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Patrocínio. É a essência pura nesses quase 45 anos desta saga bairrista. Neste capítulo dedicado à história (e como é frutífero conhecê-la) pequena viagem no tempo mostra o perfil do Município em 1917. Isso, há um século atrás. Na economia, fumo, cana-de-açúcar, curtume (couro cru) e gado lideravam as movimentações comerciais. Havia um único meio de comunicação rápida e cinco distritos do Município. O tamanho da cidade, a sua vizinhança e até a ortografia da época tornam-se curiosidades inesquecíveis.

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SEM TELEFONE, SEM ÔNIBUS, MAS... – Patrocínio se comunicava com outras cidades apenas pelo telegrafo, pertencente ao IBGE, situado no primeiro andar da Prefeitura (hoje, Casa da Cultura). Não existia nem rádio (amador ou comercial). Pelas estradas de poeira (ou lama) somente poucos automóveis, que interligavam Patrocínio com Patos (ainda sem o “de Minas”), Araguari, Uberaba, Paracatu e Catiara (chamada de Lavrinhas, nessa ocasião). Portanto, ônibus era produto desconhecido. Essa localidade (Catiara) era o principal ponto de convergência de todo Triângulo (e Noroeste), pois era, até então, o final da linha de transportes de mercadorias e passageiros, por estrada-de-ferro (ferrovia), para BH e Rio (estação de Catiara foi inaugurada em 1915). A extensão até Patrocínio se encontrava em construção, por centenas de operários (a maioria de cor negra, face à recente abolição), cuja inauguração se deu em outubro de 1918. Cartas e jornais pelo correio levavam dias, muitas vezes semanas, para chegarem ao destino. Na maioria, correio a cavalo.

POUCAS CASAS, POUCAS RUAS, POUCA GENTE – A cidade de Patrocínio tinha população de 3.600 habitantes, morando em 680 casas. Assim, os, hoje, estádios Júlio Aguiar ou Pedro Alves do Nascimento caberiam toda a população. Inexistiam asfalto ou via com paralelepípedo (pedras tipo Ouro Preto).

DISTRITOS TAMBÉM PEQUENOS – Sant’Anna do Pouzo (com “z”) Alegre do Coromandel era o maior distrito. Entretanto, com apenas 945 habitantes. Lagamal e Santa Rosa já eram povoados do, então, distrito (Coromandel). Abbadia dos Dourados (com dois bês), distrito patrocinense desde 1862, tinha 980 habitantes. Daí, maior que Coromandel. S. Sebastião da Serra do Salitre foi, juntamente com Coromandel, o mais antigo distrito de Patrocínio. Lá habitavam 726 hab. E o povoado Catiara, importante e movimentada estação ferroviária. O quarto distrito era o caçula de Patrocínio em 1917, pois foi criado/instalado em 1912, Cruzeiro da Fortaleza. Nele residiam 860 pessoas. Brejo Bonito, com o possível nome Cruzeiro dos Folhados era o povoado.

UBERABA E ARAGUARI, AS MAIORES – Se considerar o número de casas existentes no começo do século XX, Uberaba era a maior cidade do Triângulo-Noroeste, com 2.410 moradias. A surpresa fica por conta de Araguari, no 2º lugar, com 1.536 casas. Maior do que Uberabinha, melhor dizendo São Pedro de Uberabinha, no 3º lugar (em 1929, após plebiscito, passou a ser Uberlândia). No 4º lugar, com 680 casas, Patrocínio, e, no 5º lugar, Paracatu (620 casas). Nessa época, a cidade de Patrocínio era maior do que a cidade de Patos (sem o “de Minas”, que só surgiu nos anos 40).

DESENVOLVIMENTO: CIDADES MENORES MELHORES POSICIONADAS – Embora fosse a 4ª maior da região, pelo critério “número de casas”, quando considerados indicadores socioeconômicos (população + renda anual municipal), Araxá, Patos e Paracatu ultrapassavam um pouco Patrocínio. As principais lavouras patrocinenses, em 1917/1918, foram algodão e fumo (fumo de rolo para “pito” de palha de milho era o costume). Cana-de-açúcar (escrevia canna de assucar) e cereais (arroz e feijão) também eram destaques. Criação bovina era a principal atividade comercial. Barretos–SP e Rio de Janeiro, principais destinos do “gado” e seus derivados. Por isso, laticínios (queijos, manteiga) e curtume (peles) eram as principais atividades industriais (considerando o contexto da época).

CENÁRIO POLÍTICO – O mineiro Venceslau Brás era o presidente da República. Delfim Moreira o presidente de Minas Gerais (hoje, governador). Arthur Botelho o agente executivo de Patrocínio (hoje, prefeito municipal). Elmiro Alves do Nascimento (pai dos “Alves do Nascimento”), Octávio de Brito (farmacêutico) e Leovigildo de Paula e Souza (poeta-jornalista) estavam dentre os vereadores. Jornal “Cidade de Patrocínio” era o grande jornal. Em Minas, havia somente 178 municípios (hoje, são 853). No Triângulo-Noroeste, por sua vez, só tinha 18 municípios.

FONTES – Diccionario e Estatística Chorografica de Distancias do Estado de Minas Geraes (edição, 1917). Elaboração da antiga Secretaria do Interior de Minas. E complementos extraídos do arquivo particular deste autor.


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                                                                                                                                       Imagem: Marcio Augusto Reolon Schmidt


Território. É importante observar o tamanho territorial de um município. Na maioria das vezes, é o melhor indicador do potencial da economia e da população de uma cidade. Como bom exemplo dessa assertiva, toma-se a região do Alto Paranaíba e de diversos municípios que a compõem. Patrocínio é a referência da análise. Os seus municípios vizinhos territorialmente (que córregos ou serras separam os territórios), os seus distritos e suas respectivas áreas, e, comparações com grandes municípios mineiros, em termos de terra, são apresentados.

SETE BONS VIZINHOS – Monte Carmelo, Coromandel, Guimarânia, Cruzeiro da Fortaleza, Serra do Salitre, Perdizes e Iraí de Minas, dividem “muro” com Patrocínio. O maior “muro” (a maior divisa) é com Perdizes, depois Coromandel. O menor “muro” é com Cruzeiro da Fortaleza. Com surpresa para parte da gente regional, Patos de Minas, Ibiá, Araxá e Romaria (cidade da Fé) não têm divisa territorial com Patrocínio, embora próximos.

FOLHADOS É O MAIOR E MAIS ANTIGO – O Município conta com cinco distritos. Além da cidade, que é considerada também um distrito (920 km² de área), há Salitre de Minas (125 km²), São João da Serra Negra (334 km²), Santa Luzia dos Barros (675 km²) e Silvano (818 km²). Criado em 1923, Folhados conservou esse nome até 1953, quando se tornou Silvano.

DEZEMBRO É FESTA DE DISTRITOS! – Dia 12, São João da Serra Negra completa 69 anos de existência. Salitre e Santa Luzia dos Barros são irmãos gêmeos. Pois, dia 31, fazem exatamente 60 anos. Será que alguém se lembrou disso? Já Silvano, em setembro próximo (07/9/2023) fará cem anos. Portanto, Silvano tem hoje 99 anos como distrito. Daí, há história para contar, a começar pela estrada-de-ferro (ferrovia) nos anos 20 e a sua estação Folhados.

O GRANDE E O “BAIXINHO” – Dentre os sete vizinhos, Coromandel é o que tem maior área (3.310 km²). Até mais do que Patrocínio (2.875 km²). E olha que Coromandel fez parte do município patrocinense até 1923. Então o “filho” é maior do que o “pai”. Já o menor vizinho, em termos de território e população, é Cruzeiro da Fortaleza com 188 km², pouco mais de 5% do tamanho de Patrocínio. Cruzeiro da Fortaleza foi patrocinense até 1962.

COMPARAÇÃO COM OS GRANDES DA REGIÃO – A extensão da área de Patos de Minas perfaz 3.187 km², ou seja, maior do que a área patrocinense. E Patos tem oito distritos, com destaque para os seculares Chumbo e Santana de Patos. Esse já pertenceu a Patrocínio na época imperial. Como também Patos de Minas pertenceu ao município de Patrocínio. Já Uberlândia é bem maior do que Patrocínio e Patos de Minas, pois tem 4.117 km² de área. E Uberaba, com 4.540km², é maior do que os três. Prata (quase 5.000 km²) ainda supera todos no Triângulo.

MAS... EXISTEM OS CAMPEÕES EM EXTENSÃO – O maior de Minas em dimensão não está distante. João Pinheiro, no Noroeste, com área de 10.711 km², é o campeão. Depois vem Unaí (8.483 km²) e Paracatu (8.229 km²). A boa terra e as grandes dimensões desses municípios demonstram a razão fundamental deles serem os maiores produtores mineiros de soja e feijão.

LIDERANÇA DO CAFÉ MESMO EM ÁREAS MENORES – O campeão brasileiro do café, Patrocínio, utiliza apenas parte da área municipal de 2.875 km². E os demais expressivos produtores de café, tais como Monte Carmelo, Rio Paranaíba, Serra do Salitre e Carmo do Paranaíba têm somente em torno de 1.300 km² de cada município. Assim, todos correspondem a cerca de 45% do território patrocinense, considerado cada qual individualmente. Conclusão óbvia, ou o óbvio ululante (do Nelson Rodrigues): o clima e a terra da região polarizada por Patrocínio são o ideal para a cultura do café. Isso está comprovado.

CURIOSIDADES GEOGRÁFICAS – Patrocínio é quase dez vezes maior do que BH (precisamente nove vezes). Até Guimarânia é pouco maior (368 km² X 330 km² de BH). O rico município de Araxá (nióbio, fosfato, águas minerais, etc.) corresponde a 40% da área de Patrocínio. Patos de Minas não faz divisa com Patrocínio porque Guimarânia está no meio do caminho. Nem Ibiá, pois Serra do Salitre impede. Como também Perdizes impede Araxá de ter “muro” com Patrocínio.

SAGA DO ALTO PARANAÍBA – Todos os municípios pertenceram a Araxá ou Patrocínio. Isso durante o Império, a partir das emancipações de Araxá (1833) e Patrocínio (1842). Pelo atual tamanho dos territórios, parece que esses dois municípios levaram desvantagem, quando das emancipações de alguns municípios que lhes pertenciam. Os historiadores não registram. Porém, a geografia é clara. Quiçá o folclore explique um pouco. Pois, tem “filhote” maior que o “pai” ou “mãe”. Coisas divertidas da história.


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Qualquer hora dessa, um projeto de autoria da administração municipal, solicitando a aprovação de um financiamento da ordem de 35 milhões, a ser pago em 10 anos, será pautado para votação no Parlamento Rangeliano. A destinação da bufunfa não tem mais justa: Reconstruir a Avenida do Catiguá. (O dobro da João Alves Nascimento, cujo investimento, foi em torno de R$ 16 milhões).

Haverá acirradas discussões lá no "Palácio do Povo" inclusive, questionando a medida, dentro de um orçamento previsto em torno de 600 milhões para o próximo ano. Contudo o governo tem maioria, a tendência de aprovação é grande. ( Que a oposição seja ouvida e respeitada) Isto é com os edis, que deverão se debruçarem sobre o projeto. Legislar. Sugerir emendas, se for o caso, mas, por fim, por que não aprová-lo? Fazer bem feito, deixa com o homem. Se é obra importante? Veja a imagem de um "beiju de asfalto," depois de uma forte chuva.

É um grande presente para a cidade. Um marco. A cereja do bolo com o poder eleger o sucessor do Governo Deiró, em 24. Secretário Municipal de Obras, Wellington Rodrigo Fernandes? ( É cedo, mas adianto que não terá meu voto, por que? “ Obras para todo lado ( Menos na praça do Bairro Morada Nova.)” Passe por lá e dê uma "bisoiada"...

Quanto aos Flamboyants da avenida, serão mesmo suprimidos. Aqui nossa lágrima por cada um deles...Mas, como diz o adágio Francês, “Não se faz omelete sem quebrar os ovos”. O prefeito anunciou numa recente livista ( Entrevista laive) que no novo projeto paisagístico, IPÊS serão plantados ao longo da nova avenida. Se essa notícia é boa? Não. É c.o.l.o.s.s.a.l! Estou estre os apaixonados pelos ipês e suas floradas.

Eles são o que há de mais belo, mais poético, mais bucólico, mais resiliente, mais pedagógico, mais místico e mais transcendente na natureza.

Escrevi por ai um dia que gostaria de ser prefeito de alguma cidade para realizar dois projetos Dois só; só dois e depois renunciar. PRIMEIRO: Comigo no poder, a BILIOTECA PÚBLICA MUNICPAL vai ganhar um prédio a la Niemeyer no centro nobre da cidade. Nada igual no mundo. SEGUNDO: Na entrada da cidade, nas principais avenidas, um cinematográfico CORREDOR DE IPÊS. Por Decreto Municipal, o chão salpicado de flores, não será varrido, nesta época do ano, e duvido que o visitante, até mesmo um ser medíocre, não será mais o mesmo, ao pisar um tapete, amarelo, roxos, rosas e branco. TODOS RECEBERÃO UM ARREBATANTE BATISMO DE POESIA.



Lembrando que em 1961, o então presidente Jânio Quadros declarou o Ipê Amarelo, da espécie Tabebuia vellosoi, como "a Flor Nacional". Por que não, a flor municipal?.

Mas nem tudo é encantamento e poesia. Tem a praticidade. A técnica. A lógica e até o bom senso para se considerar.

Por isso. Assim que soube da notícia do plantio dos IPÊS na avenida, busquei logo um estudo abalizado sobre “calçadas e arborização”, autoria da exímia jornalista Nely Caixeta, que tive o privilégio dos privilégio de receber. Textos bem descritivos, fotos, observando direitos autorais. Super didático. Aliás, há critérios técnicos para se escolher uma árvore compatível. Não somente os urbanistas da municipalidade, mas a população em peso, precisa saber para escolha do exemplar adequado. Pecamos tanto plantando certas arvores lindadas e locais errados. Os anos mandam a conta para o fio do machado.

( Por exemplo, os Flamboyants que tanto amo na avenida, não está em conformidade com o local, basta ver as raízes que ali se salienta e se alonga sobre o chão) Agora sim. Com a palavra a filha do Sr Sesostre:
São muitos e de naturezas variadas os cuidados que a escolha das árvores requer. Entre outras precauções, devem ser adaptadas ao clima do lugar, ter o porte adequado quando adultas para não atrapalhar fiação existente nas calçadas, não possuir raízes agressivas, ter uma copa compatível com o espaço disponível, ter madeira dura para evitar quedas, não conter espinhos nos troncos, resina tóxica e frutos grandes.

Outro elemento a ser considerado é a capacidade que as árvores têm de atrair pássaros e outros animais, sem falar no embelezamento que propiciam com suas floradas sazonais.”

Ainda me recorrendo ao tratado da jornalista patrocinense radicada em São Paulo, editora da revista PIB - Presença Internacional do Brasil, qual sua referência sobre os ipês. Achei positivo o que li:

OS IPÊS SOBERANOS

Com a queda da umidade relativa do ar em meados do ano, copas amarelas, rosas, roxas e brancas tomam a paisagem de boa parte do Brasil graças à floração exuberante dos ipês. Muitas de suas espécies são nativas dos cerrados, e Brasília as transformou em seu habitat por excelência. São árvores de médio porte, com raízes profundas, não danificam as calçadas e exigem poucos cuidados. O calendário da floração, conforme a espécie, segue abaixo: junho e julho: ipê-roxo; julho e agosto: ipê-amarelo; fim de agosto: ipê-rosa; setembro: ipê- branco e ipê amarelo..”

Bom. É unanimidade a importância dessa obra; não se duvida da competência da gestão Deiró em realiza-la; A AVENIDA DOS IPÊS, VAI PERFUMAR O OLHAR E O SORRISO DE CADA PATROCINENSE. Contudo uma preocupações me morde o íntimo. Vai ocorrer um “arboricídio sem precedentes, mas necessário” no local. A questão é: ONDE, QUANTAS E QUAIS ÁRVORES SERÃO REPLATANDAS?

Citei numa crônica anterior, dia destes, tive a curiosidade de contar quantas árvores há no trecho entre o balão do bairro Morada Nova, ao balão do posto São Francisco: 239. Entre oitis, acácias, jacarandás, ipês, um pé de mandioca e eles: Os Flamboyants.

Nananinanão. Não sou ecochato. Tanto que será a última vez que falarei nisto. Passo essa preocupação para a população e para os vereadores, que tem responsabilidade ambiental. Fiquem de olho. Cachimbou o cochilo cai. Não acredito muito em consciência ambiental na gente desse governo. Terão uma chance de queimar a minha língua.

Pertinente lembrar. Em 2019 (Exatos três anos) por sugestão nossa, o Vereador Thiago Malagoli, apresentou um Projeto de Lei, versando sobre a obrigatoriedade da MUNICIPALIDADE PLANTAR 10 (DEZ) ÁRVORES À CADA CORTE DE 01 (UMA) ÁRVORE.


Meu Projeto se pautava na Lei da compensação ambiental nº13.668/2018, e por 7 votos à 6, nosso Projeto foi rejeitado…. Um descalabro, um absurdo a toda prova. Mas fizemos nossa obrigação e continuaremos lutando à favor de nossa cidade e nossa população." Desabafou e prometeu o vereador.

No caso em tela seriam 2.390, novas árvores. Uma nova floresta.

Até vão jurar que vão faze esse replantio, mas ninguém vai ver, nem saber. Continuo sonhando com a aprovação da lei. 10, por 01.

Preocupações à parte. Háh, os IPÊS!.. Como se diz lá em Patos de Minas, “ Patrocínio é uma cidade de rua de uma cumprideza”. Sim, como imenso e acolhedor é o seu coração patrocinense.

Por isto, precisamos daquela harmoniosa beleza para serem apreciadas desde o céu,( por vista aérea) e na terra, por quem mais gostar de viver com olhar e o sorriso perfumados de delicadezas.

A imagem é de Maringá. Linda? Tadinho do cê! Não viu nada. EM PATROCÍNIO OS ANJOS DESCERÃO Á TERRA PARA FAZEREM SELFs. Escreva..

Tô certo, ou tô errado.


O jovem Satiro Cunha nos tempos de Patrocínio. Fotos: album de família

Uma semana depois das perdas de Gal Costa e Rolando Boldrin, na semana da partida de Erasmo Carlos, perdas significativas para a música brasileira, Patrocínio sente a partida de um grande artista na arte de comunicar, o locutor dos anos 1970: Satiro Lazaro Cunha.

Quando comecei a escrever “O Som da Memória”, que depois virou livros de crônicas, o objetivo era registrar os movimentos de minha geração que era adolescente nos anos 1970 e contar um pouco da história do rádio. E, esta, é uma que nunca contei. A convivência com Satiro Cunha que faleceu no início da semana, segunda, 21 de novembro em Brasília.

Vou contar quem era Satiro Lázaro Cunha com a reverência que ele merece.

Meu tio Deca e meu primo Martinho trabalhavam na Rádio Difusora. Eu ia quase todo dia naquele 1971 à emissora. Havia vários bons locutores na época: Jorge Antônio Coelho, José Maria Campos, Leonardo Caldeira, Assis Filho, Humberto Cortes. Entre eles tinha um de voz inconfundível. Um sujeito baixinho de voz marcante e muito “boa praça” — que era como as pessoas chamavam alguém especial.

Quando comecei a frequentar a Difusora, Satiro Cunha apresentava “A Hora do Desenvolvimento”, as 13 horas. Aos poucos — mesmo com a diferença de idade, Satiro tinha 23 anos e eu 17 —, fomos nos tornando amigos. Já tínhamos um relacionamento antes. Em 1970, quando seu sogro, seo Amador, pai da esposa Dalmina (então namorava) morreu, passamos a noite conversando. Ele e Dalmina se casaram em 1971.

Entrei na rádio como funcionário em setembro de 1971. Ainda convivi alguns meses com Satiro Cunha na rádio, pois em dezembro Satiro mudou-se com a família para Brasília. A filha Nara Fabiana Cinha conta que em dezembro de 1971, Satiro foi para Brasília para arrumar emprego e um local para morar. “Depois voltou em janeiro de 1972 para buscar a gente”, conta.

Lá, trabalhou na Rádio Alvorada, graduou-se em Direito e entrou para a Caixa Federal.

Sempre prestativo, uma vez Satiro veio passear em Patrocínio e eu solicitei que gravasse algumas vinhetas para programas da Difusora, uma vez que a voz dele era inconfundível. Uma das mais lindas e possantes que ouvi na vida. Ele ficou nada menos de cinco horas dentro do estúdio. Gravou vinhetas de toda a programação. Depois desse dia, nunca mais o vi. O que lamento muito.

Cultura. Tem que ser referenciada. E respeitada. Isso em qualquer lugar, seja cidade, país ou comunidade. No que tange a Patrocínio, município de 180 anos, vida (existência) de mais de 250 anos, o tributo cultural ainda é frágil. No intuito de demonstrar a inteligência patrocinense, é bom viajar pelo tempo. E conhecer alguns intelectuais, que se tornaram marcos culturais e históricos dessa Santa Terrinha.

NA INDEPENDÊNCIA JÁ HAVIA DESTAQUE – Em 1819, o cientista e naturalista francês Auguste de Saint Hilaire visitou a região de Patrocínio. No seu livro “Viagem às Nascentes do Rio São Francisco” descreveu a natureza e riqueza da área abrangida por Araxá, Patrocínio e Paracatu. Na viagem de Araxá para (o distrito de) Patrocínio, hospedou com a sua comitiva, na fazenda de Dâmaso José da Silva, entre onde é hoje o distrito de Salitre e Serra do Salitre. Saint Hilaire o considerou homem excelente e com nível cultural superior a todos os fazendeiros que vira. Segundo o pesquisador europeu, Dâmaso era bem informado e de pleno conhecimento. Pouco depois, em 1832-1835, liderou o Levantamento Populacional (considerado o primeiro censo de Patrocínio). Em 1842, além de juiz (ordinário), delegado e intelectual reconhecido, tornou-se um dos sete primeiros vereadores do Município. E o mais atuante. A documentação em arquivos mostra a lucidez e liderança de Dâmaso.

JUIZ DE ENORME SAPIÊNCIA – No período de 1817-1822, o médico-geólogo austríaco Johann Emanuel Pohl também esteve na região de Patrocínio. Hospedou na fazenda à beira do rio Quebra-Anzol, do juiz Xavier Matias. Pohl, diferente do que tinha visto, viu no juiz Xavier cultura e civilidade acima de seus contemporâneos. Refeições requintadas, bons vinhos da Europa, louças inglesas e talheres de prata, dentre as anormalidades daquele distante cotidiano do interior brasileiro. Inclusive no Arraial de N. S. do Patrocínio.

UM PADRE INTELECTUAL – Em dezembro de 1822 (a independência ocorrera em setembro), foi encaminhada ao Imperador representação da população regional, de impressionante beleza literária; uma obra-prima da língua portuguesa. Essa preciosidade histórica, como disse Odair de Oliveira, solicitava a criação do julgado (Juiz de Paz) de Patrocínio ao Imperador Pedro I. Dezenas de moradores de Patrocínio, Coromandel e Monte Carmelo (então, denominado Carmo) assinaram o documento. O vigário Manuel Luis da Silva Alcobaça, como sesmeiro e autor do pedido, assinou em primeiro lugar. Depois, ele pertenceu à Guarda Nacional (em Patrocínio) e casou-se.

CULTURA VENCEU A FÚRIA DO PODEROSO – Em 1853, surgiu Francisco Alves de Souza. Defensor do Direito e das Leis, leitor dos maiores pensadores (escritores) do mundo. Uma de suas fantásticas atuações, é do equacionamento do maior conflito vivido na Câmara Municipal. O delegado de Polícia, Antônio Corrêa Rangel (o segundo Rangel na história de Patrocínio), foi eleito vereador. Todos os vereadores eleitos tomaram posse, exceto o delegado Rangel. Pois, seria incompatível essa acumulação dos cargos. Rangel não aceitou não ser empossado e ameaçou a prender todos os vereadores. A Câmara funcionava no Largo do Rosário (hoje, atrás da Escola Honorato Borges), juntamente com o Juizado, no 2º andar. E a era cadeia no 1º andar. Portanto, fácil para Rangel executar a prisão. Quando o prédio estava cercado pelos policiais e simpatizantes do inquieto delegado, entra em cena a sabedoria e moderação de Francisco Alves de Souza, que consultou a Província (Estado) em Ouro Preto, sobre a questão. As autoridades provinciais recomendaram a posse de Rangel. E os vereadores, “tremendo de medo”, ainda elegeram o delegado-vereador para presidente da Câmara, e por consequência, o agente executivo (prefeito). Por isso, Rangel foi o patrocinense com maior poder até hoje (Executivo, Legislativo e policial).

CEL. RABELO TAMBÉM UM INTELECTUAL – Deputado provincial por dois mandatos no Império, Rabelo queria mais. Conseguiu ser eleito para o Senado. Todavia, o Imperador Pedro II teria que confirmar (aceitar) a eleição. Contudo, a Proclamação da República e o assassinato do juiz Elói Ottoni pelos Índios Afonsos, o impediram de conquistar o título confirmado de senador, e, desfrutar o título de barão de Patrocínio (único). Assim, foi o coronel Joaquim Antônio de Souza Rabelo, primeiro parlamentar eleito na região, de evolução mental tal como a de Francisco Alves de Souza, segundo a história.

E O DESFILE DOS INTELECTUAIS CONTINOU NO SÉCULO XX – Em 1900, Josias Batista e Leovigildo de Paula (poeta), com “O Patrocínio” (o primeiro jornal da cidade), prosseguiu a saga da inteligência. Como também, Zeca Estudante (filho de Francisco Alves), com a criação da primeira escola (futura Honorato Borges), Padre Nicolau Catalani, Padre Joaquim Tiago, Carlos Pierucetti, poetas como Massilon Machado e Augusto de Carvalho, e, maestro José Carlos da Piedade (autor de “Saudade de Matão”). Sobre eles e mais outros cultos personagens de Patrocínio numa próxima oportunidade.

FONTES – Jornalista patrocinense Odair de Oliveira, Arquivo Público Mineiro e arquivo particular deste autor.


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