 quilos em 2021.
POR FIM – Este é o mais perfeito retrato da pecuária de Patrocínio. E muito recente. O leite é a alegria. Embora sua grandeza indique a necessidade de indústrias lácteas de seu tamanho, de sua pujança. A tristeza fica com a redução de rebanho dos demais animais. Sigamos...
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Sei que muitos haverão de se espantar ao me ver falando. Considerando que não há nos anais da ciências, das artes e da história, registros nos quais um outro de minha espécie tenha soltado o verbo e se desbragado a falar.
Mas, ora gente, para que tanto assombro, já se esqueceram das histórias de Monteiro Lobato. É Antropomorfismo que fala. Não se lembram, Tia Anastácia quase caiu dura, quando aquela boneca de “paninho ordinário”desandou a tagarelar. Suspeitou-se até que o dr Caramujo tinha errado na dose da pílula falante. Emília, não só falou como, quase ateou fogo no Sítio do Pica Pau Amarelo com sua língua de trapo. E Herbie, o fusca dos estúdios de Dísney, não falava, mas aprontava todas.
Na passagem bíblia diz que “Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para envergonhar os sábios”. De um jeito ou de outro, Deus quebra a prepotência humana. Os instrumentos que ele utiliza, são os mais inusitados possíveis. Certa feita, o Senhor da vida, pôs a jumenta de Balaão para lhe dizer umas poucas e boas. A cobiça havia cegado os olhos do profeta, a ira de Deus tomara a forma de um anjo armado. A mula via tudo, o profeta, coitado, nada. A ficha do ‘sô Bala’ custou a cair.
Sou a Serra do Cruzeiro. Isto mesmo. O patrimônio turístico, ambiental e cultural patrocinense em pessoa- digo, em minério e argila. Há milhares de anos, (Ou, milhões, se é ofensa perguntar a idade a uma mulher, é ofensa perguntar a idade a uma serra) somente vejo e ouço, vejo e ouço...agora peço um minuto de atenção. Vou utilizar o mais elevado dom humano: O dom da palavra. Depois de uma boneca de pano falar e um burro chamar a atenção de seu dono, diga-me o que há de errado de uma serra falar? Só por que sou de Patrocínio?
Do alto de minha experiência sei o que posso e passo a dizer. Nada que tenha acontecido, aqui por estas cercanias nos últimos duzentos anos, escapou de meus olhos de lince. Testemunhei ( em silêncio) episódios históricos, fatos horripilantes, assim como vibrei com as conquistas de nosso povo e me indignei com as injustiças praticadas por estas plagas.
Daria todo ouro, que dizem haver em minhas entranhas, para não ter visto alguns lances que macularam a história bem nos primórdios do município. Lembro-me, aliás como se fosse hoje, quando aquela expedição de bandeirantes, chefiada por Lourenço Castanho Taques, abateu sobre as tribos de índios Araxá e Cataguases. Fique estarrecida vendo aquele bando travestidos de agentes da civilização, dizimaram os pobres nativos, não poupando nem as mulheres, nem crianças. O chão ficou manchado de sangue inocente. Vi tudo...
Tenho na retina também, quando estes paladinos insurgiram contra os levantes de negros, igualmente indefesos. Eu aqui, me sentido uma abolicionista, fazendo o possível para escondê-los da escravidão. Adorava vê-los, se safando dos troncos, passando por mim em noite alta, respirando livres e recomeçando a vida em outro lugar. Outros, resistiram, formavam os seus quilombos, por estas sesmarias...Infelizmente, nem todos escaparam. Até hoje ouço seus gritos agonizante pedindo piedade e clemência.
Saudade? Tenho, sim e de uma mulher. Seu nome, Joaquina de Pompeu. Que mulher! Era a Rainha do Oeste Mineiro, Baronesa do gado, Sinhá Braba, Grande Dama do Sertão, "Heroína Mineira da Independência do Brasil" . Prendada esposa do fundador da cidade de Patrocínio: Capitão Inácio de Oliveira Campos, com quem se casou com apenas 12 anos e o Capitão lá com os seus 30 anos. (Imagine, isso hoje, é um crime, como deveria ser naquele tempo) Mas era um homem de bem, diga-se de passagem. A verdadeira história, contudo, precisa ser dita. Logo que por aqui se aportou, o Capitão foi acometido de uma deficiência neurológica, talvez o que vocês hoje chamariam de AVC. O fato é que ele ficou praticamente inválido para a lida. Foi quando, Dona Joaquina, apanhou com pulso firme as rédeas daquele empreendimento. Não foi fácil, pois, “lugar de mulher era na cozinha mesmo”. Ela comandava tudo, inclusive exportava gado para a Corte de Dom Pedro I.
Para mim Joaquina de Pompeu, foi a fundadora de Patrocínio e sua primeira prefeita. Leia lá na enciclopédia livre: “Quando morreu deixou em seu testamento "11 fazendas, 40 mil cabeças de gado, centenas de escravos, baixelas de prata, bandejas, barras de ouro e outros tesouros". Além de uma imensa área territorial de 48.400km2 que hoje abrange as cidades de Abaeté, Dores do Indaiá, Bom Despacho, Pitangui, Pompéu, Pequi, Papagaio, Maravilhas e Martinho Campos. Segundo Vasconcelos, as áreas somadas eram maiores do que a Bégica, Suíça, Holanda, Dinamarca e El Salvador. Sua fortuna hoje seria de aproximadamente 2 bilhões de reais”.
Então, vamos fazer justiça. Quem, realmente fundou a cidade de Patrocínio, foi uma mulher. Joaquina de Pompeu. E não o seu marido, Ignácio de Oliveira Campos. E não se tem uma praça, uma rua, sequer com o seu nome. Famosa, mesmo é a outra custosa lá de Araxá, que tem museu, ganhou filme..
Eu também, Serra do Cruzeiro, me sinto injustiçada. Aqui e ali, me citam como ponto turístico. Tem uma estrofe do Hino de Patrocínio todinha pra mim: “Da cidade uma légua distante , só se ergue o Cruzeiro da Serra. Quem o avista diz logo, num instante é a maior maravilha da terra”. Minha silhueta está lá naquele triângulo verde no topo da bandeira do município. Ora, ora, fico toda engabelada. A realidade é que poucos conhecem meu potencial e me respeitam. Por muitas vezes quase fui dizimada do mapa. Aqui cabe até uma palavra de gratidão ao pessoal da Associação de Meio Ambiente- AMAR, criada pela Lei nº 3536 de 24 de abril de 2002, no governo Betinho, a ex- vereadora Marly Ávila, Menestrel Rangeliano-Eustáquio Amaral, saudoso Pedro Cortes de Oliveira, Alan Guimarães, Poeta Flávio Almeida, Reinaldo Machado, Eliane Nunes e Odirlei Magalhães. Eles tomaram as minhas dores. E que dores!
Não bastava viver hoje com o meu dorso todo escalavrado, esse ano, infelizmente, um incêndio queimou em mim, uma área que equivale a aproximadamente 50 campos de futebol. Vi quem ateou o fogo, é gente ingrata que sempre está por aqui.
Precisamos fazer justiça, o governo Deiró, asfaltou o meu acesso, iluminou, revitalizou o Cristo, foi pouco, mas, eu me senti valorizada. Chegou a falar em construir um restaurante panorâmico, não vai sair, mas, pelo menos, fui lembrada. Outros prefeitos recebiam verbas para melhorias, mas desviavam a grana pra outros empreendimentos. Como a dizer que não sou importante. O abandono é queimadura de mil graus.
Mesmo enfrentando, todo esse perrengue, hoje, se chega um visitante na casa de um patrocinense, eles colocam a família inteira dentro do carro e traz aqui, no pé do Cristo. Ficam horas e horas apreciando a cidade lá em baixo. Um empreendimento imobiliário novo, um novo prédio sendo erguido, a cidade espalhou, o olhar do turista se encanta...
Ora, longe de mim, dar uma de humano e desandar a me gabar. Contudo, não sou um monturo qualquer. Além de ouro que pode ser encontrado em minhas entranhas, tenho um mineral por nome quartzo. Ótica, eletrônica, tele-comunicações e informática, não existiriam sem este minério. Tenho-o em abundância aqui em meu regaço.
Sem entrar no mérito da questão, eu, Serra do Cruzeiro, tenho um proprietário e não é o município de Patrocínio, como se apregoam.
Sabe como são estas coisas. Certo prefeito me retalhou com estradas e construiu um Cristo no meu topo. Outro prefeito, veio me tombou como patrimônio municipal. Não consideraram que tenho um proprietário e ele jamais foi consultado, nem ressarcido. Isto me faz sentir muito mal.
Se você me perguntar sobre o que mais me preocupa atualmente, respondo-lhe sem pestanejar. A duplicação da Rodovia 365. Não suporto mais ver tantas vidas perdidas em terríveis acidentes. BASTA! DUPLIQUEM ESTA RODOVIA DA MORTE! Quando acidentes tenho ainda que testemunhar?
Muito me preocupa, também a situação sócio-econômica do município e a crônica desunião de nossos líderes políticos. Sei do que estou falando. A cidade já assoprou 180 velinhas. Somos 46 anos mais velhos do que a cidade de Uberlândia; 23 anos mais velhos do que Araxá; 26 anos mais velhos do que Patos de Minas e 55 anos mais velhos do que a capital, Belo Horizonte. Comparem. Há déficit de qualidade de vida. Paramos no tempo. Certa vez, Menestrel Rangeliano- Eustáquio Amaral, (ele, sempre ele) escreveu ao final de uma de suas crônicas: “A cidade cada dia mais bela. Há problemas, como o desemprego e a má política. Mas há soluções. Há esperança. Há determinação. Como é bom ser patrocinense, seja nativo, seja adotivo. Patrocinense é mais do que cidadania. É um inexplicável estado de espírito”
Este orgulho de ser patrocinense, não pode arrefecer. Há muito para ser feito. Os anos, os séculos se passando, temos perdido a chance de pensar Patrocínio de forma inteligente, democrática, harmoniosa, pacífica, civilizada e inclusiva. E lá vem mais uma eleição para deputado estadual, federal, governador e presidente. Para deputados, como sempre, faltou articulações. Ninguém está pensando no futuro de Patrocínio. A cidade fica parecendo curva de rio nesta época.
Muita vaidade, questiúnculas nanicas e interesses particulares prevalecem. Cidade sem unidade, cidade sem futuro. Hecatombe a vista.
Nem imaginam como eu, Serra do Cruzeiro tenho como dádiva do criador pertencer ao município de Patrocínio.
Palavra. Não sinto um pingo de inveja da Serra do Curral, Serra do Cipó, Serra da Canastra, Serra do Espinhaço, Serra da Mantiqueira, Serra dos Cristais e sei lá das quantas. Tenho em meu sopé uma das cidades mais lindas que vi nascer e quero ver crescer e nesta geração.
Talvez tenha me empolgado e falado muito, mas faltou dizer o principal: A função sublime de uma serra é aproximar as pessoas de Deus. Fica aqui, portanto o meu apelo. Como nos velhos tempos, Jovens, crianças e idosos, subam aqui para conversar com o Criador. Peça a Ele sabedoria para as nossas autoridades e paz e prosperidade para o nosso povo. Agora me recolho ao silêncio. Pode ser que volte a falar pode ser que não.
AME PATROCÍNIO, COMO EU SEMPRE AMEI!
Uma foto pode contar muitas histórias de uma época. É o caso da fotografia do conjunto “Brazilian Hippies”, na feita, em 1969, na Praça Matriz. Nela estão José Eustáquio, Luiz Cabeleira, Rizzo, Zé Piquira, Anísio, Átila e Edson Bragança. Em 1969 eu tenho 15 anos. Na época nem sei que o Brasil vive um regime militar – que pouco tempo depois sentirei na própria pele o isso significa. Só quero o que todo jovem nessa idade quer. Curtir a nova fase da vida. Eu tinha visto o conjunto musical – que é como a gente chama as bandas, nessa época – Brazilian Hippies – umas duas vezes. Aliás, foi a primeira vez que vi uma banda tocar ao vivo e fiquei em êxtase. Olha que nem era baile. Era um ensaio que o grupo fazia na Autocar, na Presidente Vargas esquina da Teodoro Gonçalves (onde depois vai funcionar o Expresso União e nos anos dois mil vai se transformar em sede de uma igreja evangélica).
Nos dias que vou assistir o ensaio quem canta é um vizinho, o Marcone Mathias, mas a formação da banda creio que é a da foto. Essa banda antecede o Os Metralhas, H6 e Super Som 201, que tem outros membros, como o baterista Luiz Pindoba, o Onofre e o Soninho, que veio do Asteroides de Patos de Minas. Mas, basicamente os componentes são os mesmos. Grande sucessos nos bailes da própria Autocar e da Churrascaria Alvorada.
Me entroso com a turma e passo a acompanhá-lo nos bailes e ensaios. Me lembro que um dos últimos locais de ensaio é na região onde fica o supermercado Bernardão. Os caras são bons. Os gêneros principais são o rock dos anos 50 e 60, depois anos 70 e 80. São baladas românticas e Jovem Guarda. Cantam muitas músicas de Renato e Seus Blue Caps, Roberto Carlos – na sua melhor fase, anos 1970 -, Beatles, Rolling Stones, Aphrodites Child, Bee Gees, The Hollies; aparecem também os italianos: Gianni Morandi, Sérgio Endrigo, Rita Pavone, etc... Cantavam músicas de todos esses astros, até chegar ao maior sucesso do grupo, Feelings de Morris Albert, lançada em 1975, que o Átila cantava tão bem quanto o original. Os bailes em Patrocínio e região com esses rapazes são disputados, não há quantidade de mesas a reservar que deem conta. A banda tem várias formações até parar de vez.
Alvorada Show - Baile no Catiguá em 2005
Mas, a grande surpresa veio em 2005. Foi uma noite da Churrascaria Alvorada que não aconteceu nela – ela já tinha fechado, a anos. Numa iniciativa daquele grupo que sempre tocou, especialmente Wanderley Guarda e Edson Bragança e da Rádio Hoje (da Rede Hoje), numa noite memorável no Catiguá Tênis Clube, foi feito o “Baile da Alvorada”. Aqueles músicos se reuniram com o nome de Banda Alvorada Show, incluindo Sanzio – que nos anos 1970 pertencia ao conjunto Asteroides de Patos de Minas. Exatamente para lembrar o nome da Churrascaria Alvorada. Lambretas, motos e carros da época ornamentaram o Catiguá por dentro e por fora. Aquele baile reuniu centenas de pessoas de Patrocínio da época, espalhados pelo Brasil e mesmo nos tempos de Churrascaria Alvorada nunca juntou tanta gente numa noite só. Até um DVD foi gravado, produzido pela Rede Hoje.
Não era tarefa fácil reunir esta turma, até porque cada um foi para um local. Hoje, que vivem da música e estão em Patrocínio, o Luiz Cabeleira e o Pindoba. Dois morreram: Rizo e Wanderley Guarda. De vez em quando reuniam como na casa do Rizo, quando estiveram Pindoba, Bragança, Wanderlei Guarda e o próprio Rizo, para contar história e, claro, cantar. Mas, só para matar a saudade.
Esta cronica integra o livro "O Som da Memória - O retorno" , que será lançado nos próximos dias.
Jorono | Pixabay
Censo. Ele sempre desperta curiosidade. No realizado em 1920, a cidade tinha 84 estrangeiros. Os distritos patrocinenses de Coromandel, Abadia dos Dourados, Serra do Salitre e Cruzeiro da Fortaleza tinham mais alguns. Além de poucos italianos, ingleses e norte-americanos, a predominância era gente de origem árabe. Mais especificamente, libaneses. O desenvolvimento do Município, nos últimos cem anos, comprova a dimensão da gente oriunda do Líbano para Patrocínio. Principalmente, no comércio e indústria. O apogeu mercantil libanês na urbe ocorreu nos anos 50/60/70. A Av. Rui Barbosa transfigurou-se no seu lugar preferido.
PARAÍSO LIBANÊS – Nos anos dourados (décadas de 40 a 70), na principal avenida de Patrocínio, desde a Praça Santa Luzia até a Av. Faria Pereira, existiram diversos estabelecimentos comerciais de famílias de origem do Líbano. A começar pela Loja do Jamal (o comerciante Jamal era libanês puro sangue), situada no térreo do Hotel Santa Luzia. Posteriormente, Casa Libaneza de Rabah Issa. Depois, o luxuoso Cine Patrocínio, dos irmãos Jorge e João Elias. Ainda na praça (na pista da avenida), localizava a Casa São Paulo (do libanês Chucre). Ao lado, na esquina, com Rua Elmiro Alves do Nascimento, Casa das Louças (de Nadim Antônio Isaac, depois de Zico Mansur), especialista em objetos domésticos, inclusive rádios. Do outro lado da rua, onde começa propriamente a avenida, localizava-se a Casa Facury, onde se encontrava tecidos, muitos brinquedos e chapéus marca Ramezoni. É bom lembrar que os variados tecidos (chita, casemira, brim, seda, tergal, seda, etc.) eram destinados pelos compradores aos alfaiates e costureiras para o fazimento das calças, vestidos, saias e outras peças. Do outro lado da avenida, em frente à Casa Facury, a Casa Mansur (de Antônio Mansur). Um pouco acima, à direita para quem sobe a avenida, a Casa Daura (de José Daura), família dos engenheiros Ibrahim e Alberto Daura. Camisas Ban-Lon e calças/saias de “naycron” eram a moda dominante. Mais tarde, surgiu a Daura Car, em outro local da avenida.
E TEM MUITO MAIS – Ainda na Av. Rui Barbosa, nº 304 após a Rua Bernardo Guimarães, a Casa de Calçados, de Abrão Elias Nader (irmão de Jorge Elias). Na esquina das avenidas Rui Barbosa e Faria Pereira, era o endereço da Automig (Miguel Felippe S.A.), revendedor Ford e Esso, da família Wadhy e Lutfala. Ainda nesse cruzamento, porém do lado oposto, havia o Posto (de combustível) São Cristóvão, revendedor Shell e dos veículos (nacionais) Vemag (DKV e Vemaguete). A propriedade era dos irmãos Felix (Nazir Felix foi presidente do inesquecível CAP/1963). Casa Brasil (brinquedos e tecidos), de Brasil Antônio Isaac (Fone: 558) também na Rui Barbosa. Loja Moisés (de Maria Moisés), essa fora do eixo da Avenida.
INTELECTUAIS DE ORIGEM ÁRABE – Dois médicos, dois irmãos da família Wadhy. Dr. Michel Wadhy (fundou a Academia Patrocinense de Letras, em 1982) manteve o seu consultório na Av. Rui Barbosa, quase Rua Pinto Dias. Dr Latif Wadhy residia na Praça Santa Luzia (entre o Cine Patrocínio e a Casa São Paulo). Ainda na Av. Rui Barbosa, residia a irmã dos dois médicos, professora Laga Wadhy (ginásios e Escola Normal).
A MAIOR INDÚSTRIA – O Frigorífico Dourados, antes Frigorífico Patrocínio, dos irmãos Jorge e João Elias, situado (ainda) na Av. José Maria Alkmim (anos 50 e 60), tornou-se nos anos 80, o maior arrecadador de ICMS de Patrocínio e o 4º maior frigorífico de Minas.
FÁBRICA LIBANESA – Em 1964, existiu a Malharia Rusnam (Mansur ao contrário), de João Mansur, na Praça Santa Luzia, 149, Fones 425 e 346. Lá fabricava vestidos, blusas, camisas e conjuntos. Perfumaria em geral era encontrada na loja Narciso Azul, de Rosa Isaac, na Av. Rui Barbosa, 197, Fone 292.
ATÉ NO FUTEBOL – Nazir Felix comandou o CAP, chamado em 1962/63/64, de Atlético Patrocinense. Equipe de Edward, Jovelino, Gulinha, Dedão, Totonho e companhia. De 1967 a 1974, Jorge Elias liderou o Patrocínio E.C., versão com outro nome do CAP (que devia à FMF). Simplesmente foi campeão do Triângulo. Nos anos 60, atletas descendentes de libaneses participaram de equipes patrocinenses. Como exemplo, o atacante Dizinho (Wadhy Rebehy Neto) que atuou pelo acadêmico Flamengo e Seleção de Patrocínio.
SEM DÚVIDA ALGUMA – A presença dos libaneses e de seus herdeiros (em termos de raça e cultura) em Patrocínio transformou-se na maior colônia estrangeira no Município. Tornou-se parte peculiar da gente patrocinense. Inseparável. Família gêmea, de verdade.
SOBRE O LÍBANO – A Capital é Beirute. País a leste do Mar Mediterrâneo. República entre a Síria e Israel. Civilização de mais de 7 mil anos de história. Província da França, desde a 1ª Guerra Mundial até 1943. Após a Guerra Civil Libanesa (1975-1990), era chamado de a “Suíça do Oriente”, devido o seu poder financeiro. Mulçumanos: 61%, cristãos: 34%, drusa: 5% dos 6.825.000 habitantes. Por lá estiveram fenícios, assírios, persas, gregos, romanos, árabes e turcos otomanos, além dos franceses. E até Alexandre Magno em 332 a.C. Árabe é a língua oficial nacional. A moeda é a libra libanesa. Lá o pai é quem tem poder sobre a esposa e os filhos. Mesmo se o pai morre, a responsabilidade pelo filho não é da mãe, é da família do pai. E é dessa incrível terra de apenas 10.452km² de superfície, e, de grande empreendedorismo comercial, que vieram dezenas de libaneses para o município de Patrocínio, ao longo dos últimos cem anos.
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