“Recebe, quando recebe domina, quando domina se prepara, atira para o arco e... gooooolll!”. Essa era a característica narrativa do locutor esportivo Joaquim Assis Filho. Além de radialista, Assis Filho, como era conhecido, também atuava na política (filiado ao PFL – chegou à presidência da Câmara Municipal), em clube de serviço (membro do Lions Clube de Patrocínio), na administração pública (quando morreu era secretário de Esportes) e na polícia (era escrivão de polícia).

Era bom em tudo: político astuto, policial inteligente, orador eloquente, pai extremado, mas seu maior dom era o rádio. Não é exagero dizer que a cidade parava quando havia fatos polêmicos, especialmente os policiais, no seu programa “Comentário do Dia”, às 12 horas, “quando os ponteiros apontam para o infinito”, dizia.

Na locução esportiva tinha um estilo de narração que já não tem representantes no rádio atual, como havia Vilibaldo Alves, Doalcei Camargo, Jota Júnior, entre outros. Com voz aguda e rapidez de raciocínio, tinha o dom de prender o ouvinte pela emoção que passava (especialmente quando estava em campo o Clube Atlético Patrocinense ou o Cruzeiro).

Foi um dos grandes defensores do povo, como radialista e político. Lembro-me de brigas fortes entre ele e o prefeito Afrânio Amaral, também um político interessado em fazer o melhor. Os dois estavam no mesmo governo, mas quando em defesas de posições diferentes quase chegavam às vias de fato.

O Assis também era um sujeito bem-humorado e não perdia a esportiva, mesmo quando errava. Certa vez, num jogo amistoso entre o Patrocínio Esporte e o Atlético Mineiro, à noite, no estádio Júlio Aguiar, um lance engraçado.

Falta para o Galo. O lateral atleticano Ronaldo – cujo chute era um canhão – vai para a cobrança. A bola colocada pelo árbitro – creio ser o Jovelino – pelo lado esquerdo do ataque, contra o gol que fica para a Avenida Faria Pereira. O Frazão (Perereca) era o goleiro do Patrocínio. Eu, repórter, atrás do gol. O Ronaldo recua uns três metros, corre para a bola e pimba! A pancada faz a bola furar a rede. E o Assis Filho:
— Correu Ronaldo, bateeeu…. Para fooora!
Eu digo: “Assis, furou a rede!”
E ele, sem titubear:
— Então é... goool!

Esse lance entra para a história do folclore do nosso rádio.

Crônica integrante do meu quinto livro — segundo da série — "O Som da Memória, A Volta", lançamento previsto para este mês de dezembro de 2023.



Patrocínio, ano: 1962: Igreja de Santa Luzia e gruta de N.S. do Patrocínio, na praça Matriz 
Fotos: acervo Rede Hoje


Outrora. Patrocínio era assim. Já foi assim. Há 58 anos parece que foi ontem. Um pouco da cidade em 1965 é um afável conhecimento. O Município com 33.000 habitantes. A prefeitura comandada pela dupla do PSD, Mário Alves do Nascimento e Dr. Amir Amaral. E a Câmara Municipal sob a presidência do advogado Hélio Furtado de Oliveira. Prefeitura e Câmara no casarão da Praça da Matriz (praça Monsenhor Thiago). Nessa bela edificação, que lá está, aconteciam fatos incríveis, fantásticos e extraordinários para a atualidade. Vereadores não eram remunerados, prefeito e vice-prefeito (eleitos separadamente; não havia “chapas”) tiravam recursos do bolso para ajudar a Prefeitura pagar as suas contas. E mais, os vinte maiores sucessos musicais de 1965. A colunista de rádio e música Terezinha França fazia sucesso. Lances do CAP naquele ano. Cenas do comércio, sobretudo no Natal.

DISCOS DO MOMENTO – No bom “Jornal do Comércio” (editado por Leonardo Caldeira, tendo como redator Dr. Vicente Arantes), a bonita jovem Terezinha França, em sua coluna sobre rádio e discos, anunciava os lançamentos musicais (discos em LP, 78 rotações) de Bob Sollo, Alain Barriére e Nico Fidenco. Orquestra de Billy Vaughn, Os Velhinhos Transviados e o menino-cantor Joselito (cantando Granada e La Paloma) também eram destaques na Joalheria França (Praça Honorato Borges, ao lado do Cine Rosário).

CIDADE VERDE E TEMPERADA – O “Jornal do Comércio” (18/7/1965) em seu editorial assim expressou: ... “cidade progressista, bem iluminada, quase toda calçada, e, para maior beleza, arborizada em todos os setores, desde a Praça da Matriz até o Alto da Estação (ferroviária) ”... “Tem também a Churrascaria Alvorada (Rua Pres. Vargas), Associação dos Bancários e Funcionários (ex-Clube Itamaraty, Praça Santa Luzia), CAP no melhor estádio da região (Júlio Aguiar), Estância Serra Negra e o seu Hotel, usados por turistas de todo o Brasil, e, grandes noitadas com o moderníssimo conjunto Magnatas do Ritmo”.

CAP CAMPEÃO EM PATOS DE MINAS – O alvinegro patrocinense (ainda não era grená) era a coqueluche. CAP venceu o Mamoré, Tupi e URT, num quadrangular. Na final, numa “melhor de três” de CAP e URT, o placar mostrou 2 a 2 (em Patos de Minas), 3x1 no Júlio Aguiar e vitória de 4x2 (novamente, em Patos). O histórico (e quase ninguém sabe), no primeiro jogo do torneio, o CAP (chamado de Atlético) derrotou o Tupi por 2 a 0, mas no segundo tempo os 22 jogadores (todos) foram expulsos. CAP do tempo de Luiz Silva (zagueiro), Edward (o craque), Gulinha, Paturé, Ninico (grande goleiro), Anedino e Sabino.


Patrocínio, rodoviária e Correios, ano: 1962.

RÁDIO – Intercâmbio entre Patrocínio e Patos nos microfones. Assis Filho passou, em 1965, a ser o narrador principal da Difusora e Clube, ao mesmo tempo. Edson Pinheiro (patense) e Leonardo Caldeira comentavam nas duas maiores emissoras do Alto Paranaíba. Em julho, o clássico CAPxURT deixou de ser transmitido pelas duas rádios, por falta de energia elétrica da Cemig. Informações da coluna de Terezinha França, que também divulgou que Joaquim França (o seu pai) e Plínio Alves (gerente da Joalheria) solicitaram à CBS (gravadora) mais discos (em vinil) de Roberto, Erasmo e Wanderléia. A procura pelos sucessos da Jovem Guarda era intensa. Os discos chegavam e, logo, eram vendidos.

PARADA MUSICAL/1965 DE PATROCÍNIO – Com a juventude patrocinense, os vinte maiores sucessos foram uma mistura da Jovem Guarda e do hit internacional. “La Bamba” e “Perfídia” com Trini Lopez. “Se Piangi Se Ridi” (Bob Sollo) e “A Casa d’Irene” (Nico Fidenco). “Professor Apaixonado” interpretado por Nilton César. “Twist and Shout” com os mitos The Beatles. O rei Roberto Carlos liderava a parada com oito sucessos: “Calhambeque”, “História de um Homem Mau, “Aquele Beijo que te Dei”, “Minha História de Amor”, “Brucutú”, “Não Quero Ver Você Triste” e “Garota do Baile”. Já Erasmo Carlos cantava dois grandes êxitos da dupla: “Festa de Arromba” e “Minha Fama de Mau”. Wanderley Cardoso com “Presta Atenção” e Jerry Adriani com “Querida” também estavam no desfile musical de 1965, em PTC. E três conjuntos completavam a lista das “vinte mais”. Trio Esperança (Festa do Bolinha), The Animals com “Casa do Sol Nascente” e The Golden Boys (Ai de Mim). Além desses vinte sucessos, ainda se encontravam na Parada, John Foster (Amor Scusame), Os Incríveis (Cavalgada), Giani (Dominique) e outros sucessos de Roberto e Beatles (Fonte: Revista do Natal, pág. 29).


Patrocínio, 1 de maio de 1962. No sentido horário: Cine Patrocínio, comércio na Pça Santa Luzia e políticos (Enéas Aguiar, João Elias — Deca, radialista no segundo plano —, o vice prefeito Ditinho e outros)

COMÉRCIO INESQUECÍVEL – “Bar Itapoã” dos irmãos Antônio, José e Manoel Ferreira, na Praça Honorato Borges. “Ponto Lotérico” de José Luiz Avatar (a lenda Tatá, pai do atual vice-presidente do CAP) à Rua Cel. João Cândido, junto à “Principal’ (calçados), quase Rua Gov. Valadares. “Caixa Econômica do Estado de Minas Gerais”, sob a gerência de Benedito Romão de Melo. “Patrocínio Hotel”, de Almério de Brito, à Rua Cel. João Cândido esquina com a Rua Cassimiro Santos. Auto Pinturas Machado, “o homem que pintou o céu de azul”. “Eletro Baterias” de Nadir Rodrigues. “Café Constante”, o “Pelé dos Cafés”, na Rui Barbosa, 638. “Gráfica Pinheiros” (do “Tampinha”) à Rua Major Tobias, 413, Fone: 4.5.3.

MAIS GENTE FAMOSA... – José Papa e o seu Escritório Contábil, à Av. Rui Barbosa. Oficina João Cornélio, o “Martelo de Ouro”, na Rua Presidente Vargas. Sesostres Pedro de Alcântara (Praça Honorato Borges), “comprador e vendedor de queijos”. Sociedade de Medicina e Cirurgia de Patrocínio anunciava nova diretoria para 1966: Dr. José Queiroz (diretor), Dr. Sebastião Machado (vice-diretor), Dr. José Figueiredo (secretário), Dr. Walter Pereira Nunes (bibliotecário), Dr. Gustavo Machado (tesoureiro) e Dr. Michel Wadhy (orador). A diretoria que finalizava o mandato era liderada por Dr. Latif Wadhy. Na Praça Santa Luzia, Elmiro Silva, Amâncio Silva e Irinaldo, “agrimensores ao seu dispor”. Dr. Napoleão e Dr. Unias Silva (parece, hoje falecidos), formavam o consórcio de advocacia, à Rua Presidente Vargas. E Severino Gonçalves, o representante Brahma Chopp (chopp e cerveja).


Estudantes da Escola Normal, última semana de abril de 1962. 

ENFIM – Esse é mais um saudoso retrato, em preto e branco, na parede de cada casa da saudade de (nossa) querida cidade. A imagem é de 1965.


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