Reverência. É a obrigação que se tem para prestá-la a alguém que é sublime para um lugar ou para uma comunidade. Alguém que representa/representou a felicidade para a gente de um lugar. O holandês Padre Eustáquio foi um desses divinos seres. Como Patrocínio é uma das quatro cidades que ele mais se dedicou, torna-se dever, religioso ou não, consagrá-lo. Afinal, mesmo sob o olhar laico, Eustachius Van Lieshout foi a pessoa mais pura, de maior benevolência, que viveu, que pisou a terra de Patrocínio. Que conviveu com os patrocinenses, que residiu na cidade. Tanto é que ele já foi beatificado pela Igreja Católica (2006). Nesse mês de agosto, celebra-se aniversário de seu falecimento. Agora, são 79 anos. Mais um pouco do quase santo Padre Eustáquio é bom relembrar. Sobretudo, no que se refere a Patrocínio e região.
O COMEÇO DE TUDO – Depois de 20 dias de viagem, o navio Flaudria (alguns, autores escrevem navio Orânia) chega ao Rio de Janeiro, com os padres holandeses Norberto, Gil, Matias e Eustáquio. Maio de 1925. Todos sabiam um pouco de espanhol e nada de português. Já em julho/1925, os quatro, em Água Suja (Romaria), criam a primeira casa da Congregação dos Sagrados Corações, no Brasil.
PRIMEIRO CONTATO OFICIAL COM PATROCÍNIO – Padre Eustáquio morando em Água Suja estava se movimentando para construir o Santuário. Enquanto que na cidade de Patrocínio o Bispo diocesano de Uberaba, Dom Antônio de Almeida Lustosa, decidia pela criação de duas escolas católicas. A primeira para meninos. Em 11/9/1926, na residência do Cel. Honorato Borges (felizmente, o belo casarão lá está), o Cel. Marciano Pires vendeu, por 70 contos de réis, ou 70 mil réis, o prédio (hoje, Rua Afonso Pena) à comissão formada de seis coronéis. Essa comissão foi designada pelo Bispo para viabilizar o prédio de funcionamento da escola. Em seguida, a mesma o doou à Congregação. E Padre Eustáquio assinou a inerente escritura da futura escola. Cinco meses depois, fevereiro de 1927, o Ginásio Dom Lustosa iniciou as suas atividades, sob a direção dos padres holandeses Mathias van Rooy e Feliberto Braun.
MAIS VISITAS DE PE. EUSTÁQUIO A PATROCÍNIO – Por ser da mesma congregação de Patrocínio (Sagrados Corações), por ter diversos conterrâneos (holandeses) no Ginásio Dom Lustosa e na Paróquia N. S. do Patrocínio, e, pela sua paróquia de N. S. da Abadia (Água Suja) pertencer à mesma diocese (Uberaba), que Patrocínio pertencia, o santo homem veio ao Município algumas vezes, durante a sua permanência em Água Suja (Romaria), de 1925 a 1935. Como a viagem era feita a cavalo, ou às vezes, em um automóvel importado, há três vindas registradas, pelo menos, nesse período. A história oral conta que em 1927, primeiro ano do ginásio, ele visitou a cidade. Segundo Lucélia Borges, em seu livro, há indicadores que Pe. Eustáquio esteve, em 11/6/1932, na festividade da escola no Cine Teatro Odeon (Largo do Rosário). No ano subsequente, em 18/6/1933, o sacerdote veio a Patrocínio orar e evangelizar em um retiro religioso para senhoras. No mesmo ano, em 5/11/1933, retornou à cidade com missão idêntica. Em 1939, veio visitar à sua Patrocínio, outra vez.
MOROU NO GINÁSIO DOM LUSTOSA – Depois de ser o pároco em Poá (SP), de 1935 a 1941, onde promoveu verdadeiros milagres aos fiéis, segundo a imprensa nacional, Pe. Eustáquio foi afastado de Poá, por pressão política e de médicos paulistas. Nesse cenário, a Igreja tentou colocá-lo no anonimato, mudando a sua residência de cidade em cidade (diversas), inclusive Patrocínio (maio/1941). E a multidão sempre o descobria, visando ter a sua benção. Após “se esconder” em outras diversas cidades, finalmente o bendito sacerdote chega a Patrocínio para residir, em 13 de outubro de 1941.
E OS MILAGRES CONTINUARAM ACONTECENDO... – A Paróquia o destacou como capelão da Igreja Santa Luzia (uma velha e pequena igreja). Porém, os fiéis da região sempre se postavam à porta da igreja para receber a benção. Era comum ter quase 800 pessoas, em pé, sobre o chão (de terra mesmo!) da praça (Largo). De 13/10/1941 a 13/02/1942, vários eventuais milagres ocorreram. Tais como: paralítico andou, mudo falou, surdo escutou, criança se curou. Tudo narrado por testemunhas oculares, de Patrocínio.
O FINAL – Após dois meses em Ibiá, Pe. Eustáquio chegou a BH em 4/4/1942. Durante um ano e quatro meses, encantou a capital com a sua fé, incluindo o prefeito Juscelino Kubstchek, que também recebeu consequências de sua bondosa ação. No ano seguinte, 30/8/1943, faleceu decorrente de tifo (doença infectocontagiosa).
O RECONHECIMENTO – Belo Horizonte sabe quem foi Pe. Eustáquio. Sabe o seu valor espiritual e pastoral. Poá (SP) também. Romaria, que abriga o seu memorial (pequeno museu) e a sua horta medicinal, idem. Patrocínio nem tanto. Esse holandês quase santo carregou Patrocínio em seu coração. Ofereceu muito, recebeu pouco. O livro “Bem-Aventurado Eustáquio”, de Lucélia Borges, é um belo exemplo de reconhecimento. Mas, é ação sigular. A cidade precisa saber mais quem foi. E reverenciá-lo. Questão de mérito. E fé.
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Pra quem não sabe, o saudoso cantor Zé Rico falecido em 2015 em Americana- SP, compôs a música "Estrada da vida" no percurso indo de Uberlândia a Uberaba, BR- 050. " Zum, pega uma caneta e um papel e anota: Nesta longa estrada da vida..." Disse o cantor, a um amigo/fã que o acompanhava.
Passei por lá, vendo o céu azul beijar o chão na longitude da estrada, não tive como não pensar nas lições da canção para nossas vidas.
Quem vê a finalidade da existência apenas como corrida, disputa, competição, conquistas, sucesso, sem humildade...
A canção é um murro no pé da orelha: Ela é passageira. Pode parecer ser longa, mas é um pulo de Uberlândia a Uberaba; de Uberaba a Uberlândia."O final da corrida chegou"
Esta emblemática canção é um património nacional.
Gostaria muito de sugerir que as autoridades de Uberlândia e Uberaba, buscassem uma parceria com a empresa EcoRodovias, concessionária da rodovia BR-050, com autorização da família do Zé Rico, e homenageassem o artista com frases de sua canção ao longo da, musa inspiradora, BR- 050, a "Estrada da Vida".
Concorda?
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( Foto: Melva Magalhães)
Hoje, Patrocínio tem seus próprios grupos e companhia de teatro. Respeitados, ganhadores de prêmios e só não são inteiramente profissionais porque os atores, diretores e técnicos têm outras atividades. São sucesso. Nosso maior expoente é o ator, teatrólogo, diretor, roteirista: Flávio Arvelos.
As artes cênicas sempre foram uma das características do patrocinense.
No primeiro ano da década de 1960, tenho apenas seis anos. Em Patrocínio, duas coisas fervilham: o cinema e o teatro (bem menos frequente). Também pudera, são as únicas fontes de lazer da cidade para quem não gosta de futebol – os adeptos do esporte ainda têm o Patrocínio Esporte, semiprofissional, para ver.
Política. O momento é dedicado a ela. Principalmente até 02 de outubro (dia das Eleições – primeiro turno) e, provavelmente 30 de outubro (dia das Eleições – segundo turno). Mas qual o critério para ser escolhido o melhor candidato, aquele que receberá o voto de cada eleitor. Não existe critério matemático. A decisão de cada cidadão é subjetiva (dependente de cada cabeça). Todavia, algumas considerações poderão nortear o voto. No caso de Patrocínio, a antológica e histórica frase dos anos 80, “Patrocinense vota em Patrocinense”, perdeu a sua predominância. Embora ainda conserve alguns pontos que mostram a sua importância. Isso tratando-se das eleições legislativas (para deputado e senador). Entretanto, o bom caminho para o eleitor, a diretriz que predomina é a legal. É a lei. Qual o candidato mais apto a obedecer a lei? Por exemplo, o que é LIMPE, aquele fundamento, aquela regra, para quem deseja ser pessoa pública (homem/mulher), ser administrador público, tem de saber (pelo menos, em tese). E praticar na vida pública. Isso é o LIMPE, sigla conhecida nas sérias administrações públicas.
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Vem aí meu novo livro — que sai em setembro — com crônicas da cidade e sua gente. “O Som da Memória – O Retorno” estará disponível a partir de setembro deste ano na editora Clube de Autores e nas plataformas especializadas em livros. E partir de hoje, todas as semanas, vou publicar uma crônica que sairá no “Som da Memória, O Retorno”.
Hoje, lembro uma história de meu pai contou.
De austero e de quase nunca rir, meu pai, Júlio Costa, de vez em quando tirava tempo para contar algumas histórias muito engraçadas e interessantes, na minha de infância. Ele era carteiro, e conhecia a cidade como ninguém. Assim, tomava conhecimento desses “causos”.
Segundo ele, lá pelos anos 1950, um grupo de rapazes, companheiros de escola e, depois, do Tiro de Guerra, construiu uma amizade muito sólida. Nada os separava. Nos finais de semana o grupo saía pela cidade com violão, cavaquinho, pandeiro e outros instrumentos – as maracas, por exemplo, eram muito usadas – para as serestas.
O bolero e o baião eram os ritmos mais populares entre os gêneros musicais. Surgia ainda um ritmo novo, o samba-canção, que especialistas identificam também como sambolero – que seria uma forma híbrida – que fez sucesso pelo Brasil.
Nos bailes da época os casais deslizavam pelos salões ao som do bolero, da música francesa e das chamadas “big-bands”. Mas, de longe, o ritmo preferido era o bolero. Naquelas madrugadas calmas do interior de um Brasil ainda subdesenvolvido, os sons de instrumentos e vozes podiam ser ouvidos longe.
Pois bem, além das serestas, eles eram vistos sempre juntos nos pontos de lazer da cidade. A amizade os manteve unidos por anos. Além de gostarem das mesmas coisas – geralmente os jovens se identificam muito com sua geração e por isso andam em grupos, formam o que hoje chamam de “tribos”, entre eles havia algo mais em comum. Eram todos gordinhos. Aliás, “gordinhos” é força de expressão. Todos eles passavam dos 100 quilos, tranquilamente.
Como a vida nos prega peças, a felicidade da turma acabou sacudida. Um dos membros daquele grupo morreu. Neste tempo, os velórios eram feitos em casa. Solidários, os rapazes, já na fase adulta, não deixariam o amigo ou a família sozinhos naquela noite. Todos vão ao velório com o compromisso de só arredar pé depois do enterro.
Como acontece em todos os velórios, na medida em que as horas passam, as pessoas vão raleando. Neste caso não foi diferente. Na madrugada ficaram só os três amigos do morto.
Foi quando um deles teve uma ideia:
— Gente, vamos homenagear o “fulano”?
Outro sugere:
— Que tal colocar o violão no peito dele? - E fizeram.
Mas, na preferência da época, o corpo é velado em cima de uma mesa ou banco. Só é colocado no caixão para ser levado ao cemitério. Para os braços não caírem são amarrados, mesmo que o corpo enrijeça.
A cordinha que amarrava uma mão à outra não suportou o braço gordo do defunto e arrebentou. O braço soltou, e, ao cair, a mão passa por sobre as cordas do instrumento musical provocando um acorde macabro, na madrugada silenciosa, com os três amigos cochilando.
— Drãããooo — imagine o susto!
Segundo meu pai, os três gordinhos tentaram sair ao mesmo tempo pela mesma porta. Consequência: ficaram entalados e só saíram com muito custo e ajuda de amigos e parentes do defunto, que acordara com a confuisão.
O “causo” foi assunto na cidade por um bom tempo. Ainda hoje tem gente que sabe da história. Desde então, os amigos não foram mais vistos andando à noite, muito menos fazendo serestas nas madrugadas. Eles garantiam que era “sinal de luto e respeito” pelo amigo morto.