Hoje, Patrocínio tem seus próprios grupos e companhia de teatro. Respeitados, ganhadores de prêmios e só não são inteiramente profissionais porque os atores, diretores e técnicos têm outras atividades. São sucesso. Nosso maior expoente é o ator, teatrólogo, diretor, roteirista: Flávio Arvelos.
As artes cênicas sempre foram uma das características do patrocinense.
No primeiro ano da década de 1960, tenho apenas seis anos. Em Patrocínio, duas coisas fervilham: o cinema e o teatro (bem menos frequente). Também pudera, são as únicas fontes de lazer da cidade para quem não gosta de futebol – os adeptos do esporte ainda têm o Patrocínio Esporte, semiprofissional, para ver.
Política. O momento é dedicado a ela. Principalmente até 02 de outubro (dia das Eleições – primeiro turno) e, provavelmente 30 de outubro (dia das Eleições – segundo turno). Mas qual o critério para ser escolhido o melhor candidato, aquele que receberá o voto de cada eleitor. Não existe critério matemático. A decisão de cada cidadão é subjetiva (dependente de cada cabeça). Todavia, algumas considerações poderão nortear o voto. No caso de Patrocínio, a antológica e histórica frase dos anos 80, “Patrocinense vota em Patrocinense”, perdeu a sua predominância. Embora ainda conserve alguns pontos que mostram a sua importância. Isso tratando-se das eleições legislativas (para deputado e senador). Entretanto, o bom caminho para o eleitor, a diretriz que predomina é a legal. É a lei. Qual o candidato mais apto a obedecer a lei? Por exemplo, o que é LIMPE, aquele fundamento, aquela regra, para quem deseja ser pessoa pública (homem/mulher), ser administrador público, tem de saber (pelo menos, em tese). E praticar na vida pública. Isso é o LIMPE, sigla conhecida nas sérias administrações públicas.
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Vem aí meu novo livro — que sai em setembro — com crônicas da cidade e sua gente. “O Som da Memória – O Retorno” estará disponível a partir de setembro deste ano na editora Clube de Autores e nas plataformas especializadas em livros. E partir de hoje, todas as semanas, vou publicar uma crônica que sairá no “Som da Memória, O Retorno”.
Hoje, lembro uma história de meu pai contou.
De austero e de quase nunca rir, meu pai, Júlio Costa, de vez em quando tirava tempo para contar algumas histórias muito engraçadas e interessantes, na minha de infância. Ele era carteiro, e conhecia a cidade como ninguém. Assim, tomava conhecimento desses “causos”.
Segundo ele, lá pelos anos 1950, um grupo de rapazes, companheiros de escola e, depois, do Tiro de Guerra, construiu uma amizade muito sólida. Nada os separava. Nos finais de semana o grupo saía pela cidade com violão, cavaquinho, pandeiro e outros instrumentos – as maracas, por exemplo, eram muito usadas – para as serestas.
O bolero e o baião eram os ritmos mais populares entre os gêneros musicais. Surgia ainda um ritmo novo, o samba-canção, que especialistas identificam também como sambolero – que seria uma forma híbrida – que fez sucesso pelo Brasil.
Nos bailes da época os casais deslizavam pelos salões ao som do bolero, da música francesa e das chamadas “big-bands”. Mas, de longe, o ritmo preferido era o bolero. Naquelas madrugadas calmas do interior de um Brasil ainda subdesenvolvido, os sons de instrumentos e vozes podiam ser ouvidos longe.
Pois bem, além das serestas, eles eram vistos sempre juntos nos pontos de lazer da cidade. A amizade os manteve unidos por anos. Além de gostarem das mesmas coisas – geralmente os jovens se identificam muito com sua geração e por isso andam em grupos, formam o que hoje chamam de “tribos”, entre eles havia algo mais em comum. Eram todos gordinhos. Aliás, “gordinhos” é força de expressão. Todos eles passavam dos 100 quilos, tranquilamente.
Como a vida nos prega peças, a felicidade da turma acabou sacudida. Um dos membros daquele grupo morreu. Neste tempo, os velórios eram feitos em casa. Solidários, os rapazes, já na fase adulta, não deixariam o amigo ou a família sozinhos naquela noite. Todos vão ao velório com o compromisso de só arredar pé depois do enterro.
Como acontece em todos os velórios, na medida em que as horas passam, as pessoas vão raleando. Neste caso não foi diferente. Na madrugada ficaram só os três amigos do morto.
Foi quando um deles teve uma ideia:
— Gente, vamos homenagear o “fulano”?
Outro sugere:
— Que tal colocar o violão no peito dele? - E fizeram.
Mas, na preferência da época, o corpo é velado em cima de uma mesa ou banco. Só é colocado no caixão para ser levado ao cemitério. Para os braços não caírem são amarrados, mesmo que o corpo enrijeça.
A cordinha que amarrava uma mão à outra não suportou o braço gordo do defunto e arrebentou. O braço soltou, e, ao cair, a mão passa por sobre as cordas do instrumento musical provocando um acorde macabro, na madrugada silenciosa, com os três amigos cochilando.
— Drãããooo — imagine o susto!
Segundo meu pai, os três gordinhos tentaram sair ao mesmo tempo pela mesma porta. Consequência: ficaram entalados e só saíram com muito custo e ajuda de amigos e parentes do defunto, que acordara com a confuisão.
O “causo” foi assunto na cidade por um bom tempo. Ainda hoje tem gente que sabe da história. Desde então, os amigos não foram mais vistos andando à noite, muito menos fazendo serestas nas madrugadas. Eles garantiam que era “sinal de luto e respeito” pelo amigo morto.
Maravilhosa. É a história de Patrocínio. Com registros reais, chega-se, com excelente identificação ao Distrito de Patrocínio, quando pertencia ao município de Araxá. Dez anos antes de Patrocínio se emancipar em 1842. Portanto, há 190 anos. É um levantamento populacional, por casa, realizado pela Província, no período 1832-1835. As casas foram numeradas, de 1 a 240. Os moradores, escravos ou não, nominados, casa por casa. Nesse incrível censo (o termo censo era desconhecido), observa-se a residência da mais famosa família patrocinense, a Afonso. Onde a saga do Índio Afonso e de seus filhos começou. Uma saga de quase oitenta anos. Também é registrado, dentre os quase 2.000 moradores, a liderança que “proclamou” a independência de Patrocínio em 1842. É fantástico. As fontes são o Arquivo Público Mineiro e a UFMG. Daí, 100% dados verdadeiros.
COMO ERA PATROCÍNIO EM 1832 – Integrante da Freguesia de São Domingos do Araxá, que estava se emancipando de Paracatu (até então, Araxá e Patrocínio pertenciam a Paracatu). A sede da comarca em Paracatu, denominada Comarca do Rio Paracatu. Patrocínio era um dos 14 distritos de Araxá (Coromandel, Ibiá, Carmo, Santana e Rio Paranaíba, todos com nomes primitivos, também eram distritos de Araxá). Casa era chamada de “Fogo” (por causa da chaminé, do fogão a lenha). Os 240 fogos, em volta da Igreja de Nossa Senhora do Patrocínio, desde o “Corgo Rangel” (é heresia dizer que Patrocínio começou onde é a Praça Honorato Borges).
“FOGO” DO PRIMEIRO PREFEITO – A casa 195 pertencia a Francisco Martins Mundim. Segundo o Levantamento Populacional, Mundim era de cor branca, 31 anos, casado com Maria Custodia, branca, 16 anos (dois anos de casamento, pois ela casou-se com 14 anos) e o (primeiro) filho José. Todos livres. Havia mais três escravos africanos pretos (termo do Levantamento), um crioulo (Domingos, 18 anos), um pardo (Venâncio, 40 anos) e outros três jovens sem informações. Total de onze pessoas no “Fogo” (três da família Mundim e oito serviçais). Mundim dedicava-se à lavoura. Quando da emancipação de Patrocínio ganhou do Império o título de capitão.
CASA DO INTELECTUAL – O “fogo” 203 pertencia à Damazo José da Silva, branco, 45 anos, casado, livre, e também, fazendeiro. Damazo foi um dos oito primeiros vereadores na história de Patrocínio. Na Câmara Municipal era sete vereadores e um vereador assumia o cargo de agente executivo (prefeito). No caso, Francisco Martins Mundim. À época, Damazo José era o destaque. Pois, além da liderança política, exerceu o papel de juiz, delegado, vereador e intelectual. Tornou-se a maior força da emancipação de Patrocínio.
E NO “FOGO” DE DAMAZO? – Havia 24 pessoas na casa 203. Além de Damazo, Anna (esposa), Matheus (filho, 22 anos), Manoel (filho, 21 anos), Thereza (filha, 18 anos), e mais quatro filhos menores. E 14 serviçais escravos.
“FOGO” Nº 1 ERA DO PADRE – O primeiro vigário da primeira paróquia N. S do Patrocínio (1839), José Ferreira Estrella, branco, 47 anos, residia com dois escravos africanos (João e Benedicto) na casa 1, no quarteirão 1. Nesse tempo (1832), a igreja patrocinense pertencia a Araxá.
“FOGO” SÓ DE MORENOS – Havia casas sem a presença de moradores de cor branca. Por exemplo, a de nº 182 moravam a viúva Francisca Rosa de Oliveira, parda, 50 anos, e dois filhos pardos (Francisco e Claudina). E três jovens escravos africanos (Domingos, Antônio e Maria). O “fogo” 149 tinha onze moradores pardos. A cor parda é originada na mistura de raças, ou seja, mestiço.
CASA DE HERÓIS OU BANDIDOS – O “fogo” 207, quarteirão 0 (zero), moravam 17 pessoas. O primeiro com 26 anos, pardo, casado, dedicado à lavoura, era o Vicente Affonso. O segundo, com 28 anos, pardo, casado, dedicado também à lavoura, era Clemente Affonso. Mais José Affonso (6 anos), Vicente Affonso (12 anos), Francisco Affonso (15 anos), e Gabriel José (6 anos). Dependendo da interpretação histórica, um desses é o fenômeno Índio Afonso. Os demais moradores: Manoel Gregório (29 anos), Josefa (44 anos), Claudina (6 anos), Anna (14 anos), e, mais cinco mulheres jovens e uma idosa. Todos pardos. Trinta anos depois (por volta de 1862), Bernardo Guimarães descreveu o valente Índio Afonso, época em que o conheceu.
PROFISSÕES CURIOSAS – O Levantamento registrou fiadeira, cosedeira, rendeira, alfaiate e costureira. Era comum o ferreiro, ourives, vendeiro, pedreiro, carpinteiro, carreiro, doceira, seleiro, carapina, latoeiro e jornaleiro (não confundir com jornalista).
QUEM EMPREGAVA MAIS – A lavoura (fazendas) gerava maior ocupação (propriedade e trabalho) junto, às vezes, com criação (de animais). Negociante (negócios em geral) também propiciava bastante ocupação para os moradores.
TINHA MÉDICO EM 1832? – Não, não havia médicos nessa região. Porém, no “fogo” nº 70 morava o cirurgião José Vieira de Paiva, pardo, 64 anos. Dúvida: que tipo de cirurgião seria esse? Autodidata? Já no “fogo” nº 27 tinha escola, com Gabriel Caldas. Portanto, a escola era na residência (“fogo”). Não havia, conceitualmente, nem escola, nem médico, nem farmacêutico, nessa ocasião.
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Acabo de ler A HISTÓRIA DE UMA PAIXÃO GRENÁ. Obra do jornalista escritor, Luiz Antônio Costa, lançada em 05/ 08, em cerimônia ocorrida na Câmara Municipal de Patrocínio.
Termino a leitura das 303 pág, com a vibração de um gol. Um gol de placa, mas pode chamá-lo de gol de letra, feito por um craque da palavra falada e escrita.
Com a autoridade de 50 anos de carreira jornalística, " Versátil" é o locutor esportivo que mais acompanhou o Clube Atlético Patrocinense, como que em trabalho de relojoeiro, encaixou peça por peça, formando a longa linha do tempo de uma história envolvente. Apaixonante.
O CAP, a exemplos dos grandes times, agora tem uma obra digna narrando a sua saga. Saga muitas vezes das cinzas á glória. Da glória às cinzas.
Driblando dificuldades e obstáculos inerentes ao universo editorial, Luiz, jogou a rede lá atrás, em mais de 68 anos de história e nos trouxe o suprassumo de uma paixão.
Soube pelo livro que o autor foi o criador do Mascote do CAP. É como foi feliz na escolha: ÁGUIA. ( quando me perguntam que outro animal gostaria de ser. A resposta esteve sempre na ponta da língua)
Como pano de fundo a publicação, a metamorfose do time buscando sua identidade; traz os bastidores do futebol, a batalha tirânica para dirigentes manter um time competitivo. A paixão do torcedor tantas vezes lotando o estádio local. Descreve embates épicos; saliente a grande divulgação do nome de Patrocínio na mídia de forma gratuita, positiva.
Mas o livro/ documentário, pra mim TRAZ UMA RICA LIÇÃO: A obra, sim, fala de um time, ( montado e desmontado muitas vezes) uma instituição, uma lenda, uma paixão. Mas de cabo a rabo este livro FALA, DISTINGUE, CITA, GENTE. ( inclusive procurei o nome de Rondes machado, pelo menos li uma citação a seu respeito) Dentro e fora de campo. Página por página, ontem hoje e sempre: GENTE!
Logo nas primeiras páginas um tocante registro de gratidão. Lá está nomes que compõe o panteão sagrado de nossa memória rangeliana. Gente que passou pela história do CAP, pela vida do autor e se eternizou em nossos corações patrocinenses . O livro foi feito humanamente. Torcedor, dirigente, técnico, jogador, conselheiro, massagista, roupeiro, gandula, narrador, repórter. Gente apaixonada com nome e endereço.
Pois bem. Onde quero chegar? O CAP atualmente vive seu ápice histórico. Único time do Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro que conseguiu permanência na Elite do Futebol Mineiro. Você não entendeu. Nem Uberlândia, nem Uberaba nem Patos, conseguiram. E como está o time? Até onde se sabe, falta vibração, diretoria dividida. Para arrecadar valores para iniciar o time oneroso promoveram um torneio de truco. Não vai nenhuma crítica toda ação é válida, mas precisamos ousar muito mais. Pensar grande. Será se conselheiros e diretoria, estão deixando o presidente Tatá, meu amigo, se virar sozinho? Sem planejamento estratégico?
O momento pede mais do que a torcida de todos; engajamento geral. Além de prefeito, vereador, deputado, senador, imprensa, empresários torcedores, todos que amam Patrocínio, numa só corrente. Nada de cabo de guerra.
Comissões, comitivas e representantes batendo na porta da Gol, Mosaic, Iara e Pif Paf, além de Onet, Bernardão Farmácia Nacional etc, etc, precisam ser patrocinadores masters.
Tem uma passagem no livro em destaque que muito me chamou a atenção. Quando o CAP foi dirigido por uma mulher- sim o CAP foi dirigido por uma mulher- a Miriam Helena de Souza. Diga- se de passagem, uma guerreira. Ela foi eleita por volta de 2003, por aclamação. " agora segura esta: " Não ouve chapa concorrente ( embora tivesse oposição" Está na pág 196 do livro.
Que oposição é essa que se diz contra, mas não apresenta nenhuma alternativa?
Isto não pode voltar acontecer.
Nunca o CAP precisou tanto de todos." Vamos precisar de todo mundo. Um mais um é sempre mais que dois"
Superindico. Vamos ler A HISTÓRIA DE UMA PAIXÃO GRENÁ, á venda nas plataformas digitais e ali na banca de revistas nas costas da Igreja Santa Luzia.
Não é somente um livro, nem somente um golaço do autor. É uma grande lição, de como distinguir pessoa, por pessoa num grande projeto. Todos sendo importantes no time. Todos sendo imprescindíveis na história...Se é ÁGUIA o vôo e alto...